A partir de 1989 a Escola Secundária José Estêvão foi incluída na rede
mundial do AGE, projecto da autoria de Martin Engels do departamento
Educativo da Apple USA.
O AGE é feito por alunos para alunos, com o apoio dos docentes.
Como?
Filosoficamente, baseia-se no princípio da "Global Village" de MacLuhan,
ou seja, na ideia de que o mundo é uma aldeia onde todos podem dialogar
e onde todos se conhecem. Assim, um grupo de alunos australianos pode
realizar contactos frequentes com alunos portugueses, trocando
informações (geografia, história, passatempos, curiosidades regionais e
nacionais, projectos comuns, experiências, resultados de jogos de
futebol). Como se infere, o campo temático abrange todos os interesses
que os alunos possam ter e nenhum assunto é banal.
Observa-se que os textos produzidos são extremamente simples, da autoria
de jovens cujo nível etário oscila entre os 9 e os 16 anos o que vem
tomar mais aliciante a participação dos nossos alunos, pois cremos que
eles irão contribuir de forma plena para a renovação do projecto em
termos de novidades curriculares, inserindo na temática existente a
nossa experiência, muito diferente da dos países do norte da Europa, por
exemplo.
Tecnicamente, baseia-se num Bulletin Board System – BBS – exclusivo da
Apple e reservado aos utilizadores registados no AppleLink. É a mais
avançada BBS que alguma vez utilizámos: inteligente, organizada e à
prova de "idiotice"... Os utilizadores, uma vez ligados ao nó de Paris
(Apple Europa), têm acesso aos níveis a que o seu registo lhes confere
direito. Podem "ler" correspondência geral e a sua, bem como podem
endereçar correspondência –LINKS – à pasta geral, ou a utilizadores cujo
endereço se deve conhecer antecipadamente.
Cada sessão não pode ultrapassar os 19 minutos, após o qual se é
desligado da rede.
Esta BBS – AppleLink – para as escolas portuguesas – nomeadamente
escolas secundárias com orçamentos apertados – só tem um ponto negativo:
o preço da chamada telefónica: 19 minutos em linha directa com Paris
fica caro...
Actualmente, estamos a iniciar o trabalho com os alunos, fazendo
circular a correspondência "descarregada" entre as turmas interessadas,
para que os alunos possam produzir materiais que serão informatizados
oportunamente.
Porquê só agora?
Como todos os projectos que se prezem, este também teve os seus
atrasos... A Apple demorou algum tempo a efectuar a nossa inscrição no
AppleLink e a enviar-nos o software AppleLink que efectua a chamada e a
ligação à rede.
Até aqui, o que é que esta experiência do José Estêvão tem a ver com o
Projecto Minerva? Formalmente, nada...
Mas pensemos... A maioria das escolas deste país estão abrangidas pelo
Projecto Minerva... Os diversos Pólos têm um batalhão de professores a
trabalhar na informatização das escolas e a investigar novas formas
didácticas... Os orçamentos não são ilimitados, mas são confortáveis...
Os telefones são coisas banais...
Alguém tem uma ideia?
Eu proponho: uma rede de escolas com uma BBS em cada Pólo Distrital onde
os ALUNOS, coordenados pelos Professores, pudessem deixar
correspondência para as outras escolas do país, trocar programas,
experiências.
Saldo: menor perda de tempo na comunicação entre as escolas e o pólo;
menor número de professores a sobrecarregar o sistema de destacamentos
–moribundo, aliás – alunos mais felizes; melhor utilização do
equipamento.
Diz-nos a experiência que tentar formar docentes é, na maioria dos
casos, uma tarefa inglória. Acreditamos que os professores sentem-se
atraídos pelos computadores, sim, mas de uma
/
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máquinas de escrever sofisticadas, ou então equipamentos demiúrgicos. Os
outros encaram-nos como computadores (automatizadores de informação) e
esses serão professores a aproveitar para o presente. O sistema não pode
andar 4, 5, 6 anos a repetir todos os anos a mesma coisa: não há
evolução. Ao fim de 5 anos de Minerva apenas há um parque considerável
de equipamentos instalados nas escolas e não há um corpo docente
verdadeiramente capaz de dar forma e continuidade ao Projecto.
Cremos, firmemente, serem os alunos esse corpo. Eles já trazem formação
de casa, pois nascem na era do audiovisual e, para eles, o computador é
mais uma ferramenta audiovisual interactiva. Logo, o investimento humano
é muito menor e serão estes alunos que arrastarão os professores mais
entusiastas para a informática.
Digamos que propomos a inversão da pirâmide estabelecida: acompanhar os
alunos numa fase inicial e eles formarão os outros colegas e provocarão
o interesse dos professores.
Bastaria um pouco de coragem dos responsáveis dos Pólos do Minerva.
Coragem para mudar o que se está a estabelecer nos pólos distritais. Se
são pólos para desenvolvimento de material didáctico, então deveriam lá
estar programadores capazes e não professores cansados de dar aulas
(isto sem desprestígio para os colegas destacados nos pólos do Minerva,
mas não acham que é verdade...?) Se são pólos de atendimento de
docentes, as escolas têm essas facilidades: basta muni-las de
equipamento minimamente adequado, formando centros de recursos nas
diversas escolas e unindo as escolas mais pequenas. Obviamente que isto
mexeria com muitas questões algo delicadas, como sejam: quais as escolas
a terem um centro de recursos e quais as que se deveriam associar,
quantos professores seriam necessários no pólo, quem é que deveria ir
embora, quais os programadores, ou seria melhor um concurso de software
a nível das escolas do pólo, onde se ia buscar o dinheiro para montar
tal esquema, e os modems telefónicos para a ligação da rede, e quem está
a fazer mestrados na matéria, como é que fica, mestre? Etc., etc., etc.
Resposta: quem quer faz, quem não quer pergunta como...
Fica a ideia para quem gostar de inovação e de educação.
Manuel Arcêncio da Silva
Professor de Técnicas especiais – Jornalismo, Projecto Minerva |