Escola Secundária José Estêvão, n.º 1, Out.-Dez. de 1990

 

Análise do estágio 1989/90 pelas estagiárias

Metodologia utilizada:

Após conclusão do estágio, efectuadas as respectivas classificações e registadas no correspondente livro de termos da U. A, pedi, para o meu feed-back, uma análise à minha orientação que me auxiliasse em eventuais outras orientações.

Eis os relatos:

«A principal lição que retiro do meu estágio é que ele ainda não chegou ao fim. Pelo contrário, mostrou-me ser apenas o começo do muito que ainda tenho de conhecer e explorar, quer a nível de mim própria como pessoa, quer nos domínios psico-pedagógico e social. Este ano permitiu-me ter outra perspectiva do que é o domínio de uma ciência. Tive necessidade de articular os conhecimentos, que até aí tinha de uma forma estanque. Evoluí também no sentido de ser mais prospectiva. As teorias pedagógicas que me pareciam de impossível aplicação, podiam ser harmoniosamente utilizadas na sala de aula.

Confesso que o ensino numa perspectiva conceptualizante é o que mais me cativa, embora reconheça a dificuldade que tive em o aplicar. A aprendizagem progressiva dos alunos, partindo do que já conheciam, o seu empenho, a sua participação activa, a descoberta por eles mesmos.

Durante o estágio aprendi a ser mais confiante e desenvolvi capacidade de diálogo e de criar novas relações. Consciencializei-me que é preciso ser um elemento activo, atento e transformador.

Aprendi também a ser mais frontal e a não me calar enquanto me sinta convencida da razão.

Durante o ano esforcei-me por lutar contra dificuldades que foram surgindo (compreender os conceitos científicos deforma integrada); características pessoais (insegurança e pessimismo) bloquearam-me durante parte do ano. Durante essa fase, todo o núcleo me ajudou e então algo se modificou e eu acordei. Tenho pena do tempo perdido em que não "via". Agora é que me sentia bem para começar.

Se o estágio fosse mais longo, permitir-me-ia outro rendimento. Considero que o estágio foi muito importante. Adquiri maturidade e comecei a crescer. Terei de continuar, embora já não tenha a presença do grupo.

No início tudo eram ilusões! Que importava o plano ser bom se não o sabia executar. Quando o orientador nos ensinava a ensinar ou melhor, nos ensinava a aprender...

Num estágio como o nosso, não se ensina nada sem que se tenha compreendido primeiro.

Aprendi a articular ciências da educação e da / 26 / especialidade.

Valia a pena sentir ao fim de árduas horas de planificação, como tudo se simplificava nos 50 minutos de aula.

No fim deste ano senti ter valido a pena ter feito esta opção profissional.»

...Estágio e sua continuidade?

 «O conceito de formação de professores identifica-se, cada vez mais, com o processo de desenvolvimento permanente do professor.

Neste processo podem distinguir-se as fases seguintes:

1.º – A de formando (candidato a professor)

2.º – A de estagiário

3.º – A indução profissional (professor nos primeiros anos de serviço)

4.º – A formação contínua

(adaptado de Ribeiro. AC)   

Cada uma das anteriores fases era susceptível de suscitar diversas questões.

Por razões óbvias fazemos a introdução pela 2.ª fase (a de estagiário) que, em Portugal, é cumulativa com a de professor eventual. Ficam para reflexão as palavras de Gaston Mialaret: «Não temos o direito, sob o pretexto de que a formação de um educador exige que ele seja colocado num momento ou noutro em presença de alunos, de pôr um jovem estudante numa situação tal que se corra o risco de ele traumatizar os alunos. As crianças das nossas escolas não são cobaias. Trata-se portanto de encontrar uma progressão tal que, no momento em que seja necessário ao plano de acção, o jovem aprendiz possa evitar os principais erros e se encontre nas condições máximas de sucesso, tanto para ele como para os seus jovens e novos alunos.

Afirma-se, de uma forma um pouco demagógica, que é preciso deixar o jovem estudante só, numa aula, para que ele adquira experiência, para que descubra a sua pedagogia, chega-se mesmo a negar a presença do professor de pedagogia para ajudar o jovem educador a tomar consciência quer das suas qualidades quer dos seus defeitos, mas esquece-se que o material sobre o qual se fazem as experiências é um material humano e não se vê em nome de que princípios se oferecem em holocausto grupos que não vieram para a escola para servir de cobaias às ingénuas, inúteis e por vezes perigosas tentativas do novato. Ser educador, como diria o Senhor de La Palisse, é ser capaz de educar... Nós afirmamos que a profissão de educador exige esse mínimo de formação que evite ao principiante recomeçar incansavelmente os erros que já foram feitos pelos seus predecessores

O professor Carrilho Ribeiro caracteriza a fase de indução profissional do modo seguinte: «Período de formação destinado a professores recém-formados que, tendo completado todos os requisitos necessários para a docência (inclusive a prática pedagógica e/ou estágio pedagógico) se encontram no seu primeiro ano de serviço, assumindo as responsabilidades inerentes à docência e comuns aos professores com mais experiência.

Os programas de "indução profissional" visam proporcionar a esses professores um apoio sistemático no exercício das funções, sob a orientação dum professor da escola e com essa responsabilidade... A assistência e apoio pretendidos pelos professores recém-formados respeitam, sobretudo, a problemas concretos e preocupações de ordem prática sós na sala de aula e na escola.»

Da indução profissional, que reputamos de essencial, parece-nos irradiar um carácter formativo.

Reportemo-nos agora ao Estatuto da Carreira docente do ensino não superior (D-L 139-A/90) e ao inédito período probatório (art.º 32). Período probatório será a nossa lusa designação de indução profissional? A sua função é também formativa ou o legislador preocupou-se essencialmente com / 27 / aspectos classificativos?

Finalmente abordemos a "formação contínua" que, desde sempre, ansiosamente aguardamos. O seu ineditismo apenas se refere à legalização, pois os professores, embora sem qualquer crédito profissional ou ano sabático e à custa dos seus modestos recursos financeiros, não têm deixado de realizar essa formação.

Nas palavras de Landsheere, G. «A maioria das vezes, os docentes tiram ao seu tempo de ócio, o tempo necessário à formação continuada...»

Certamente que muitas vezes poderá ser designada por pseudo-formação, por carácter de um aval formalmente oficial, mas seria injusto não reconhecer publicamente essa velha preocupação do abandonado grupo dos professores de ensino não superior. (Não pensamos em reivindicar esses créditos. Esse é um problema ético para a comunidade). Mas felizmente que a dicotómica classificação dos professores permitiu criar instituições superiores para a formação inicial e contínua. Assistimos e compreendemos aos acentuados fenómenos de "input" que se verificaram em tais instituições superiores. Agora ficamos ansiosamente à espera de beneficiar do seu "out-put".

«Se a formação ... fizer dos docentes verdadeiros profissionais, isto é, especialistas de alto nível científico e técnico como o cirurgião, o médico, o engenheiro, o economista, etc., o estatuto e o prestígio dos docentes aproximar-se-ão dessas profissões...» (Landsheere. G.)

Manuel Emílio Ferreira

 

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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