DE distritos como o de Aveiro nunca
está dito tudo. São tantos e tão variados os seus problemas, tão
justificada a ânsia de progresso que une, nas mesmas aspirações, os
povos concelhios e os seus dirigentes, que surge sempre um novo aspecto
quando consultamos e ouvimos as individualidades que estão à frente dos
altos cargos orientadores e administrativos. Entre essas
individualidades de Aveiro, ocupa lugar de destaque o ilustre Governador
Civil do Distrito, Sr. Dr. José de Almeida Azevedo, não só pelas
funções do seu alto cargo, mas também pelos dotes de carácter,
inteligência e energia, pelo bom senso que imprime a toda a acção de
comando, cujos efeitos se sentem em medidas benéficas, sem quaisquer
atritos ou incidentes.
Não é tarefa das mais fáceis − porque
requer excepcionais qualidades − essa de harmonizar a decisão enérgica
que promove a pronta execução de medidas, iniciativas e melhoramentos
para o bem comum, com os meios suaves e conciliadores.
Muitas vezes, a complexidade dos
assuntos administrativos e a simultaneidade de problemas, onde se chocam
divergentes interesses regionais, acabam por cansar a serenidade e
esgotar a paciência dos melhores magistrados.
Mas todas estas dificuldades o Sr. Dr.
José de Almeida Azevedo tem sabido vencer, servindo os altos interesses
políticos e administrativos do Distrito de Aveiro, mercê das suas
superiores qualidades. A melhor prova do que afirmamos está na
circunstância de, há bastante tempo, se ter conservado no seu elevado
cargo de Governador Civil.
De resto, essas mesmas qualidades de
inteligência, disciplina e trabalho o Sr. Dr. José de Almeida Azevedo
revelou em outras funções que desempenhou − como oficial do Exército,
primeiro delegado do Instituto Nacional do Trabalho e Comissariado do
Desemprego e Conservador do Registo Predial.
*
Tendo a Revista «Turismo» resolvido
publicar um número especial dedicado ao Distrito de Aveiro, e havendo
solicitado o patrocínio do Sr. Governador Civil − que o concedeu duma
maneira gentil − estava naturalmente indicado que ouvíssemos a primeira
autoridade do Distrito acerca dos diversos problemas da Região de
Aveiro.
Mas esta entrevista foi para nós a
mais difícil tarefa porque, a tantas qualidades, o Sr. Dr. José de
Almeida Azevedo alia mais esta: a sua excessiva modéstia, negando-se,
intransigentemente, a tudo que possa ser interpretado como manifestações
de evidência ou notoriedade.
Manifestou-nos, sempre, o maior
interesse por tudo quanto se refere à Região de Aveiro; mas obstinou-se
em apagar a sua personalidade.
Só muito instado consentiu em fazer
algumas afirmações, que vamos reproduzir:
− Que a Região de Aveiro, pela
diversidade dos seus aspectos, é das que reúne extraordinárias condições
turísticas, é um facto que está à vista, e não encerra novidade que
valha a pena ser proclamada pelo Governador Civil. É um facto evidente
que podemos observar, e todos aqui estamos empenhados em valorizar essas
condições.
− Importantes melhoramentos
projectados? − perguntámos.
− Sim. E, sobretudo, importantes
melhoramentos realizados, como sejam as estradas inauguradas pela Junta
Autónoma, entre Vila da Feira e Castelo de Paiva, junto às margens do
Douro, e de Pessegueiro do Vouga para a Serra do Arestal, sendo esta uma
importante via de turismo.
− Outros melhoramentos?
− Diversos, porque em todos os
concelhos se trabalha, de harmonia com as normas do Estado Novo, que se
resumem em mais factos do que palavras. Recordarei, entretanto, que
foram, recentemente, inaugurados bons edifícios dos Correios em Aveiro,
Águeda, Estarreja, Mealhada, Albergaria-a-Velha e S. João da Madeira.
Brevemente serão inaugurados mais edifícios em Espinho, Águeda e Anadia,
além de outros melhoramentos de carácter municipal.
− Sobre as obras do Porto de Aveiro?
− São as de mais vulto, as de maior
importância, que, nos últimos anos, se têm realizado neste distrito.
Correspondem a uma velha aspiração da cidade de Aveiro e das populações
dos concelhos vizinhos. Pelos trabalhos já realizados, bastante
adiantados, pode avaliar-se da grandeza e extensão da obra, que sofreu
retardamento apenas devido às consequências da guerra. Quando estiverem
concluídas todas as obras do porto, serão enormes os benefícios para a
economia da região banhada pela Ria. Esses melhoramentos impulsionarão e
renovarão o comércio e a indústria; fomentarão iniciativas novas; e
nessa multiplicidade de energias a despertar, naturalmente, também
beneficiarão os problemas de turismo.
− Sobre assistência...
− Não poderia ser esquecido esse
problema, que em todos os concelhos é encarado com o maior carinho.
Ainda recentemente se construiu em Aveiro um Albergue de Mendicidade,
devendo afirmar-lhe que nesta cidade funciona, a expensas da
Misericórdia, Hospital modelar, além de outras instituições, como a das
«Florinhas da Rua», que se ocupa, desveladamente, das crianças. As
Misericórdias de Espinho, Murtosa e Sangalhos fundaram hospitais; e
criaram-se várias cozinhas económicas. Em todo o distrito se cuida da
assistência, que é sustentada pelas Misericórdias, por diversas
instituições oficiais e particulares e pelo espírito caritativo e
profundamente cristão das populações.
− Neste, como em outros capítulos de
melhoramentos e administração, devo declarar-lhe que, embora procure
servir com o maior zelo, limito-me a cumprir o meu dever, em obediência
a imperativos próprios e interpretando sempre o sentido renovador e
progressivo do momento que atravessamos, que visa ao engrandecimento
nacional.
Compreendemos que o Sr. Governador
Civil havia encerrado a entrevista.
Ainda lhe ouvimos algumas palavras
mais, de absoluta confiança no futuro turístico da Região de Aveiro,
onde o trabalho dos homens e a acção dos Municípios estão completando a
obra maravilhosa da Natureza.
|