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No painel de informações da sala de professores estava colocado
um texto-panfleto do movimento "sim pela tolerância", a
anteceder uma recolha livre de assinaturas. Um professor ou uma
professora decidiu roubar as assinaturas dos adultos
professores, acrescentando ao panfleto um disparate
dactilografado.
Sem dúvida que alguém – publicamente professor e
clandestinamente doido – muito desequilibrado e muito doente
cambaleia pelos corredores da escola, deixando um rasto de baba
cobarde.
As nossas vidas estão marcadas pela
clandestinidade. Por uma ideia, por uma crença, por uma dúvida,
ainda não há 30 anos, um português podia ser preso.
Clandestinamente se distribuíam ideias em papel, se pintavam
palavras de ordem, se colavam cartazes. Clandestinas eram as
reuniões, as associações, as opiniões, as lutas, a democracia, a
liberdade, o direito,... as almas livres. Até o sofrimento da
luta para acabar com a clandestinidade foi clandestino. Hoje, as
pessoas podem expressar livremente as suas opiniões
contraditórias que sejam entre elas e com o regime sufragado e
livremente escolhido. Só a lama da ofensa aos direitos humanos
fundamentais, só a lama de quem defende organizadamente o
retorno ao fascismo ou similar e ao crime organizado em estado é
que é proibido pela constituição. Mas até esses falam
livremente, sem receio de serem presos.
É intolerável, por isso, que nos roubem as livres
assinaturas. É degradante vivermos com quem – um de entre nós,
professores – é bicho que rouba as nossas assinaturas. Quem
assim procede é um monstro e anseia alimentar-se de almas. Só
pode ser um diabo chifrudo, reconhecível pelo cheiro a ideias
podres.
Arsélio Martins
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