Escola Secundária José Estêvão, n.º 11, Jan.- Mar. de 1994

A par de uma crise generalizada (passe o lugar comum), que se alastra também obviamente às artes e que se reflecte na sua produção, divulgação, consumo e ensino, prevalecem, no entanto, os sinais que permitem entender que, não obstante todas as vicissitudes, modas, aproveitamentos e oportunismos, não só a sua subsistência está garantida, mas também e sobretudo a sua contínua evolução e constante importância no contexto cultural actual.

A edição de 1994 da ARCO reflecte uma vez mais, precisamente, essa realidade da arte, permanentemente transformada e adaptada/ inconformada às novas situações sociais, políticas e culturais. Mas é também um sinal da sua dimensão transformadora e do seu alcance enquanto meio de comunicação que sugere ou desperta novas reflexões e atitudes no público que a visita.

A ARCO tem, para além destas qualidades que me parecem óbvias, uma outra que resulta das suas características de feira de galerias: num universo de 143 expositores e de cerca de 860 artistas expostos, não existe o risco de sermos confrontados com um só critério de selecção ou um / 11 / gosto oficialmente instituído.

Cabe às galerias, através da ARCO, cumprir essa missão de orientar o gosto colectivo. Assim, confluem nesta feira todos os estilos e todas as ideologias e atitudes que compõem o panorama artístico actual ou que fazem parte de um passado recente. Grandes artistas, cujos nomes são referência quase obrigatória como Tàpies, Miró, Dali, Picasso, ou outros como Willem De Kooning, Paul KIee, Rothko e Christo surgem ao lado de jovens valores em início de carreira; telas e esculturas de estilos ou escolas mais facilmente identificáveis como o cubismo e variantes, o surrealismo, a arte pop, a par com propostas mais recentes (ou não) de arte minimal, conceptual ou ainda outras mais difíceis de enquadrar ou definir; é ainda possível o confronto de obras que utilizam suportes e concepções tradicionais com outras que aliam muita ousadia a técnicas menos convencionais e que proporcionam resultados tão estranhos quanto espectaculares.

Em toda esta diversidade existe contudo uma característica comum que não é com certeza o interesse ou o real valor de tudo o que é exposto. A ARCO é, acima de tudo, uma feira. Nesse contexto, visa promover e vender arte. A característica comum e que, em alguns casos, poderá funcionar como limitação e exclusão de certas propostas artísticas, é a lógica de mercado que lhe subsiste – que é questionável, sem dúvida. Parece-me no entanto inútil tentar afastar a arte dessa sua dimensão comercial, das consequentes operações de marketing, dos artistas e das obras mais cotadas, das modas, da especulação de preços e valor, e de todos esses factores que constituem afinal uma parte importante da actualidade.

Importa reter da ARCO toda a profusão de imagens, acontecimentos, ideias e situações, novas ou não, sem a isolar de toda a envolvência que ela suscita através de várias exposições e acontecimentos programados para o mês de Fevereiro nos museus de Madrid, nem esperando que seja ela unicamente a completar as nossas lacunas ou a simples necessidade que todos temos de exercitar a nossa capacidade de ver e apreender a arte. ■

J. Catarino
 

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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págs. 10-11