VOZES SEM
ECO...
ou A LENTA
AGONIA DA AGRICULTURA DO BAIXO-VOUGA
Sínteses
respigadas de algumas notícias e de posições assumidas por
personalidades de Aveiro (de 1976 a 1996).
REMO TERÁ PISTA
NO RIO NOVO DO PRÍNCIPE
“Convocada pelo
Governo Civil teve lugar, ontem, a primeira reunião de trabalho da
Comissão designada para promover a realização de estudos concretos
para a beneficiação da actual pista de remo no Rio Novo do
Príncipe, em Cada, após “luz verde” dada aquando da visita do
secretário de Estado da Juventude e Desportos a Aveiro, Dr.
Joaquim de Sousa.
A Comissão é
coordenada pelo governador civil, e engloba representantes da
Secretaria de Estado da Juventude e Desportos e do Ambiente, da
Federação Portuguesa de Remo, da Câmara Municipal, da Capitania
do Porto, da Junta Autónoma, da Portucel e do Clube dos Galitos.
(...) Assim, e
numa primeira fase de execução a curto prazo, pretende-se a
realização de trabalhos de beneficiação da actual pista.
A segunda fase,
muito mais complexa, prender-se-á com o traçado da estrada Aveiro-Murtosa (...)
A criação de
seis pistas de competição e duas de retorno é um dos objectivos
que se preconiza para a segunda fase dos trabalhos, que incluirão
a definição dos respectivos acessos.”
Miguel Carruço
(NJ – 25-03-1977)
Nota: sete
anos mais tarde (7/7/1984), o Ministro da Agricultura deu posse
aos membros do Gabinete de Estudos do “Projecto Integrado do
Desenvolvimento do Baixo Vouga”. Formavam esse Gabinete
representantes dos Ministérios de Administração Interna,
Agricultura, Florestas, Alimentação, Indústria, Comércio e
Turismo, Equipamento Social, Qualidade de Vida, do Mar, etc.
AS INCIDÊNCIAS
DA ESTRADA AVEIRO-MURTOSA
(...)
computam-se já em algumas centenas de hectares os terrenos que vêm
sendo abandonados ao cultivo por falta de protecção eficaz contra
as águas salgadas. (...)
Neste contexto,
a construção da estrada-dique Aveiro-Murtosa, cujo estudo
técnico-económico foi cometido pelo extinto Ministério das Obras
Públicas à Organização de Consultores (O.C.), surge-nos como uma
das estruturas indispensáveis ao restabelecimento do equilíbrio
natural, posto em causa pelas obras realizadas na Barra de Aveiro,
permitindo substituir a multiplicidade dos actuais órgãos de
defesa dos campos, de conservação sempre difícil e onerosa e de
eficácia duvidosa — as antigas motas que marginam a zona lagunar —
por um dique, equipado de comportas móveis, que possibilite
controlar o avanço das águas salgadas para montante, por forma a
impedir a degradação e o abandono dos campos de cultura ali
existentes.!..
Eng.º Agr.
Carlos Maia (“Vida Rural”, 1980)
A ÁGUA
SALGADA...
“O
desenvolvimento do porto de Aveiro, por exemplo, não poderá ser
feito à custa dos melhores terrenos de aluvião daquela imensa
área, provocando a entrada de maiores quantidades de água salgada
naqueles, assim como a poluição das indústrias. Isto é que é
preciso fazer chegar ao conhecimento do Governo.”
Dr. Jaime
Machado (Agrovouga/1980 - NJ - 25/10/1980)
O SALITRE MATA
“Trabalhos que
têm sido elaborados, nos últimos anos, evidenciam que um dos
grandes factores negativos do Baixo Vouga é o alagamento por
salitre.”
Daniel
Rodrigues (NJ - 25/10/1980)
PROMESSAS...
“O Governo (o
IV) prometeu elaborar o projecto de uma barragem definitiva neste
local (barreira de Vilarinho) até ao fim do corrente ano (1979).”
Miguel Carruço
(NJ -25/10/1979)
COMENTÁRIO
Ao “Colóquio
sobre o Baixo Vouga” realizado em 15/12/1980 no Salão Municipal.
(...)
O problema
pode, pois, resumir-se assim: o dique-estrada Avelro-Murtosa
resolve o problema da variante à E.N. 109, e dos acessos ao porto
de Aveiro e, simultaneamente, faz a defesa dos campos do
Baixo-Vouga da invasão das águas salgadas. Sem dique-estrada,
teremos as alternativas já referidas, que, sem apresentarem
nenhuma vantagem sobre o dique-estrada, custarão, certamente,
bastante mais.
