CRÓNICA
Mexilhão e ovos moles...
O chefe
da Redacção disse-me que escrevesse uma pequenina crónica, para abrir
esta página de «Magazine», com um assunto sobre Aveiro. E lembrei-me,
então, dum pequeno episódio de há uns vinte anos, quando trabalhava num
diário da tarde.
Nunca
tinha ido a Aveiro, e tive de escrever uma pequena local a propósito de
qualquer acontecimento relacionado com uma evocação de José Estêvão de
Magalhães. E para falar de Aveiro pedi a um colega, que tinha fama de
enciclopédico, e dizia conhecer todas as terras do país, que me desse
duas impressões de Aveiro.
− Olha, é
a terra do mexilhão e dos ovos moles − disse-me ele, a sorrir.
Fiquei a
olhá-lo, desapontado.
− Não
duvides − insistiu. − A gente quando chega à estação só ouve apregoar
«mexilhão e ovos moles». Entra-se num café ou outro estabelecimento, e
lá estão os «mexilhões e os ovos moles». E se falares com alguém de
Aveiro, não deixa de te falar nos «mexilhões e ovos moles...»
Evidentemente, não era esse o tema que eu procurava. E só mais tarde,
quando tive o prazer de passar por Aveiro e de me demorar alguns dias, é
que avaliei quanto era de idiota esse meu camarada, com a sua
interpretação ridícula.
Por
certo, são saborosos os mexilhões de Aveiro e deliciosos os seus ovos
moles. Mas Aveiro vale infinitamente mais, e por outros variadíssimos
motivos merece ser conhecida.
O encanto
da cidade dos canais e das suas salinas numa noite de luar é um
deslumbramento. São lindas as suas tricanas, realizando um dos mais
formosos tipos da mulher portuguesa. E as paisagens do Vouga, do Luso e
do Buçaco, e o encanto marítimo do litoral, com as tradições pitorescos
das vilas piscatórias de Ovar, Ílhavo e Vagos, constituem atractivos
turísticos entre o melhor do país.
Mexilhão
e ovos moles... são apenas aperitivos, em relação às mil coisas
saborosas que se podem apreciar, depois, em toda a riquíssima região de
Aveiro.
João
Ninguém
A
reaparição do «Verde-gaio»
Revista
“Turismo” regista o sucesso da reaparição do grupo de bailados
portugueses «Verde-gaio» em São Carlos, onde mais uma vez se evidenciou
o artista português Francis e a sua «partenaire» Ruth.
Não
faltam motivos folclóricos para enriquecer o bailado português, e
Francis tem feito a mais completa demonstração.
Resta,
apenas, que esses espectáculos se tornem mais acessíveis ao povo.
Centenário de Teófilo Braga
Vão
fazer-se comemorações de carácter literário a propósito do centenário do
nascimento de Teófilo Braga.
Merece-as, absolutamente, a memória do homem que mais trabalhou para a
História da Literatura Portuguesa, com fervoroso desinteressado e sadio
nacionalismo.
A obra
que deixou − com todos os erros que lhe queiram apontar − é monumental.
O
homem de amanhã
Fala-se,
para depois da guerra, num mundo novo.
Mundo
novo, com o homem velho?
Pode ser
possível o milagre da renovação do indivíduo?
Entretanto, sabemos que F. Charmes escreveu, com razão, o seguinte.
«O homem,
digam o que disserem, pouco mudou. Criou para uso próprio instrumentos
admiráveis, e com eles sondou e mediu o universo. Atravessa os
continentes e o mar, o próprio ar, num movimento rápido e seguro, que
apenas é excedido por aquele que soube dar ao pensamento e à palavra
através do espaço. Mas se o virmos tal qual é, se o isolarmos no meio de
todas as suas máquinas engenhosas e potentes, voltaremos a encontrá-lo
tão pusilânime, tão intranquilo, tão agitado, tão devorado por desejos
insaciados como os antigos moralistas no-lo pintaram. As misérias, os
tormentos, os receios, as aspirações, as decepções que sofre, são as
mesmas.
Há aqui
um pouco de exagero. Mas alguns traços do retrato estão certos e não
carecem de retoque...
Acerca
da modéstia
Segundo
Pope, a falta de modéstia é falta de senso comum,
Ainda
segundo Demandes, a modéstia é a cidadela da beleza e dá virtude.
Commerson
afirma: a modéstia é a parca do talento.
Plauto
diz-nos ainda: A modéstia é um ornamento que fica bem ao jovem.
− Nas
mulheres, a modéstia tem grandes vantagens, aumenta a beleza e serve de
véu à fealdade − escreveu Fontenelle.
Definições sobre a dança…
CeIt, com
certeza, não gostava de dançar. Foi ele que definiu a dança deste modo:
«Um sistema de contorções inventado por S. Vito, e aperfeiçoado na
América. Exercício popular usado por aqueles que querem apertar nos
braços alguém de outro sexo, e que não se atrevem a fazê-lo doutro modo.
Cinco
coisas agradáveis
Segundo
afirmava Afonso de Aragon, agradáveis são cinco coisas:
Lenha
seca para queimar, cavalo velho para montar, vinho velho para beber,
amigos velhos para conversar, e livros antigos para ler.
QUADRA
POPULAR
Morrer e
ressuscitar,
Só Deus é
que teve a dita.
Tu
morreste para mim...
Quem
morre não ressuscita.
|