Escola Secundária José Estêvão, n.º 19, Maio de 1997

 

Currículo / programas / aprendizagens

 

Sem se pretender escamotear a pertinência dos temas propostos, achou-se importante salientar outros, tidos como relevantes, o que levou a uma "reformulação" da "problemática" proposta.

Assim, num dos grupos de trabalho entendeu-se que a resposta mais esclarecedora a algumas afirmações ou questões, apresentadas no documento 1, seria a reformulação destas ou mesmo a formulação de outras; a reflexão dos outros dois grupos de trabalho incidiu preferencialmente sobre tópicos que traduzirão de alguma maneira as preocupações mais prementes dos intervenientes.

É feita uma síntese que procura acentuar os aspectos consensuais.

Relativamente ao documento, e sem se querer pôr em causa a intencionalidade dos seus autores, foi reconhecida a natureza "fechada" do discurso: a problemática que propõe "encerra-nos" na ideologia, nos pressupostos, daqueles que a propõem.

Como exemplos do que acaba de ser dito, podemos citar algumas afirmações:

1. «Se se aceitar, na linha do que parece ser uma corrente teórica dominante, que a cultura do futuro ou é tecnológica ou não o é de todo, qual o melhor caminho para o realizar?

Os dois caminhos diferenciados actuais (cursos gerais/cursos tecnológicos) ou a refundação de um modelo que aglutina num só as linhas até agora dicotómicas (ciência/técnica)?» (pág. 36)

Sem entrar em discussões sobre o que se deverá entender como "cultura tecnológica" e como "cultura do futuro" ou da relação entre as duas, poder-se-á propor a seguinte reflexão:

A existir actualmente alguma dicotomia ciência/técnica significativa, esta será relevante para a dicotomia cursos gerais/cursos tecnológicos, para a opção por um modelo com vias diferenciadas ou não?

Ou será uma questão de diferenciação prévia de perspectivas de vida: de "prefiguraçao" de diferenças de padrões de vida, estatutos sociais e remuneratórios que legitimamente se recusa quando se identificam alternativas (lembremos o insistentemente recordado "ensino técnico")?

Haverá algumas medidas que os sistemas educativos possam tomar para reduzir o fosso entre as duas vias? A adopção de um modelo aglutinador contribuirá para isso? / 11 /

2. «Naturalmente, a situação de crise do nosso sistema de ensino é objecto de uma preocupação social crescente.» (pág. 58).

Esta afirmação traduz a atitude dominante face aos problemas dos Sistemas Educativos: as causas de eventuais disfunções devem ser procuradas na Escola, corrigindo o que estiver mal... [nós, pacatos cidadãos, não temos qualquer responsabilidade, limitámo-nos a mandar os nossos filhos para a escola...). Entendeu-se, portanto, que se deverá dizer:

Naturalmente, a situação de crise do nosso sistema social é objecto de uma preocupação educativa crescente

Deste ponto de vista, propuseram-se as seguintes questões fundamentais:

A. Falhanço dos sistemas educativos ou da espécie humana?

B. Será possível qualquer reforma educativa efectiva não enquadrada numa dada reforma sócio-económica?

 

"O CURRÍCULO-PLANO / PRESCRITO" ESCRITO

O que o determina?

A. O que os autores:

- aprenderam?

- acham que deveriam ter aprendido?

- acham que se deve passar a aprender?

- aprenderam sobre o que se deve aprender?

- pensam que se tem aprendido?

- pensam que outros pensam que se deve aprender?

 

UMA “NOVA" PROBLEMÁTICA EDUCATIVA

1. A escola propõe uma forma de vida?

2. A escola determina um modo de viver?

3. A escola ajuda a viver (melhor)?

Opiniões

– Necessidade da componente humanística, pois as grandes mudanças verificam-se a nível das tecnologias e a Escola corre o risco de sobrevalorizar a vertente tecnológica. / 12 /

– A Escola Básica e a Escola Secundária deverão ter maior influência na vida social dos alunos.

– O grande papel da Escola é fornecer os instrumentos para que o indivíduo possa intervir na Sociedade.

 

CURRÍCULO-APRENDIZAGEM

Qual será o verdadeiro contributo de factores como:

Grupo social?

Meio familiar?

expectativas sócio-económicas?


Opiniões consensuais

– Elevado n.º alunos/turma;

– Carga horária excessiva;

– n.º excessivo de disciplinas

– dispersão de interesses e obrigações (heterogeneidade de discentes e docentes)

 

PLANOS DE ESTUDO

Muitos dos valores, atitudes, saberes, comportamentos, que fazem parte dos Currículos, não estarão desajustados da experiência quotidiana comum (culto do poder-dinheiro, o prestígio social como fim em si mesmo, a vioIência...)?

Não deveriam estar?

