farmacopeia tem uma
história, mas não uma história linear. Conheceu avanços e recuos e
adivinham-se-lhe anacronismos, na coexistência nem sempre pacífica, do
saber académico e da sabedoria popular. Os encontros de Vilar de
Perdizes são mais uma excepção do que a regra.
A farmacopeia, tal como hoje a entendemos, é o produto de
uma nova mentalidade experimentalista, que nasceu com a modernidade e de
que Garcia de Orta é um representante qualificado. Sem os descobrimentos
tudo teria sido diferente.
Actualmente, subsistem práticas terapêuticas arcaicas que
remontam aos confins da Humanidade, e a que contemporâneos nossos não
desdenham recorrer, em desespero de causa ou por razões culturais.
O recurso a mezinhas, apoiado num "saber de experiência
feito" ou em meras superstições, ainda tem lugar, e não pode esquecer-se
que a experiência não científica nem sempre é sinónimo de saber
irrelevante. Só a investigação ditará a sentença.
Nesta, como noutras matérias, não se decide por decreto,
nem o preconceito pode ser combatido com o preconceito.
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Estas são, em síntese, as linhas mestras de uma exposição
que, em colaboração, a Escola Secundária de José Estêvão e o Museu de
Aveiro promoveram no âmbito das comemorações dos Descobrimentos.
Trata-se, também, de um texto que serve de introdução à mostra, que se
inicia pela introdução de símbolos emblemáticos.
O roteiro propõe, seguidamente, uma breve passagem pela
História e Lenda da farmacopeia, com particular incidência no tema dos
venenos, que estabelece o trânsito para a Alquimia. Os passos seguintes
são as plantas na farmacopeia e a Farmacopeia e os Descobrimentos. Numa
outra sala começa-se por uma passagem rápida pela personagem clássica
dos Sangrados, que estabelece a ponte para a Botica, Boticários e
Cosmética. Há ainda um núcleo dedicado aos almofarizes e outro ao
Laboratório. Como fecho, um poema de Manuel Alegre, em que, ao mesmo
tempo, se recupera o tema dos símbolos e se aponta ao futuro: os
Descobrimentos estão aí, à nossa frente, não são apenas coisa – pertença
do passado. São o nosso desafio permanente.
A inauguração aconteceu no dia 29 de Junho e, com ela, se
pôs fim a muito suspense, adiamentos e expectativas. O acto foi
razoavelmente concorrido por representantes de autoridades, organismos
públicos, laboratórios, farmácias e muitos professores e contou com a
presença do Bastonário da Ordem dos farmacêuticos, que nos brindou com
uma despretensiosa e agradável prelecção sobre a Farmacopeia e os
Descobrimentos.
A Exposição será reaberta em Setembro, a pensar no
recomeço das aulas e no regresso dos alunos, público a quem,
preferencialmente, mas não exclusivamente, se dirige. ■
Ermelinda Campos |