A
par de uma crise generalizada (passe o lugar comum), que se alastra
também obviamente às artes e que se reflecte na sua produção,
divulgação, consumo e ensino, prevalecem, no entanto, os sinais que
permitem entender que, não obstante todas as vicissitudes, modas,
aproveitamentos e oportunismos, não só a sua subsistência está
garantida, mas também e sobretudo a sua contínua evolução e constante
importância no contexto cultural actual.
A edição de 1994 da ARCO reflecte uma vez mais,
precisamente, essa realidade da arte, permanentemente transformada e
adaptada/ inconformada às novas situações sociais, políticas e
culturais. Mas é também um sinal da sua dimensão transformadora e do seu
alcance enquanto meio de comunicação que sugere ou desperta novas
reflexões e atitudes no público que a visita.
A ARCO tem, para além destas qualidades que me parecem
óbvias, uma outra que resulta das suas características de feira de
galerias: num universo de 143 expositores e de cerca de 860 artistas
expostos, não existe o risco de sermos confrontados com um só critério
de selecção ou um
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oficialmente instituído.
Cabe às galerias, através da ARCO, cumprir essa missão de
orientar o gosto colectivo. Assim, confluem nesta feira todos os estilos
e todas as ideologias e atitudes que compõem o panorama artístico actual
ou que fazem parte de um passado recente. Grandes artistas, cujos nomes
são referência quase obrigatória como Tàpies, Miró, Dali, Picasso, ou
outros como Willem De Kooning, Paul KIee, Rothko e Christo surgem ao
lado de jovens valores em início de carreira; telas e esculturas de
estilos ou escolas mais facilmente identificáveis como o cubismo e
variantes, o surrealismo, a arte pop, a par com propostas mais recentes
(ou não) de arte minimal, conceptual ou ainda outras mais difíceis de
enquadrar ou definir; é ainda possível o confronto de obras que utilizam
suportes e concepções tradicionais com outras que aliam muita ousadia a
técnicas menos convencionais e que proporcionam resultados tão estranhos
quanto espectaculares.
Em toda esta diversidade existe contudo uma
característica comum que não é com certeza o interesse ou o real valor
de tudo o que é exposto. A ARCO é, acima de tudo, uma feira. Nesse
contexto, visa promover e vender arte. A característica comum e que, em
alguns casos, poderá funcionar como limitação e exclusão de certas
propostas artísticas, é a lógica de mercado que lhe subsiste – que é
questionável, sem dúvida. Parece-me no entanto inútil tentar afastar a
arte dessa sua dimensão comercial, das consequentes operações de
marketing, dos artistas e das obras mais cotadas, das modas, da
especulação de preços e valor, e de todos esses factores que constituem
afinal uma parte importante da actualidade.
Importa reter da ARCO toda a profusão de imagens,
acontecimentos, ideias e situações, novas ou não, sem a isolar de toda a
envolvência que ela suscita através de várias exposições e
acontecimentos programados para o mês de Fevereiro nos museus de Madrid,
nem esperando que seja ela unicamente a completar as nossas lacunas ou a
simples necessidade que todos temos de exercitar a nossa capacidade de
ver e apreender a arte. ■
J. Catarino
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