2 – Discursos
a) – Alocução do
Reitor, proferida à sacada principal do edifício.
Estudantes do Liceu
de Aveiro!
Duas palavras
apenas, porque o momento, de pura alegria e regozijo, é mais para obras,
é mais para abraços e exclamações festivas.
Obrigado, rapazes!
Muito obrigado, por haverdes acorrido, em tão grande número, ao apelo da
Comissão Executiva do 1.º centenário do nosso Liceu! É que esta festa só
é grande, precisamente, pela Vossa presença em Aveiro nestes dias
memoráveis e, em especial, junto e dentro deste edifício de 91 anos)
aonde, depois de mendigar guarida a casas impróprias para o seu
funcionamento, veio em 1860 acolher-se o Liceu, criancinha que então
apenas contava nove anos e hoje ostenta as honrosas credenciais dos cem.
Cem anos, cheios de vigor, tem esta gloriosa instituição da capital do
Distrito de Aveiro, à qual tanto devemos do que somos e do que valemos.
Obrigado, rapazes de
há 65, de há 50, de há 40 anos! Obrigado, rapazes e raparigas de há 30,
de há vinte, de há dez, de há cinco, de há dois anos!
Muitos de vós, os
mais antigos, já quase não encontrareis, do vosso tempo, senão as
paredes mestras do edifício que
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frequentastes, do edifício onde formastes o vosso espírito de
portugueses e onde vos começastes a preparar para vencer as dificuldades
e responsabilidades da vida prática. Para muitos dos que me escutais, já
nem mestres, já nem empregados, já nem sequer existem as salas onde
destes lições ou onde vos submetestes às torturas dos exames. Quase tudo
desapareceu para grande número dos que neste lugar se encontram. Mas, se
quase tudo desapareceu, não desaparecemos nós, felizmente, para recordar
o aspecto interior do edifício do nosso tempo e para evocar os mortos,
envolvendo-os no manto da nossa imperecível saudade! Graças a ela, aqui
voltamos a ver, como então, pelo dom inestimável da memória, os nossos
professores, os nossos condiscípulos, companheiros de trabalho e
travessuras, os contínuos que nos aturaram os desmandos e irreverências
– o velho Zé Pardal e o Sousa Maia –, os empregados da secretaria que
nos matricularam e nos passaram as certidões e as cartas com que
transitámos a outros liceus ou ascendemos aos Cursos Superiores, quando
imediatamente nos não lançámos na vida prática.
Quero ser, como vós,
nesta ocasião, simples antigo aluno, que aqui se vos junta para esta
jornada saudosa. Peço-vos que como tal me olheis, especialmente. Porque,
se também sou professor e também, por acaso, reitor, esta qualidade só
quero invocá-la para momentaneamente ligar o nosso presente ao passado
de cada um de nós – mesmo ao passado dos primeiros alunos, e dos outros,
e dos outros, até agora. Que cada um de vós, e eu mesmo, suponha
encarnado em mim o seu reitor.
Estou aqui, por
momentos, para, em nome de cada um deles, vos receber e saudar.
Na minha humilde
pessoa suponde, portanto, representados todos os reitores desaparecidos,
que, se pudessem ressuscitar, aqui vos receberiam, nestes dias
inolvidáveis das comemorações centenárias do nosso Liceu, para vos
abraçar, como eu abraço todos quantos por aqui passaram desde 1916 até
hoje.
É, pois, com o
pensamento neles que eu comovidamente vos saúdo e vos dou as
boas-vindas, rapazes e raparigas do Liceu de Aveiro!
Sede bem-vindos!
Antes de nos dirigirmos para o salão nobre da Câmara Municipal, onde o
Sr. Presidente Dr. Álvaro Sampaio, ilustre professor deste Liceu, nos
saudará em nome da cidade, entrai por momentos nesta vossa casa.
Prestar-lhe-eis assim, simbolicamente, a homenagem que lhe deveis como
bons filhos.
Os antigos alunos
em frente do Liceu, na altura em que os saudava o Reitor.
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E agora, para
terminar, gritai comigo:
– Viva o nosso
Liceu!
– Viva o Liceu de
Aveiro!
– Viva a cidade de
Aveiro!
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