(Convívio no Solar de D. Crespo
Marujo)
O convite assinado por esse besteiro Ricardo Barbatesa, na sua
picaresca linguagem de cavalariça, teria sido logo lançado para
qualquer cesto de levar favas às muares, não fora a pronta reacção
de D. Bártholo que o despediu sem-mais-aquela, isto é, sem a
costumada indemnização (nem sequer o complemento de reforma...),
atitude que, por ser nobre, deixou profundamente sensibilizada toda
a fidalguia.
Foi, por isso, com grande satisfação
que comparecemos ao convívio, melhor dizendo, uma autêntica
cimeira aristocrático-cagareana!, não só para ouvir D. Bártholo como também
para espevitar o
fogo da nossa amizade, um tanto perturbada pelas mensagens atrevidas
desse boçal Barbatesa.
Enfim!...
À volta de uma mesa bem recheada
de aperitivos, D. Bártholo, grave e de pé, falou assim:
«As
minhas primeiras palavras são de saudação a tão nobres
convidados; mas o meu intento na convocação desta magna reunião
resume-se numa proposta: editar em livro, para enriquecimento da
“Torre dos Tombos” históricos nacionais, as intervenções que
fizemos em “O NOSSO JORNAL” sobre a simbologia dos nossos brasões.
Nos séculos futuros, os nossos historiadores verificarão, com
espanto, que nesta res-pública nem todos abdicaram de lutar contra
o laico-republicanismo reinante, numa vigorosa demonstração de
lealdade à “Causa Monárquica!”».
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Todos bateram palmas e D. Bártholo,
comovido e de lágrima no olho (são 80 anos!), de copo na mão
tremelicante, saudou todos os convidados e, num assomo de humildade,
— cativante gesto de gentil-homem! — lamentou-se de algumas
vezes, no calor da refrega, ter pisado as normas da elegância que
devem sempre caracterizar as relações entre aristocratas.
O Vice- Rei D. Almeyda y Ruas,
Duque de Pena Alva, sem descurar os seus arroubos poéticos, não só
apoiou a iniciativa proposta por D. Bártholo, como atestou, —
veementemente! — as suas raízes históricas a perderem-se no currículo
dos vândalos que debandaram a Ibéria à cata das ninfas mouriscas.
O Duque de Verride, D. Maputo,
secundando a posição do orador antecedente, afirmou, com as mãos
sobre o Al-Corão, perdão, sobre o violão, que é o integérrimo
descendente dos Verride.
O Rei-dos-Dias, ostentando sempre a
sua imponência de ex-director de “O NOSSO JORNAL”,
desbarretou-se em vénias de total concordância com os oradores.
Jeremias Bandarra e o poeta-maçon
D. Ezequiel, sorriam-se de satisfação.
D. Branca de Pinho, atrevidamente
decotada, bela como nunca, estava entretida num descarado e
provocante assédio a D. Bártholo, a quem pendurou no peito uma
vistosa condecoração.
D. Moraes Sarmento, pondo de parte
as costumadas etiquetas protocolares, ficou estaticamente abismado
pela sedutora e aromática beleza de D. Branca, em completo
ensimesmamento! Estava verdadeiramente apaixonado!...
E finalmente —
a “dolorosa”! Foi então que o Vice- Rei D. Almeyda,
cofiando o queixo à falta de barbas, num gesto que ficará nos
anais da realeza penalvense, puxou da bolsa de coiro, e sem dar
ouvidos às reclamações dos beneficiados ,pagou o jantar... e até
deu gorjeta!
Calou fundo esta generosa dádiva,
gesto e atitude que, só por si, demonstra a sua grandeza de alma!
Depois de calorosas despedidas saímos
do solar de D. Crespo a passo-de-ganso e na melhor disposição de
continuarmos a manter a nossa velha Amizade.
E por agora...ponto e vírgula, que
a Vida não acabou hoje.
Solar
de D. Crespo Marujo
Cacia, 28 de Abril de 2000
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