5. Festas e comemorações
Neste campo, pretende-se identificar as datas ou temas em
torno das quais a escola organiza momentos e forma de comemorações ou de
evocação.
Festividades de carácter nacional
Comemorações do 10 de Junho.
A 1.ª referência a estas comemorações aparece no Anuário
de 1915/16, que transcreve uma pequena conferência do reitor, Álvaro
Almeida de Eça. Na parte introdutória refere-se uma recomendação feita,
no ano anterior, pelo Ministro da Instrução, para que
"no aniversário da morte do imortal cantor das nossas glórias"(26)
um professor do liceu fizesse uma conferência sobre Camões. O hiato que,
a partir desse ano, existe na publicação do Anuário, impede-nos de ter
certezas em relação à continuidade das comemorações camonianas. Entre
1920 e 1963, salvo raras excepções, as comemorações camonianas são um
facto.
A forma de comemoração varia ao longo dos tempos, entre
uma conferência de Hernâni Cidade, uma palestra de João Gaspar Simões ou
uma exposição de pintura de Arlindo Vicente. Por vezes o programa é mais
variado, como acontece em 1956. Nesse 10 de Junho houve, de manhã, uma
sessão solene no ginásio, que foi aberta pelo reitor, seguiram-se
números do orfeão, a recitação de uma estância dos Lusíadas (em várias
línguas) e uma conferência com "prata da casa". No fim, umas palavras do
Governador Civil. No recreio as alunas apresentaram uma classe de
ginástica e expuseram-se Trabalhos Manuais, Desenhos e Lavores
Femininos. Um quadro digno de uma sociedade salazaristicamente
normalizada...
Comemorações do 1.º de Dezembro
Outra festividade que durante décadas se comemorou foi o
1.º de Dezembro. Quando se iniciaram as comemorações é assaz difícil de
determinar. Mas tal como as festas de Camões já em 1926/27 começavam a
criar tradições no Liceu de Aveiro. Diz Pereira Tavares no Anuário desse
ano que «as festas patrióticas do 10 de Dezembro e de
Camões estão já a entrar nos hábitos desta casa de ensino.»(27)
Mais uma vez as dificuldades são devidas à interrupção da publicação do
Anuário. Em cada 1 de Dezembro a evocação faz-se, normalmente, através
de uma conferência. Em 1929 Alberto Martins de
Carvalho, no dealbar da ditadura, faz veemente profissão de fé
democrática.(28) No ano da chegada de Salazar ao poder,
Olindo Casal Pelaio, faz clara incursão
ultranacionalista.(29) Depois de alguns anos sem referências ao
10 de Dezembro, em 1941 a participação do liceu nas comemorações do 10
de Dezembro foi, já, simbólica: pouco mais que um simples hastear de
bandeiras. As cerimónias oficiais, ficam, a partir de agora, a cargo da
Mocidade Portuguesa, que também organiza as comemorações do 28 de Maio.
Mais uma vez a "normalização" imposta pelo regime.
/ 23 /
Festividades próprias
Sessão solene de abertura das aulas
A festa do liceu de Aveiro, de âmbito local, com mais
significado é a sessão solene de abertura das aulas. Durante a mesma foi
hábito um professor fazer a oração de sapiência que versava os mais
diversos aspectos. No entanto, durante uma grande parte de sua história
tiveram significativa importância as festas escolares associadas ao 10
de Junho.
Récitas escolares
Tiveram importância cultural significativa as récitas
escolares dinamizadas, a partir do início da década de 20,
principalmente, por José Pereira Tavares. A Exortação da Guerra,
o Monólogo do Vaqueiro, A Farsa de Inês Pereira, A 3.ª
Jornada do Fidalgo Aprendiz, Cenas da Vida de D. Quixote, são
peças que vão à cena não só no teatro Aveirense, como também um pouco
por todo o país. Esta tradição teatral manteve-se viva e por exemplo na
festa de despedida do 7.º ano de 1958/59, levou-se à cena, no teatro
Aveirense, a peça em um acto «Quem desdenha...»
