Escola Secundária José Estêvão, n.º 7, Jun.- Jul. de 1992


dia da escoladiscurso aos vivos

Esta é a escola. É este o tempo.

Ama-a ou detesta-a. Indiferente, nunca. A indiferença compra indiferença. E, ainda não tens idade para ser indiferente. Nunca se tem idade para a indiferença. Os pais castigam quem mais amam, os filhos amam quem mais detestam. Amo – odeio, logo existo.

Esta escola não é esta coisa – tornada – objecto.

Estamos em casa onde quer que estejamos. Aqui ou algures, é o que menos importa. Reais, são o espaço da memória, o tempo de desejar ser, o acto de fazer-se.

Esta escola não é gente, mas tem rosto de gente, de gente viva, mesmo que já não seja ou só exista lá, onde começa a utopia e o futuro se deixa apropriar. Esta escola tem alma. E é possuída por um corpo.

É uma alma – seiva, que vem das lonjuras do passado e continua, sempre igual ainda que sempre diferente, transfigurada, sempre prestes a reencarnar, mesmo que noutro tempo, noutro lugar, ainda que só no nosso imaginário, ainda que desaparecido já o corpo-prisão.

Foi, é feita, está a fazer-se, por gente real: tu, eu, nós.

Nós somos ela e ela está em nós e só por nós existe. Não foi, é; não é, será. E quando vier a ser, será o que for, porque foi o que foi, porque é o que é. Esta é a escola.

Escola – mãe.

Escola – madrasta.

Escola – caserna.

Escola – jardim.

Escola – memória.

Escola – acto.

Escola – saudade.

Escola – recusada.

Esta escola tem mil faces. E todas verdadeiras, e todas falsas.

É uma escola – árvore, porque raiz, fruto e flor; porque passado, presente, futuro. Nela, é sempre tempo de semear e de colheita. É o espaço da tentação, onde a inocência já não tem lugar. Onde, o fruto proibido deve ser por demais apetecido e provado.

É, deve ser, Terra de fazer Homens, capazes de olhar os deuses de frente e de escolher a Liberdade, ainda que seja só a de sofrer e de morrer por ela.

Este é o tempo e o lugar de excessos e de ausências, de urgências e de palavras adiadas.

Este é o tempo de não ter tempo e de ter saudades do tempo que não foi vivido em devido tempo.

E é tempo.

De ilusões sem ilusão.

De esperanças e desenganos.

De viver intensamente.

De sonhar apaixonadamente.

De ser Quixote e Sancho.

De ter os pés na terra e a cabeça nas nuvens... ou inversamente... e, porque não? Ousa voar.

Aqui e agora, plenamente, que este seja o teu tempo.

Que esta seja a tua Escola - Pátria.

E que a tua Vida seja obra - prima.

Seja este o tempo e o lugar de aprender, de recordar, de desejar, de ser, de futurar.

Esta é a Escola.

É este o Tempo.

Nossos.

Fomos. Somos. Seremos.

Ermelinda Campos

Organização do Dia da Escola

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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