Em princípios de Outubro, estávamos praticamente no
começo do ano lectivo de 2022/23, fui contactado por colegas ainda no
activo que me perguntaram se eu estaria disposto a dar o meu apoio na
publicação de um jornal, boletim ou revista escolar, um vez que havia o
desejo de retomar o boletim “Alternativas”, fazendo-o regressar à vida
activa. A primeira série terminou no número treze, pouco tempo antes da
escola entrar numa segunda fase de vida, com a renovação de todo o
edifício escolar. Entre o fim deste exemplar, publicado em Setembro de
2007, e o momento actual, decorreram quinze anos em que a Escola sofreu
uma completa mudança e não houve qualquer publicação escrita que desse
continuidade a uma longa tradição do antigo Liceu de Aveiro.
Com o grupo que me contactou, procurámos rever, numa
primeira fase, todas as publicações produzidas por Professores e Alunos.
Recorremos para tal ao espólio escrito da escola, disponibilizado no
espaço «Aveiro e Cultura». Consultámos as publicações disponíveis.
Encontrámos apenas três títulos, surgidos em diferentes momentos da vida
da Escola: “Farol”, publicado entre 1957 e 1970; “Sal de
Aveiro”, publicado em 1993 por iniciativa de professores e alunos da
turma do 7.º ano D; e o “Alternativas”, publicado entre 2000 e
2007.
Falta uma publicação importante, lembraram os colegas.
Então e o “Aliás”, publicado na década de 1990, numa altura em que o
País conheceu um profunda remodelação no ensino?
Pela minha parte, devo confessar que já não me lembrava
da existência desta publicação. Resolvemos ir procurá-la no lugar onde,
pela nossa lógica, deveria estar arquivada: na Biblioteca da Escola.
Em vão procurámos em todas as estantes. E agora? Como
eliminar esta «grave» lacuna? Como descobrir alguém que tivesse tido o
cuidado de os guardar para memória futura?
O melhor será contactarmos o nosso colega, já aposentado,
que estava à frente do “Aliás” – lembrou alguém do grupo.
Essa é uma boa ideia! – alvitrei eu. Deixem estar que eu
vou procurar contactar o nosso colega Arsélio, que era o redactor,
compositor dos jornais e também o autor de um elevado número de artigos.
Apesar de ele ter deixado de vir regularmente à escola, eu vou
contactá-lo telefonicamente. Em breve vos direi alguma coisa. Para já,
podem contar com a minha plena colaboração.
E demos por terminada a primeira reunião, efectuada no
gabinete do segundo andar da escola, onde continuo a ir regularmente e a
manter o trabalho, depois de um interregno, perdão, de um intervalo de
cerca de dois anos, devido a uma pandemia que assolou o planeta e,
infelizmente para nós, não se lembrou de deixar de fora o nosso País.
Pouco tempo depois, contactado telefonicamente o colega
Arsélio Martins, tive o prazer de me encontrar com ele no gabinete da
Secundária José Estêvão, onde me ocupo na manutenção do espaço de
cultura e de memórias iniciado em 2001. Trouxe-me uma colecção quase
completa da segunda série de exemplares, isto é, dos exemplares em
formato A5, entre os números 18 e 28, ou seja, uma colecção relativa ao espaço de
tempo entre 1997 e 2002; e juntamente com os exemplares pequenos, o n.º
1, em formato A4, publicado em 1990, e outras publicações, tais como
exemplares da revista "Labor", dois livros publicados pelo Centro de
Formação José Pereira Tavares e um jornal escolar da
responsabilidade das turmas M e N do 11.º ano de 1997/98.
Já em fase de colocação na Internet dos exemplares em
formato A5 do "Aliás", o colega José Caseiro lembrou-se que um antigo funcionário
da escola ocupara parte do tempo na procura de publicações dispersas nos
diferentes armários outrora disseminados por diversas salas da escola e
que as
arrumara num armário próximo do gabinete da Biblioteca onde ele
habitualmente trabalha. E a
pesquisa deu resultado. Conseguimos mais quatro exemplares em formato
A4.
