Escola Secundária José Estêvão, n.º 3, Abr. - Jun. de 1991

Num mundo em que cada pessoa traz consigo uma mala de máscaras e usa-as constantemente ao comunicar com o exterior, quem se consegue encontrar a si próprio? Após tantos anos de máscaras, o Homem já não se distingue a si próprio no meio delas. Quem sou eu? Onde me posso encontrar?

Precisamos de outra dimensão, de um outro mundo para não cairmos num desconhecimento total de nós próprios. E encontramo-lo naquela sala onde despimos as máscaras, onde aprendemos a mostrar-nos sem receio, e onde vestimos personagens com personalidades características. Perguntam se não é vestir uma máscara outra vez? Não, nada nos é imposto, não há pressões nessa sala; cada personagem que adoptamos é uma parte de nós, é algo que nos toca no fundo, atravessando os nossos muros levantados para impedir que alguém chegue cá dentro. É como um música que nos desperta, que abre uma arca do sótão da nossa mente, onde uma parte de nós está fechada.

E nascemos mais uma outra vez.

Por vezes até o que nós descobrimos choca tanto com o que damos a ver ao mundo, que é difícil chegarmos ao fundo.

Interiorizar a personalidade de outrem, que nós inconscientemente escolhemos por nos vermos projectados nela, é como uma completa reaprendizagem da vida. Sim, é radical! Este mundo mutila-nos os braços do "Eu” livre, que se querem estender a tudo o que os rodeia, proíbe-nos de ser verdadeiros.

Não sei qual o inicio e qual o fim desta reaprendizagem, na qual, através de Expressão Dramática, podemos contar uma história... sem falar. – Sem falar?! Claro que sim! Um dos pontos mais altos da comunicação é quando ela se faz sem as barreiras da palavra. Sem querer, reparamos que o toque é tão importante... que é tão necessário exprimirmo-nos, como respirar, como amar.

E quando pomos um pé num palco... não é só o pé que entra. Nele pomos também a nossa alma, como uma entrega total a um amante que nos envolve e hipnotiza; deixamo-nos enlevar, como num sonho, tentando entrar numa fantasia, numa vida que não a deles. E como é bom satisfazer esses desejos, como é bom envolvê-los com uma seda de sonho, como é bom fazê-los sair dos seus corpos-prisões e fazê-los entrar nos corpos-vida, sem proibições nem recalcamentos, sem individualismos, numa partilha de emoções tão infinitas e profundas como verdadeiras. Aí, cada um funde-se e empenha-se numa procura insaciável de si próprio. E o que não consegue fazer no mundo cá fora, faz no palco ou numa cadeira à frente de um. Por mais incrível que à primeira vista pareça, ele consegue! E vê uma parte de um "Eu” esquecido.

É uma viagem a si próprio.

E só ao entrar naquela sala de teatro, melhor, de ARTE, é que compreendemos que a nossa existência de máscaras não é um viver, mas um simples sobreviver.

Sandra Vieira,

13/06/91

 

Fazer teatro é, sem dúvida, aprender a escolher entre o ser e o não ser. Este ano, foi o renascer de algo que cresceu em mim, algo que nasce com todo o bebé a vontade de criar, imaginar, ser e não ser, parecer... Agora, sei que é importante ser e crescer vivendo... Agora, sei que é válido aprender e deixar de ser quando estou em palco... Eu fui um rei imaginário e solidifiquei as águas trémulas que me serviram de base, fui aquele T eles louco que sabe o que quer mas, simplesmente, não é o que quer... E todos nós temos um pouco de Teles na manga.

Vamos!

A revolta!

À procura de uma sociedade mais justa!

À necessidade de compreensão e aceitação! Bah!

São tudo ondas marítimas que vão e que nem sempre vêm...

Este ano, aprendi que é muito importante levar as coisas a sério... e sorrir... e crescer... gritar, se for preciso... fazer o que me apetece sem ter medo... Aprendi que devo tudo o que sou aos outros e não posso temer o meu relacionamento com eles, porque eu... sou eu... Sou eu, com todos os defeitos que em mim encontrarem, mas sou eu. E tenho orgulho em chegar ao fim deste princípio de caminhada para a vida e poder dizer que sou eu, mas acredito que possa ser melhor, e vou sê-lo, porque este ano aprendi que é importante viver.

 

A ti, Duarte, dedico o meu trabalho e o meu esforço, porque me deste oportunidade de me conhecer, avaliando-me...

Porque me deste oportunidade de ser, por momentos, quem não sou...

Porque me ajudaste na libertação do meu eu, porque isso é necessário... nem que seja só de vez em quando.

 

 

OBRIGADA!

 

Maria Simões

13-06-91

 

 

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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