Por que se
espera pois? Será que o bom-senso ainda anda arredio deste País?”
Eng.º Cunha
Amaral (NJ – 25-01-1981)
A ESTRADA-DIQUE
AVEIRO-MURTOSA
(...) Desde há
uns anos a esta parte que insistentemente se fala na problemática
“Baixo Vouga”.
Creio supor que
o problema começou a ser equacionado com a célebre estrada-dique
Aveiro-Murtosa, cuja construção tinha a finalidade dupla de evitar
o refluxo de águas com elevado teor de cloreto de sódio e
provocar o descongestionamento da actual rodovia sentido Norte.
Colocado na
prateleira este plano, sabe Deus até quando, parece estar agora na
“ordem-do-dia” a construção de uma barragem em Ribeiradio com o
sentido de regularizar as águas do Vouga. (...)
Todos estes
factores têm provocado a longo prazo um desinteresse crescente
pela cultura (dos campos), optando-se pela resolução mais simples
e fácil — o abandono.”
Eng.º Agr.
Viana de Lemos (NJ -25/12/1976)
A ALMEJADA
ESTRADA AVEIRO-MURTOSA
“(...) com o
arranque que se acaba de verificar na construção do novo Porto de
Aveiro, os problemas inerentes à salinização dos campos serão
potenciados a partir de 1983. A intervenção a efectuar com
urgência consistirá no alargamento do Rio Novo do Príncipe (a
partir da margem Norte) aproveitando os materiais resultantes de
tal tarefa para levantar uma robusta e larga mota até à boca do Laranjo. Simultaneamente, no Rio Novo do Príncipe e no Laranjo,
seriam construídas duas comportas (...) dando continuidade através
dos tabuleiros superiores à mota construída e que poderia ser
encabeçada por caminho capaz de servir toda a actividade agrícola
que rapidamente se desenvolverá.
Só depois de se
ter este sistema a funcionar !...! é que se poderá começar a
pensar na almejada estrada Aveiro-Murtosa.” (...)
Comandante
Faria dos Santos (NJ - 25/10/1981)
“— Julgo que a
minha entrada para o Governo, e especialmente para o Ministério da
Agricultura, Comércio e Pescas, veio reforçar e viabilizar a
minha luta pelo Balxo-Vouga.” (...)
Comandante
Faria dos Santos (CP - 7/5/1982)
O PROBLEMA DA
ESTRADA DIQUE
“O problema da
estrada-dique Aveiro-Murtosa, tão proclamada e discutida desde há
décadas, continua a ser doloroso espinho, principalmente para os
murtoseiros e gentes do Baixo-Vouga.
Se a estrada
Aveiro-Murtosa dependesse de mim, já estava feita!
Pe. António -
Pres. Câmara Murtosa - (CP. 7/5/1982)
NUM RELATÓRIO
DA F.A.O.
“Lemos há
tempos num relatório da F.A.O. que o Vale do Vouga e Águeda
seriam capazes de produzir os milhos e forragens em falta ao País.
Bastava para tanto que fossem regularizadas as bacias
hidrográficas do Águeda, MarneI, Cértima, Vouga e Baixo Vouga.
(...)
Eng.º Coutinho
de Lima (S.P. - 1983)
SITUAÇÃO
CALAMITOSA
“Tendo como
principal finalidade ver com os seus próprios olhos a situação
calamitosa a que se deixou chegar os ricos e férteis campos do Baixo-Vouga, esteve entre nós o Subsecretário de Estado da
Agricultura.” (...)
(C.M. -
Abril/1982)
“Mas o que é
certo é que quem continua a curar, por exemplo, da hIdráulica do
nosso Vouga é a hidráulica do Mondego.
E para bom
entendedor meia palavra basta.
Antes que
tenhamos de pôr as barbas de molho, o melhor é mesmo começar a
tocar a rebate.”
Gaspar Albino (C.V. – 28-02-1996)
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BIBLIOGRAFIA
Guia de
Portugal; Grande Enciclopédia Portuguesa Brasileira; “O Nosso
Jornal” (NJ); Cacia e o Baixo-Vouga (1984); Calendário Histórico
de Aveiro (1986) e Origens da Ria de Aveiro (1987); “Soberania do
Povo” (S.P.) e Boletim Municipal n.º 4/1984; “Correio do Vouga” (CV);
C. Porto (CP); O Concelho da Murtosa (C.M.).
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