A moda
e... a política
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Em
1930 — ano a que se reporta esta história — Cacia era uma terra pacata e
pobre de indústria, vivendo da lavoura e pouco mais.
Havia,
ao tempo, uma forçada poupança: o caldo e a boroa eram o prato forte das mesas
pobres e, porque não dizer, até de alguns um pouco menos que pobres.
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Quanto
a calçado e roupas, tá bem tá, iam até ao último: remendos a aguentar gáspeas
puídas e chapões no rabo das calças! Ainda me lembro — até porque ainda
conservo alguns — dos «tapetes» e «sacas» que a minha mãe fazia dos
bocados de pano velho, emendados uns aos outros, de cores variadas,
guerreando-se em inestéticos xadrezes.
Das
ourelas e restos do corte, inaproveitáveis para outros derivativos mais úteis,
faziam-se tiras e com elas as pesadonas «cobertas», tão pesadas como ásperas,
com que nos aconchegávamos no Inverno.
Era
assim — sem saudades o digo.
Minha
mãe vivia da costura. Era a «modista» mais procurada da época, fosse porque
tivesse bom corte, fosse até porque era poupada na fazenda. A ela recorriam com
muita frequência as cachopas (e as velhas também...) desse tempo.
Aconteceu
— e aqui está a razão desta história — que uma freguesa mandou fazer um
chambre (espécie de blusa), mas o pano era curto, pois a rapariga era farta de
peitos e económica de dinheiros. Minha mãe deu volta ao pano, deu mil voltas
vi eu, ao comprido e de través, mas nada — faltava-lhe sempre uma nesga,
fosse para as mangas, fosse para as golas; e vai daí — chapa-lhe no peito,
como enfeite plissado, uma tira de pano vermelho (dizia-se ao tempo encarnado)
que tinha sobrado de outra obra. O vermelho, aliás o encarnado, combinou bem
com o azul da fazenda e a freguesa gostou imenso do arranjo.
Na
romaria da Senhora das Dores (ainda hoje não sei por que razão esta Santa
tinha tantas jovens devotas...) foi o chambre apalpado, mexido e apreciado —
e muito elogiado pelas cachopas das suas relações (e não só!)
Minha
mãe, qual Cristian-Dior-de-aldeia viu-se inquietada, não tinha mãos a medir.
—
Ti Laurinda, eu quero um chambre como o da Maria.
E
assim nasceu uma moda.
Contei
este passo, da vida da aldeia em 1930, porque pressinto que o «pacote 2» e
seus complementos podem encurtar certas fazendas e... quem sabe, obrigar a
inventar algumas modas furta-cores, já que o vermelho agora parece não
combinar lá muito bem com o azul...
Outubro - 1977
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