Escola Secundária José Estêvão, n.º 7, Jun.- Jul. de 1992

farmacopeia tem uma história, mas não uma história linear. Conheceu avanços e recuos e adivinham-se-lhe anacronismos, na coexistência nem sempre pacífica, do saber académico e da sabedoria popular. Os encontros de Vilar de Perdizes são mais uma excepção do que a regra.

A farmacopeia, tal como hoje a entendemos, é o produto de uma nova mentalidade experimentalista, que nasceu com a modernidade e de que Garcia de Orta é um representante qualificado. Sem os descobrimentos tudo teria sido diferente.

Actualmente, subsistem práticas terapêuticas arcaicas que remontam aos confins da Humanidade, e a que contemporâneos nossos não desdenham recorrer, em desespero de causa ou por razões culturais.

O recurso a mezinhas, apoiado num "saber de experiência feito" ou em meras superstições, ainda tem lugar, e não pode esquecer-se que a experiência não científica nem sempre é sinónimo de saber irrelevante. Só a investigação ditará a sentença.

Nesta, como noutras matérias, não se decide por decreto, nem o preconceito pode ser combatido com o preconceito.
 


Estas são, em síntese, as linhas mestras de uma exposição que, em colaboração, a Escola Secundária de José Estêvão e o Museu de Aveiro promoveram no âmbito das comemorações dos Descobrimentos. Trata-se, também, de um texto que serve de introdução à mostra, que se inicia pela introdução de símbolos emblemáticos.

O roteiro propõe, seguidamente, uma breve passagem pela História e Lenda da farmacopeia, com particular incidência no tema dos venenos, que estabelece o trânsito para a Alquimia. Os passos seguintes são as plantas na farmacopeia e a Farmacopeia e os Descobrimentos. Numa outra sala começa-se por uma passagem rápida pela personagem clássica dos Sangrados, que estabelece a ponte para a Botica, Boticários e Cosmética. Há ainda um núcleo dedicado aos almofarizes e outro ao Laboratório. Como fecho, um poema de Manuel Alegre, em que, ao mesmo tempo, se recupera o tema dos símbolos e se aponta ao futuro: os Descobrimentos estão aí, à nossa frente, não são apenas coisa – pertença  do passado. São o nosso desafio permanente.

A inauguração aconteceu no dia 29 de Junho e, com ela, se pôs fim a muito suspense, adiamentos e expectativas. O acto foi razoavelmente concorrido por representantes de autoridades, organismos públicos, laboratórios, farmácias e muitos professores e contou com a presença do Bastonário da Ordem dos farmacêuticos, que nos brindou com uma despretensiosa e agradável prelecção sobre a Farmacopeia e os Descobrimentos.

A Exposição será reaberta em Setembro, a pensar no recomeço das aulas e no regresso dos alunos, público a quem, preferencialmente, mas não exclusivamente, se dirige. ■

Ermelinda Campos

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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