Reconvertidos todos os exemplares que chegaram até nós,
ficámos apenas com 12 em falta, assinalados na montra de
publicações com um ponto de interrogação.
Quais as diferenças entre a versão electrónica e os
exemplares originais?
Sem qualquer exagero, poderemos dizer que as diferenças
são abissais.
Embora na reconversão tenhamos conseguido manter o
aspecto dos exemplares impressos, a verdade é que esta nova versão, além
de ser interactiva, dotada com índices de assuntos e autores, tem a
grande vantagem de ser de leitura muito mais fácil. Algumas das páginas
dos exemplares em formato A5 eram de leitura quase impossível. Nem mesmo
com a ajuda de uma lupa é fácil conseguir perceber o que está escrito em
algumas páginas.
Numa altura em que as novas tecnologias estavam em fase
inicial, o redactor e compositor principal entreteve-se a criar páginas
com uma mistura de caracteres em diferentes tamanhos, algumas vezes tão
pequenos que tornava a leitura difícil. Noutros casos, criou manchas
textuais em caracteres diminutos com formato de árvores ou desenhos
muito criativos, mas convidativos à não leitura, fazendo-nos lembrar as
letras minúsculas colocadas frequentemente nas apólices de seguros, para
desmotivar a leitura das cláusulas que só convêm às empresas
seguradoras.
Na versão electrónica os leitores poderão apreciar a arte
quase ilegível do compositor, mas têm também a possibilidade de clicar nela e
acederem a um texto decifrado ou ampliado com a lupa de 8
centímetros de diâmetro que utilizámos para entender o que estava
escrito. E nada mais digo, não vá o Arsélio aparecer aqui na Escola para
me puxar as orelhas.
Consultem os exemplares reconvertidos. Ficarão com uma
ideia daquilo que foi feito na Secundária José Estêvão, numa fase em que
o ensino em Portugal se encontrava numa fase de grande remodelação, não
sabemos se para melhor ou para pior, apesar de também termos passado
pela mesma experiência, tanto mais que, por esta ocasião, tivemos uma
fase de cerca de 15 anos a orientar estágios de Português dos Cursos de
Formação Integrada da Universidade de Aveiro, que só abandonámos quando
decidimos obter o Mestrado na Universidade do Minho.
Quando regressei à escola em 1995/96, à Secundária José
Estêvão, após um ano de licença sabática, tive ainda a oportunidade de
passar por uma nova experiência pedagógica, que teve o mérito de me
deixar excelentes recordações. Refiro-me ao Ensino Recorrente por
unidades capitalizáveis, durante o período nocturno, e que na Secundária
José Estêvão funcionou com excelente qualidade, sem os atropelos que
sucederam em algumas escolas do nosso País, atropelos esses que,
infelizmente para os nossos alunos, levaram à extinção deste modelo de
ensino.
Voltando à reconversão, eis, de forma sintética, as grandes
diferenças entre a versão original e a interactiva:
– Reprodução da maior parte dos artigos a uma coluna, em
vez de duas;
– Revisão completa dos textos, eliminando os vários erros
decorrentes de uma falta de revisão textual antes da impressão;
– Melhor qualidade dos textos, algumas vezes, se não
totalmente ilegíveis, pelo menos de dificílima leitura, o que certamente
terá desmotivado o leitor na época em que contactou directamente com a
publicação impressa.
– Infelizmente, a má qualidade dos originais não nos
permitiu uma melhoria das imagens, uma vez que na época os sistemas
informáticos ainda estavam muito longe da qualidade actual.
– A inclusão de índices dos artigos e dos autores, que
facilitam a pesquisa.
Pensámos ainda na criação de um índice onomástico, mas
cedo abandonámos a ideia. Se o fizéssemos, correríamos o risco de
chegar ao terceiro milénio com a reconversão por concluir.
Aveiro, 2 de Fevereiro de 2023
Henrique J. C. de Oliveira |