Por
vezes somos estimulados ao "meter foice em seara alheia".
Na verdade foi da leitura da "Introdução aos Novos
programas de Físico-Químicas (3.º ciclo) – Em regime de experiência
pedagógica" que recebi aquele empurrão indispensável à percepção da
epistemologia subjacente àqueles programas... E também aos de Ciências
Naturais.
Pareceu-me que, finalmente, os princípios epistemológicos
e psicológicos eram os MESMOS.
Voltei a reler Autores como Gowin, Kuhn, Toulmin, etc.
Expressões naqueles "Programas de Físico-Químicas" como
sequências conceptuais", "moldes construtivistas", "mapa de conceitos",
etc.; relembrar Bruner e a sua conhecida expressão "Aprender é aprender
a aprender", um artigo de Novak em que escrevia "os mapas de conceitos
constituem ferramenta útil à planificação do ensino e auxiliam os alunos
a aprender a aprender", eram estimulantes.
Por outro lado, Karl Popper parecia sussurrar-me ao
ouvido: «...o cidadão comum revela-se frequentemente mais sensato..., e
se não mais sensato, é guiado por intenções mais correctas e generosas».
Cidadão comum, quiçá de duvidosa sensatez, mas guiado por
intenções generosas ao meu exercício da actividade de professor de
ensino não superior, fiquei suficientemente "preparado" para formular
algumas perguntas ao senhor secretário de Estado da Reforma Educativa:
1 – Após leitura dos "Programas de Ciências Naturais, em
regime de experiência pedagógica (3.º ciclo do Ensino Básico)" senti-me
exultar e na minha modesta opinião não podia deixar de felicitar os
Autores da sua "Nota Introdutória" pela sua preocupação, no que creio
ser contemporaneidade em psicologias educacionais e epistemológicas, que
vislumbro irradiarem daquelas páginas.
2 – Mas apesar dos factos anteriormente referidos sou
impelido, e numa perspectiva construtivista, a apresentar aos seus
Autores algumas despretensiosas perguntas:
▪ Nas páginas 6 e 7 apreciaria ver as psicologias
cognitivistas duma forma mais explicitada.
Ou duvidam que não se correrá o risco duma leitura
behaviorista?
Epistemologicamente o empirismo não será ainda a força
dominante a nível do...?
A epistmologia de Kuhn, embora presente naquelas páginas,
será descoberta com a subtileza da linguagem usada?
Ainda na página 7 serão facilmente percebidos o que se
pretende com os "camuflados":
"If I had to reduce all of educational psychology to just
one principle, I would say this: The most important single factor
influencing learning is what the learner already knows. As certain this
and teach him accordingly" e "Alternative Conceptions Movement"?
▪ Novamente nas páginas 7 e 8 será facilmente
compreendido o autor do "Meaninful learning"?
E o conteúdo tão disfarçado do "subsumption" apresentado
na página 8?
A mesma página ao abordar o "processo do professor"
refere (e parece-me bem) "Guided discovery learning to autonomous
discovery learning".
Mas não será subtilmente apresentado?
▪ A linguagem ausebeliana apresentada (e ainda bem)
naquelas páginas será dum domínio tão generalizado? Há inquéritos que o
confirmem?
▪ Na mesma página 8, o implícito conhecimento da Teoria
de Bruner e Currículo em Espiral acreditam que serão facilmente
descobertos?
▪ As páginas 8 (Ausubel) e 29 (onde subentendi "concept
mapping” segundo Novak, J. D.) parecem-me estar em contradição (na
hierarquização do grau de inclusão dos conceitos). Não será assim?!
▪ No mesmo mapa de conceitos (página 29) julgo que se
esqueceram de especificar as "proposições” ou então, estão deslocadas as
"palavras de ligação”.
Assim não será compreendida a "progressive
differentiation" de conceitos?
As "ligações cruzadas" também não me parecem expressar
convenientemente "integrative reconciliation" e "superordinate learning".
É pretensiosa esta minha proposta para a necessidade duma
corrigenda ao mapa de conceitos (página 29)?
