Escola Secundária José Estêvão, n.º 19, Maio de 1997


a escola e o mundo do trabalho

 

Os "Encontros no Secundário" serviram, em primeiro lugar, para trazer o debate para a escola, permitindo aos professores a partilha com os seus pares dos grandes problemas do ensino secundário, sua estrutura, currículo, aprendizagens, os seus pontos críticos, as suas potencialidades, e ainda como repensar a autonomia da escola vista em função de um projecto educativo.

A associação de escolas da "zona de Aveiro" acrescentou ao debate o tema 'A Escola e o Mundo do Trabalho", cuja importância não sei se é importante saber-se. De facto, os meios de comunicação escrita e audiovisual costumam dar maior relevo aos problemas dos alunos que pretendem ingressar no ensino superior, embora estes não sejam a maior parte, comparando o seu número com a totalidade dos alunos que ingressaram no" sistema" na mesma data.

Mas o tema "A Escola e o Mundo do Trabalho" tem a importância de permitir distanciar a Escola Secundária do Ensino Superior, ao configurar o ensino secundário com um fim em si mesmo, impondo como primeira questão saber se existe de facto alguma ligação entre a escola e o mundo do trabalho (ou, não existindo, saber como deverá ser feita) É importante, portanto, saber se um aluno após concluir o ensino secundário, e por via disso, pode ingressar com "facilidade" no mundo do trabalho. Que via deve seguir um aluno cujo percurso académico, no imediato, não pretende ir além do ensino secundário? Deverá ser assegurada, a todo o custo, a possibilidade do seu ingresso no ensino superior?

As conclusões a seguir apresentadas resultam de dois dias de trabalho/reflexão. O primeiro realizado no passado dia 24 de Abril na Escola Secundária José Estêvão, e o segundo realizado no passado dia 6 de Maio na Universidade de Aveiro, reunindo representantes de escolas da "zona de Aveiro" .

Nem todas as escolas tinham dedicado um dia ao debate dos temas, apontando-se como principal causa a recepção tardia dos textos Na maioria das escolas a apreciação dos documentos tinha sido feita em reunião do Conselho Pedagógico. Mesmo assim houve consenso em reconhecer a relação clara do tema com os cursos tecnológicos (CSPOVA) e com os cursos profissionais

Concluiu-se que a generalidade dos actuais cursos tecnológicos não prepara bem os alunos para uma profissão, sendo mesmo duvidoso que esse seja o seu objectivo. Se assim fosse, como entender por exemplo a existência do Curso Tecnológico de Comunicação em Sever do Vouga, único curso / 21 / tecnológico numa escola rodeada por indústrias metalomecânicas e da transformação da madeira? E este curso tecnológico visa claramente alguma área do trabalho? Será, portanto, muito importante rever a rede dos cursos tecnológicos.

Talvez porque as escolas profissionais estavam fortemente representadas (não só numericamente), foi colocada a questão de valer a pena a escola secundária continuar a oferecer a variante CSPOVA quando isso pode ser feito pelas escolas profissionais e reconhecendo-se que há escolas profissionais que cumprem muito bem o seu papel, porque estão bem inseridas no meio envolvente e porque têm mais autonomia na sua gestão.

Devo abrir aqui um parênteses para evidenciar o facto de estes encontros terem revelado um "novo" parceiro, porque até aqui quase desconhecido, que são as escolas profissionais. São na quase totalidade de iniciativa privada, resultam muitas vezes da necessidade de formação para dar resposta a questões concretas de emprego, a nível local, e estão ligadas a associações. São obviamente tuteladas pelo Ministério da Educação e têm ligações fortes com o Ministério do Emprego. São muito poucas as escolas profissionais que não tenham as características anteriores (isto é, que sejam claramente oficiais) e destas a grande maioria são escolas agrícolas ou artísticas.

Perante a novidade que constituiu a apresentação das escolas profissionais, e reconhecendo-se que trouxeram aspectos positivos para o sistema de ensino (mas que nem todas são exemplares no modo de funcionamento, tal como acontece também com escolas do ensino público, oficiais ou particulares), deve ser repensada a oferta no ensino secundário. As escolas profissionais reivindicam para si todo o ensino secundário que não seja de carácter geral (CSPOPE). Acham que praticamente nada distingue os cursos tecnológicos dos cursos profissionais, nem mesmo as designações são diferentes, e têm a vantagem de trabalhar com um número reduzido de alunos, não sendo portanto uma escola de massas, o que lhes permite melhores taxas de sucesso.

Apesar de todas estas vantagens, o ensino profissional ainda tem um longo caminho para percorrer, para ser divulgado e aceite pela população em geral.

As conclusões gerais foram então as seguintes:

O ensino secundário regular deve continuar a oferecer as duas vias actuais: os cursos de carácter geral (CSPOPE) e os cursos tecnológicos (CSPOVA).

O ensino profissional e o ensino artístico devem fazer parte de um subsistema distinto do ensino secundário regular. Este tipo de ensino deve ser mais divulgado, não devendo ser o seu papel de ensino recorrente.

A rede escolar dos cursos tecnológicos deve ser revista, para que as escolas possam oferecer cursos ligados às características da sua região.

As componentes de formação dos cursos tecnol6gicos devem ser revistas, reduzindo a carga / 22 / horária na formação geral, direccionando a formação especifica e dando à formação técnica um carácter predominantemente prático.

Os cursos tecnológicos devem dar a garantia de os seus alunos poderem realizar um estágio, para que fique claro quais são os objectivos do curso. Não se pretende com isto dizer que um curso tecnológico prepare para uma profissão, porque este conceito é actualmente pouco claro, mas deve preparar para uma certa área de actividade.

A certificação destes cursos (e provavelmente de todos aqueles que a escola oferece) deve ser feita a nível da escola, dentro da sua autonomia e projecto educativo. Não nos devemos preocupar com o facto de a escola vizinha (ou da região vizinha, ou ...) "dar" melhor notas, porque isso é importante para entrar na universidade. Isso é um problema do Ensino Superior, não é da Escola Secundária.

Deve existir na escola um Observatório de Emprego, integrando os Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional, para promover a ligação da escola com o meio envolvente, estabelecendo contactos com o Mundo do Trabalho.

(António José Moreira Antunes, moderador/relator)

 

 

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