a escola e o mundo do trabalho
Os "Encontros no Secundário" serviram, em primeiro lugar,
para trazer o debate para a escola, permitindo aos professores a
partilha com os seus pares dos grandes problemas do ensino secundário,
sua estrutura, currículo, aprendizagens, os seus pontos críticos, as
suas potencialidades, e ainda como repensar a autonomia da escola vista
em função de um projecto educativo.
A associação de escolas da "zona de Aveiro" acrescentou
ao debate o tema 'A Escola e o Mundo do Trabalho", cuja importância não
sei se é importante saber-se. De facto, os meios de comunicação escrita
e audiovisual costumam dar maior relevo aos problemas dos alunos que
pretendem ingressar no ensino superior, embora estes não sejam a maior
parte, comparando o seu número com a totalidade dos alunos que
ingressaram no" sistema" na mesma data.
Mas o tema "A Escola e o Mundo do Trabalho" tem a
importância de permitir distanciar a Escola Secundária do Ensino
Superior, ao configurar o ensino secundário com um fim em si mesmo,
impondo como primeira questão saber se existe de facto alguma ligação
entre a escola e o mundo do trabalho (ou, não existindo, saber como
deverá ser feita) É importante, portanto, saber se um aluno após
concluir o ensino secundário, e por via disso, pode ingressar com
"facilidade" no mundo do trabalho. Que via deve seguir um aluno cujo
percurso académico, no imediato, não pretende ir além do ensino
secundário? Deverá ser assegurada, a todo o custo, a possibilidade do
seu ingresso no ensino superior?
As conclusões a seguir apresentadas resultam de dois dias
de trabalho/reflexão. O primeiro realizado no passado dia 24 de Abril na
Escola Secundária José Estêvão, e o segundo realizado no passado dia 6
de Maio na Universidade de Aveiro, reunindo representantes de escolas da
"zona de Aveiro" .
Nem todas as escolas tinham dedicado um dia ao debate dos
temas, apontando-se como principal causa a recepção tardia dos textos Na
maioria das escolas a apreciação dos documentos tinha sido feita em
reunião do Conselho Pedagógico. Mesmo assim houve consenso em reconhecer
a relação clara do tema com os cursos tecnológicos (CSPOVA) e com os
cursos profissionais
Concluiu-se que a generalidade dos actuais cursos
tecnológicos não prepara bem os alunos para uma profissão, sendo mesmo
duvidoso que esse seja o seu objectivo. Se assim fosse, como entender
por exemplo a existência do Curso Tecnológico de Comunicação em Sever do
Vouga, único curso
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tecnológico numa escola rodeada por indústrias metalomecânicas e da
transformação da madeira? E este curso tecnológico visa claramente
alguma área do trabalho? Será, portanto, muito importante rever a rede
dos cursos tecnológicos.
Talvez porque as escolas profissionais estavam fortemente
representadas (não só numericamente), foi colocada a questão de valer a
pena a escola secundária continuar a oferecer a variante CSPOVA quando
isso pode ser feito pelas escolas profissionais e reconhecendo-se que há
escolas profissionais que cumprem muito bem o seu papel, porque estão
bem inseridas no meio envolvente e porque têm mais autonomia na sua
gestão.
Devo abrir aqui um parênteses para evidenciar o facto de
estes encontros terem revelado um "novo" parceiro, porque até aqui quase
desconhecido, que são as escolas profissionais. São na quase totalidade
de iniciativa privada, resultam muitas vezes da necessidade de formação
para dar resposta a questões concretas de emprego, a nível local, e
estão ligadas a associações. São obviamente tuteladas pelo Ministério da
Educação e têm ligações fortes com o Ministério do Emprego. São muito
poucas as escolas profissionais que não tenham as características
anteriores (isto é, que sejam claramente oficiais) e destas a grande
maioria são escolas agrícolas ou artísticas.
Perante a novidade que constituiu a apresentação das
escolas profissionais, e reconhecendo-se que trouxeram aspectos
positivos para o sistema de ensino (mas que nem todas são exemplares no
modo de funcionamento, tal como acontece também com escolas do ensino
público, oficiais ou particulares), deve ser repensada a oferta no
ensino secundário. As escolas profissionais reivindicam para si todo o
ensino secundário que não seja de carácter geral (CSPOPE). Acham que
praticamente nada distingue os cursos tecnológicos dos cursos
profissionais, nem mesmo as designações são diferentes, e têm a vantagem
de trabalhar com um número reduzido de alunos, não sendo portanto uma
escola de massas, o que lhes permite melhores taxas de sucesso.
Apesar de todas estas vantagens, o ensino profissional
ainda tem um longo caminho para percorrer, para ser divulgado e aceite
pela população em geral.
As conclusões gerais foram então as seguintes:
▪
O ensino secundário regular deve continuar a oferecer as duas vias
actuais: os cursos de carácter geral (CSPOPE) e os cursos tecnológicos
(CSPOVA).
▪
O ensino profissional e o ensino artístico devem fazer parte de um
subsistema distinto do ensino secundário regular. Este tipo de ensino
deve ser mais divulgado, não devendo ser o seu papel de ensino
recorrente.
▪
A rede escolar dos cursos tecnológicos deve ser revista, para que as
escolas possam oferecer cursos ligados às características da sua região.
▪
As componentes de formação dos cursos tecnol6gicos devem ser revistas,
reduzindo a carga
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horária na formação geral, direccionando a formação especifica e dando à
formação técnica um carácter predominantemente prático.
▪
Os cursos tecnológicos devem dar a garantia de os seus alunos poderem
realizar um estágio, para que fique claro quais são os objectivos do
curso. Não se pretende com isto dizer que um curso tecnológico prepare
para uma profissão, porque este conceito é actualmente pouco claro, mas
deve preparar para uma certa área de actividade.
▪
A certificação destes cursos (e provavelmente de todos aqueles que a
escola oferece) deve ser feita a nível da escola, dentro da sua
autonomia e projecto educativo. Não nos devemos preocupar com o facto de
a escola vizinha (ou da região vizinha, ou ...) "dar" melhor notas,
porque isso é importante para entrar na universidade. Isso é um problema
do Ensino Superior, não é da Escola Secundária.
▪
Deve existir na escola um Observatório de Emprego,
integrando os Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional, para
promover a ligação da escola com o meio envolvente, estabelecendo
contactos com o Mundo do Trabalho.
(António José Moreira Antunes, moderador/relator)
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