É que sendo o único mapa de conceitos estruturado no que
creio ser modelo proposto por Novak (Ausubel) apresentado naqueles
PROGRAMAS DE 3.º CICLO, oferece ainda o inconveniente de ser modelo a
respeitar. Ele está em texto do Ministério da Educação... E como tal...!
3 – Mas apesar de acreditar nas virtudes de um ensino e
aprendizagem conceptualizantes, com aprendizagem significativa, não
posso deixar de me afirmar estupefacto com alguns dos "Objectivos Gerais
(a nível de Atitudes, Capacidades e Conhecimentos)" explicitados na
página 10 daqueles programas.
Transcrevo a seguir alguns Objectivos gerais propostos
para os 7.º e 8.º anos de escolaridade:
"Avaliar as implicações do desenvolvimento da Ciência" .
"Reconhecer as Iimitações da Ciência na resolução de
problemas sociológicos e tecnológicos".
"Formular hipóteses que podem ser testadas
experimentalmente" (Acredito que os Autores dos Programas serão
epistemologicamente "RACIONALlSTAS").
"Aplicar a novas situações, técnicas laboratoriais
adquiridas".
"Relacionar ideias permitindo a passagem do conhecimento
em si mesmo para o conhecimento posto em acção".
Aqueles poderão ser objectivos gerais para alunos de
12/13 anos de idade?!
4 – Na página 15 e seguintes a inclusão dos "processos
internos na dinâmica da Terra", perspectiva geológico-biológica, creio
serem dispensáveis, mesmo não indicados para o 3.º Ciclo.
Para um ESQUEMA CONCEPTUAL DE ANO que em despretensiosa
sugestão apresento: "A crosta terrestre constitui um sistema natural em
equilíbrio dinâmico nos diferentes ambientes" cremos dispensável o
estudo da "geodinâmica interna".
Limitando-o à abordagem geológica da "Geodinâmica
Externa", acreditamos que será possível uma APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
que contribuirá naquela perspectiva geológico-biológica (ecológica) para
o desenvolvimento duma ESTRUTURA COGNITIVA DO ALUNO com PROGRESSIVA
DIFERENCIAÇÃO DE CONCEITOS correspondentes às estruturas e interacção
dos Biótopo e Biocenose.
5 – O grau de inclusão dos conceitos indicados para o 7.º
ano e atendendo ao sentido da sua abordagem proposto por Ausubel e a
organizar em mapas de conceitos (Novak), que creio ter sido sugerido,
conduz a graus de tão menor inclusão (ou maior especificidade) que
tornam inviável a sua concretização, em APREDIZAGEM SIGNIFICATIVA, num
único ano (7.º ano).
Para percepção na Biosfera (ou mesmo Noosfera),
perspectiva geológico-biologicamente, sua dinâmica, equilíbrio e
ruptura, serão necessários conceitos como textura cristalina, manto,
estenosfera, núcleo, etc., etc...?!
Em face dos factos anteriormente expostos, o signatário
solicita a V.ª Ex.ª se digne autorizar lhe sejam autorizados os
esclarecimentos para as dúvidas apresentadas.
Como "professor de ensino não superior em fim de
carreira", mantendo funções na "Formação Inicial de Professores" e
portanto necessariamente atento aos presentes e próximos programas, não
posso de (quase) auto-didacticamente realizar a minha "pseudo-formação
contínua", que carecerá de qualquer reconhecimento oficial por lhe
faltar o aval de Instituições de Ensino Superior (o mérito na força da
hierarquia convertido em razão de força).
No entanto a verificar-se as minhas deficientes
interpretações daqueles "Programas em Experiência Pedagógica"
revelar-me-ão, se não vier a ser prévia e superiormente determinado, que
devo cessar funções na "Supervisão da prática Pedagógica" e aguardar a
chagada da "Verdadeira Formação Contínua"... E depois,
reforma/aposentação.
E qual será a Formação dos "Professores Divulgadores dos
Novos Programas", não eu, que ao candidatarem-se num passado recente, se
auto-afirmaram possuidores de "Actualização nos domínios das Ciências da
Educação e da Especialidade"?
Manuel Ferreira / 1991 |