 

Ideias consensuais

– n.º elevado de disciplinas

– Componente de formação técnica/artística nos CSPOPE demasiadamente 'pesada’: falta de tempo para trabalhar as matérias tratadas nas aulas, para reflectir, para pesquisar, para ter tempo de ter dúvidas... para ser também jovem...

– Elevado n.º alunos/turma

– dispersão de interesses e obrigações (heterogeneidade de discentes e docentes)

– Falta de capacidade da escola para acompanhar as novas tecnologias determinados pelos avanços científicos, logo, inviabilização das experiências em disciplinas como TLB, TLF e TLQ, que são / 13 / remetidas para as universidades "onde os alunos trabalharão de facto em laboratórios e caminharão para a especialização".

 

Sugestões

– redução da carga horária da componente técnica para 2 h / semana (no CSPOPE);

– redução do número de disciplinas, maior pragmatismo e maior especialização (no CSPOVA).

 

PROGRAMAS

Ideias consensuais

– Extensão excessiva dos programas/carga horária excessiva.

– Insuficientemente documentados (necessidade das OGP);

– Falta de informações e de documentação (cursos nocturnos)

– programas das disciplinas de formação geral e de formação específica com menor pendor “enciclopedista" e "academicista" privilegiando os “saberes essenciais";

– especialização caberá ao ensino universitário.

 

ÁREA-ESCOLA

Será legítimo, desejável, os sistemas educativos / as escolas proporem atitudes práticas incompatíveis, não desejadas ou mesmo desvalorizadas na “realidade quotidiana”?

A ÁREA-ESCOLA contém elementos da "Escola do Futuro”, mas está inserida na mesma “Escola do Presente”. E o que ela tem revelado é que ainda faltam alguns anos para o “Futuro”...

Pretendia-se que a modalidade do “Projecto" e a figura "área escola" fossem os mecanismos pelos quais a Escola se “adaptaria" e interactuaria com o "meio exterior": o desenvolvimento de projectos centrados em temas 'transdisciplinares" “considerados relevantes", escolhidos de acordo com interesses ou necessidades, nacionais, regionais ou locais, tornaria a escola num organismo aberto e interveniente, esperando-se que, concomitantemente, os alunos adquirissem “os perfis de competências previamente definidos".

 

Aspectos consensuais

– Não acompanhada de condições mínimas de realização, “essencialmente ao nível da estrutura curricular”

– Validade dependente da definição do que virá a ser o Ensino Secundário.

 

Sugestões:

– continuação como matéria curricular obrigatória, mas acompanhada de uma estrutura curricular / 14 / com carga horária reduzida;

– A área-escola como componente cultural: Projecto autónomo, com objectivos e metas específicos (e carga horária própria, baseada na experiência das experiências extra-curriculares (clubes, atelier-pintura, cerâmica, fotografia, música, teatro, cinema, poesia, artesanato);

– necessidade de desresponsabilização dos professores relativamente a eventual fracasso.

– formação de professores para o trabalho da Área-Escola.

 

Avaliação/CLASSIFICAÇÃO

– Exames: divergência entre os objectivos e as práticas preconizadas para o Ens. Secundário (hipocrisia do sistema)

– Provas Globais devem terminar, quer no EB., quer no E.S.. A prática pedagógica permite afirmar que:

a) não são operacionais;

b) não são bons instrumentos de medida;

c) não introduzem dados novos na avaliação contínua.

– Acordo com as desvantagens enunciadas no Doc. Reflexão; desacordo quanto a visão das provas globais como meio de promoção de um trabalho de coordenação eficaz dos docentes

– Desburocratização do sistema pela realização das provas a nível de turma

 

Progressão no Ensino Secundário

Acordo com "regime misto" em vigor (de classe e de disciplina);

Desacordo com a não fixação de uma nota mínima no último ano das disciplinas bienais e trienais, permitindo a aprovação mesmo com classificações muito baixas no último ano (ex. 13 + 12 + 4).

Sugestão de nota mínima: 8 valores.

 

Prosseguimento de estudos

O ingresso no "Ensino Secundário" pressupõe que as aprendizagens básicas foram minimamente satisfeitas no final do ciclo, particularmente quando houver o propósito de "prosseguimento de estudos". Existência de aferição, no final do 3.º ciclo, das competências básicas nos domínios da língua portuguesa e do raciocínio matemático, através de exame a nível nacional:

Aprovação para “prosseguimento de estudos" como condição de candidatura ao ensino universitário; alunos que não tenham obtido essa aprovação ingressarão automaticamente nos CSPOVA e nas Escolas Profissionais – possibilidade de ingresso no ensino superior através de exame final do ciclo (12.º ano).

Não é pretendido qualquer tipo de discriminação, mas sim a valorização de competências e capacidades, que se entende não estar a ser feita de forma a promover a qualidade.

(Carlos Alberto Baptista Leite, moderador/relator)

 

 

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