Análise do estágio
1989/90 pelas estagiárias
Metodologia utilizada:
Após conclusão do estágio, efectuadas as respectivas
classificações e registadas no correspondente livro de termos da U. A,
pedi, para o meu feed-back, uma análise à minha orientação que me
auxiliasse em eventuais outras orientações.
Eis os relatos:
«A principal lição que retiro do meu estágio é que ele
ainda não chegou ao fim. Pelo contrário, mostrou-me ser apenas o começo
do muito que ainda tenho de conhecer e explorar, quer a nível de mim
própria como pessoa, quer nos domínios psico-pedagógico e social. Este
ano permitiu-me ter outra perspectiva do que é o domínio de uma ciência.
Tive necessidade de articular os conhecimentos, que até aí tinha de uma
forma estanque. Evoluí também no sentido de ser mais prospectiva. As
teorias pedagógicas que me pareciam de impossível aplicação, podiam ser
harmoniosamente utilizadas na sala de aula.
Confesso que o ensino numa perspectiva conceptualizante é
o que mais me cativa, embora reconheça a dificuldade que tive em o
aplicar. A aprendizagem progressiva dos alunos, partindo do que já
conheciam, o seu empenho, a sua participação activa, a descoberta por
eles mesmos.
Durante o estágio aprendi a ser mais confiante e
desenvolvi capacidade de diálogo e de criar novas relações.
Consciencializei-me que é preciso ser um elemento activo, atento e
transformador.
Aprendi também a ser mais frontal e a não me calar
enquanto me sinta convencida da razão.
Durante o ano esforcei-me por lutar contra dificuldades
que foram surgindo (compreender os conceitos científicos deforma
integrada); características pessoais (insegurança e pessimismo)
bloquearam-me durante parte do ano. Durante essa fase, todo o núcleo me
ajudou e então algo se modificou e eu acordei. Tenho pena do tempo
perdido em que não "via". Agora é que me sentia bem para começar.
Se o estágio fosse mais longo, permitir-me-ia outro
rendimento. Considero que o estágio foi muito importante. Adquiri
maturidade e comecei a crescer. Terei de continuar, embora já não tenha
a presença do grupo.
No início tudo eram ilusões! Que importava o plano ser
bom se não o sabia executar. Quando o orientador nos ensinava a ensinar
ou melhor, nos ensinava a aprender...
Num estágio como o nosso, não se ensina nada sem que se
tenha compreendido primeiro.
Aprendi a articular ciências da educação e da
/
26 / especialidade.
Valia a pena sentir ao fim de árduas horas de
planificação, como tudo se simplificava nos 50 minutos de aula.
No fim deste ano senti ter valido a pena ter feito esta
opção profissional.»
...Estágio e sua continuidade?
«O conceito de formação de
professores identifica-se, cada vez mais, com o processo de
desenvolvimento permanente do professor.
Neste processo podem distinguir-se as fases seguintes:
1.º – A de formando (candidato a professor)
2.º – A de estagiário
3.º – A indução profissional (professor nos primeiros
anos de serviço)
4.º – A formação contínua
(adaptado de Ribeiro. AC)
Cada uma das anteriores fases era susceptível de suscitar
diversas questões.
Por razões óbvias fazemos a introdução pela 2.ª fase (a
de estagiário) que, em Portugal, é cumulativa com a de professor
eventual. Ficam para reflexão as palavras de Gaston Mialaret: «Não
temos o direito, sob o pretexto de que a formação de um educador exige
que ele seja colocado num momento ou noutro em presença de alunos, de
pôr um jovem estudante numa situação tal que se corra o risco de ele
traumatizar os alunos. As crianças das nossas escolas não são cobaias.
Trata-se portanto de encontrar uma progressão tal que, no momento em que
seja necessário ao plano de acção, o jovem aprendiz possa evitar os
principais erros e se encontre nas condições máximas de sucesso, tanto
para ele como para os seus jovens e novos alunos.
Afirma-se, de uma forma um pouco demagógica, que é
preciso deixar o jovem estudante só, numa aula, para que ele adquira
experiência, para que descubra a sua pedagogia, chega-se mesmo a negar a
presença do professor de pedagogia para ajudar o jovem educador a tomar
consciência quer das suas qualidades quer dos seus defeitos, mas
esquece-se que o material sobre o qual se fazem as experiências é um
material humano e não se vê em nome de que princípios se oferecem em
holocausto grupos que não vieram para a escola para servir de cobaias às
ingénuas, inúteis e por vezes perigosas tentativas do novato. Ser
educador, como diria o Senhor de La Palisse, é ser capaz de educar...
Nós afirmamos que a profissão de educador exige esse mínimo de formação
que evite ao principiante recomeçar incansavelmente os erros que já
foram feitos pelos seus predecessores.»
O professor Carrilho Ribeiro caracteriza a fase de
indução profissional do modo seguinte: «Período
de formação destinado a professores recém-formados que, tendo completado
todos os requisitos necessários para a docência (inclusive a prática
pedagógica e/ou estágio pedagógico) se encontram no seu primeiro ano de
serviço, assumindo as responsabilidades inerentes à docência e comuns
aos professores com mais experiência.
Os programas de "indução profissional" visam proporcionar
a esses professores um apoio sistemático no exercício das funções, sob a
orientação dum professor da escola e com essa responsabilidade... A
assistência e apoio pretendidos pelos professores recém-formados
respeitam, sobretudo, a problemas concretos e preocupações de ordem
prática sós na sala de aula e na escola.»
Da indução profissional, que reputamos de essencial,
parece-nos irradiar um carácter formativo.
Reportemo-nos agora ao Estatuto da Carreira docente do
ensino não superior (D-L 139-A/90) e ao inédito período probatório
(art.º 32). Período probatório será a nossa lusa designação de indução
profissional? A sua função é também formativa ou o legislador
preocupou-se essencialmente com
/
27 / aspectos classificativos?
Finalmente abordemos a "formação contínua" que, desde
sempre, ansiosamente aguardamos. O seu ineditismo apenas se refere à
legalização, pois os professores, embora sem qualquer crédito
profissional ou ano sabático e à custa dos seus modestos recursos
financeiros, não têm deixado de realizar essa formação.
Nas palavras de Landsheere, G. «A maioria das vezes,
os docentes tiram ao seu tempo de ócio, o tempo necessário à formação
continuada...»
Certamente que muitas vezes poderá ser designada por
pseudo-formação, por carácter de um aval formalmente oficial, mas seria
injusto não reconhecer publicamente essa velha preocupação do abandonado
grupo dos professores de ensino não superior. (Não pensamos em
reivindicar esses créditos. Esse é um problema ético para a comunidade).
Mas felizmente que a dicotómica classificação dos professores permitiu
criar instituições superiores para a formação inicial e contínua.
Assistimos e compreendemos aos acentuados fenómenos de "input" que se
verificaram em tais instituições superiores. Agora ficamos ansiosamente
à espera de beneficiar do seu "out-put".
«Se a formação ... fizer dos docentes verdadeiros
profissionais, isto é, especialistas de alto nível científico e técnico
como o cirurgião, o médico, o engenheiro, o economista, etc., o estatuto
e o prestígio dos docentes aproximar-se-ão dessas profissões...» (Landsheere.
G.)
Manuel Emílio Ferreira
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