(30)
Comemorações excepcionais
▪ Comemoração do centenário da Guerra Peninsular.
▪ Comemoração do 5.º5° aniversário da inauguração do
edifício do Liceu (15 de Fevereiro de 1915, seria este o dia do
aniversário, mas a evocação realizou-se a 20 de Fevereiro).
▪ Comemoração do 4.º centenário da morte de Vasco da
Gama, a 24 de Janeiro de 1925. Lembre-se que Vasco da Gama tinha sido
imposto como patrono do Liceu
▪ Comemoração do 1.º centenário de Camilo Castelo Branco,
a 16 de Março de 1925.
▪ Sessão de homenagem à memória de António José de
Almeida, em 31 de Janeiro de 1930, com conferência de Augusto Casimiro.
▪ Comemoração do 1.º centenário de João de Deus, em 8 de
Março de 1930.
▪ Comemoração do 1.º centenário do nascimento de Oliveira
Martins, a 30 de Abril de 1945.
▪ Comemoração do 1.º centenário do nascimento de Eça de
Queirós, a 24 de Novembro de 1945.
▪ Comemoração do 8.º centenário da tomada de Lisboa aos
mouros, a 15 de Maio de 1947.
▪ Comemoração do centenário do nascimento de Gomes Leal,
a 5 de Junho de 1948.
▪ Comemoração do centenário do nascimento de Guerra
Junqueiro, a 16 de Dezembro de 1950.
▪ Comemoração do 1.º centenário do Liceu, a 5 e 6 de
Outubro de 1951.
▪ Entrega do novo edifício do Liceu, a 25 de Maio de
1952.
/ 24 /
▪ Inauguração do novo edifício do Liceu, a 13 de Outubro
de 1952.
▪ Homenagem ao chefe do governo, a 27 de Abril de 1953,
"cumprindo ordens superiores" (sic).
▪ Comemoração do Dia Mundial da Saúde, a 21 de Maio de
1955, por ordem superior.
▪ Comemoração do 1.º centenário do Liceu de Goa, a 24 de
Novembro de 1954.
▪ Comemoração do 1.º centenário da morte de Almeida
Garrett, a 9 de Dezembro de 1954, no Teatro Aveirense.
▪ Comemoração do 1.º centenário de Mouzinho de
Albuquerque, a 14 de Novembro de 1955.
▪ Festa de despedida a José Pereira Tavares, a 30 e 31 de
Janeiro de 1957.
▪ Comemorações henriquinas − extenso rol de actividades
que tiveram lugar entre 4 de Março de 1960 e 10 de Junho do mesmo ano.
▪ Comemorações condestabrianas, entre 12 de Dezembro de
1960 e 6 de Março de 1961.
▪ Comemoração do centenário da morte de José Estêvão, a 4
de Novembro de 1962.
Não são feitas referências a factos ocorridos depois de 1963, pois os
Anuários, principal fonte de informação para a história do liceu,
deixaram de se publicar. É possível que organizando o arquivo do liceu,
cruzando informações diversas (por exemplo, para tempos mais recentes a
imprensa regional) venhamos a ter uma ideia mais precisa (e quem sabe se
diferente) de uma instituição, que, apesar da voragem dos tempos, soube
preservar parte do seu património arquivístico.
________________________________________
(26)
− Anuário do Liceu Central de Aveiro (19151 16). Aveiro, 1917, p.15
(27)
− Anuário do Liceu de José Estêvão (19261 27), Aveiro, 1927, p. VI.
(28)
− Cf. Anuário do Liceu de José Estêvão (19291 30), Aveiro, 1930, pp.
64-69.
(29)
− Cf. Anuário do Liceu de José Estêvão (19321 33), Aveiro, 1933, p. 82.
(30)
− Cf. Anuário do Liceu de Aveiro (1958/59), Aveiro, s/d, p. 124.
|