Muitos teóricos e muitos práticos têm defendido que a
formação continua de professores deve estar ancorada na escola em que os
professores prestam o seu serviço. As razões que apresentam são muitas.
Podemos referir algumas.
A formação deve ser feita sobre a realidade que os
professores vivem e deve ser virada para as necessidades de formação dos
professores, enquanto membros de uma comunidade. A esta razão acresce o
facto de as actividades de formação constituírem pólos dinamiza dores
das actividades da escola, se nela forem integradas.
É também verdade que centrando a actividade na escola,
mais directamente se faz sentir que os destinatários últimos da formação
de professores são os estudantes e que uma das finalidades sempre
presente é a melhoria da qualidade de ensino e de aprendizagem. As
actividades de formação centradas na escola podem mesmo envolver
actividades com alunos, servindo estas de exemplo e contra-exemplo para
o que se defende e promove. A escola como centro tem, além de todas as
outras, a vantagem de integrar no dia a dia dos professores a actividade
de formação como mais uma actividade, não provocando desgastes de
deslocações e de integração em ambientes novos. E é por aqui que se
desenha a principal desvantagem: se fecharmos os professores dentro do
seu círculo restrito empobrecemos com certeza a sua formação. O contacto
com outras realidades de outras escolas pode enriquecer muito as
perspectivas dos professores.
A formação contínua de professores é absolutamente
necessária para promover a sua actualização científica, pedagógica e
didáctica e deve ter como consequências a melhoria da qualidade de
ensino e a criação de uma consciência crítica, capaz de criar
participação em processos de mudança. A comunidade educativa e cada
estudante são os verdadeiros destinatários dos resultados que se obtêm
com a formação dos professores.
A Escola Secundária de José Estêvão é uma das escolas
associadas do Centro de Formação da Associação de Escolas do Concelho de
Aveiro. O Centro de Formação pode constituir uma notável forma de
equilíbrio: permitir formação centrada em cada uma das escolas
associadas e permitir trocas entre os professores provenientes de
escolas diferentes (até de níveis diferentes de ensino), embora marcadas
por problemas comuns que o âmbito geográfico por si só cria.
O Centro de Formação pode constituir ainda um incentivo
ao associativismo inter-escolas que, em acção, pode ajudar a resolver os
problemas que se colocam ao nível da rede escolar, como prestadora de
serviços de educação à sua comunidade municipal. Embora ainda haja um
grande caminho a percorrer, o Centro de Formação é já um fórum de
discussão e debate dos problemas dos professores e mesmo das escolas e,
entre as suas iniciativas. já se contam actividades capazes de
influenciar a forma como as escolas agem relativamente às comunidades
que servem. Na Comissão Pedagógica do Centro estão reunidos responsáveis
das escolas – desde os jardins de infância até às secundárias – e só a
existência desses encontros constitui um facto novo e importante, para
estabelecer pontes entre as diversas realidades.
Ainda mais rica é a existência do Centro se pensarmos que
através dele se estabelecem ligações entre o ensino público e o ensino
privado, entre o ensino não superior e superior.
É. por tudo isso. absolutamente indispensável que a
escola assuma a sua quota parte de direcção das actividades do Centro e
que cada professor assuma a sua formação continua.
Centro pode promover todas as acções de formação mútua e
participa (que os professores proponham em cada escola e em cada grupo.
Quer isto dizer que o Centro não pode ser uma realidade distante dos
professores e escola, para que a formação se. centrada na escola, e não
pode ser uma realidade estranha que presta um serviço necessário mas
estranho e decidido por estranhos. O Centro é um meio que os professores
podem utilizar. Não pode servir de desculpa para não fazer o que é
verdadeiramente preciso e sentido como tal pelos colectivos dos
professores. É preciso que os professores tomem em mãos a actividade do
Centro e construam a esperança, contra o desespero de quem diz que "a
nossas necessidades de formação são impossíveis de satisfazer" porque
outro, o responsável, não consegue adivinhar as nossas estranhas
maneiras de ser. Ao Centro nenhuma necessidade de formação é estranha: a
cada um compete provar isso.
Há, para além do Centro de Formação da Associação de
Escolas, outras entidades formadoras que apresentam o seus menus de
formação. Necessária também. Claro. Preocupo-me em esperar que os
professores compreendam as diferenças entre o que é nosso e o que não é
nosso, entre o que podemos ser nós a determinar e aquilo que nos
oferecem para comer e comemos. O prato que preparamos até pode ter o
mesmo nome, ser essencialmente a mesma coisa, mas comer em casa é sempre
outra coisa. Não é?
Arsélio Martins
Director
do Centro de Formação da Associação
de Escolas do Concelho de Aveiro |