Um
Núcleo de
Arqueologia
em Aveiro
A
notícia da criação de um NÚCLEO DE ARQUEOLOGIA em Aveiro
(vd. “Diário de Aveiro” de 28/8/2002) não pode deixar
de abrir novas perspectivas ao desenvolvimento da Cultura da
comunidade aveirense.
Cacia,
que foi há 2000 anos -
antes da formação da Ria -
uma povoação onde os romanos construíram um oppidum, tem
merecido muitas referências quanto à sua preponderante influência
na vida marítima de então, quando por aqui ancoravam as velas
romanas, que carreavam para Roma o chumbo das Minas do Braçal e
tudo o mais que servisse para animar a vida do Império.
Em
Cacia ficaram sinais evidentes da sua permanência. A esses sinais
se referiram vários historiadores aveirenses: Marques Gomes,
Rocha Madail, ... e, de maneira notável, o saudoso Dr. Alberto
Souto, ao deixar um bom relato no seu livro «A Estação Arqueológica
de Cacia» (1930).
Este
ilustre aveirense, em 1929, fez uma interessante recolha de «coisas»
relacionadas com os romanos: imbrices, tegulae, ossos de caça,
cacos de cerâmica doméstica, colos de ânforas, cascas de
moluscos, pedrinhas vidradas de adornos femininos, etc., que
cautelosamente guardou no Museu de Aveiro.
Naquele
seu livro, Alberto Souto não dá por acabado o trabalho de
investigação, pois diz: «O estudo sobre o assunto está apenas
no começo. Este opúsculo é a sua introdução.»
Mas
daí para cá, e por morte dele, nada mais se fez digno de relevo,
embora a arca da História, nesse campo, tenha muita coisa ainda
por explorar e analisar. No que toca a Cacia, dou alguns exemplos:
1)
– Há um lendário sítio em Vilarinho -
a Cova da Moura -
que refere uma furna habitável e ainda visível no princípio do
séc. XX, conforme testemunhos deixados oralmente a pessoas ainda
vivas;
2)
– Um montão de pedras graníticas retiradas das paredes da
Igreja, quando nelas se abriram dois nichos para a acomodação de
duas imagens de grande valor escultórico. Estas pedras comprovam
ter sido a Igreja construída com os materiais da arruinada e
desaparecida fortaleza romana;
3)
– O madeirame encontrado aquando da abertura de poços. Eu próprio
guardo duas achas, quase carvão petrificado, recolhidas na
construção de um poço no Chão do João, a uma profundidade de
sete metros, num terreno virgem, apenas arroteado pelo agricultor.
Dei notícia deste achado nos jornais, mas até agora não
despertou curiosidade. O que para mim é enigmático é o facto de
uma das achas apresentar um golpe feito por objecto cortante;
4)
– A descoberta, há dois anos, de um muro de xisto, quando se
procedia à vedação (lado norte) do cemitério. Este achado
ficou assinalado debaixo do muro novo;
5)
– As escavações arqueológicas, feitas há dois anos por
empresa da especialidade, pôs à vista as maiores construções
até agora descobertas no sítio da Torre: pedra granítica,
alguma até trabalhada pelo cinzel, em tudo igual à romana
referida em 2). Estas escavações, antes de estarem alagadas,
foram visitadas por todas as escolas primárias da freguesia. Mas
que estudos se fizeram?
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Visita
dos alunos da Escola de Sarrazola às escavações arqueológicas
efectuadas no sítio da Torre, no ano lectivo de 2000/2001. |
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Face
a estes relaxes, o ex-Vereador da Cultura, Jaime Borges, deixou,
no prefácio do livro «Carta geológica do concelho de Aveiro»
(2001), um incentivo: «Lançamos o desafio (...) no sentido de se
avançarem com novas investigações (...)»
Agora
surge, finalmente, uma notícia consoladora: o actual Vereador de
Cultura, o Dr. Manuel Rodrigues, giza um claro propósito quando
diz: «desbravar, em termos de conhecimento do passado, tudo o que
se passa na região (...) visitando alguns locais de interesse
arqueológico (...) imitando instituições como o Exército e a
Igreja, que preservam minuciosamente o seu passado».
Saber
quem somos implica saber donde vimos.
Oxalá
esta atitude camarária tenha o êxito que todos desejamos.
Cacia,
29 de Agosto de 2002.
Bartolomeu
Conde
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