O Tojo

 

A emergir da vastidão do matagal
Um espinhoso e verdejante tojo
Parecia querer-me questionar:
– «Tu, a tentar conhecer o outro
E não te conheces a ti mesmo!»
Atingia-me em cheio o aforismo
De Tales de Mileto ou Aristóteles;
E o sedentário, cínico e falso tojo
De ameaçadores espinhos acerados
Conhecedor da gramática dos grilos
E da geografia de cobras e cigarras
Lograva o oiro das suas belas flores
Sobrevoadas por abelhas à compita
Beijadas pelo sol morno do outono
E acariciadas pelas brisas matinais;
Aquele tojo que, no seu inato desígnio
Rasga as vestes dos incautos
E fere a pele de quem o maltrata
É o mesmo que me leva a reflectir
Quando, no vento, me vem sussurrar:
– «Pouco sabes sobre a minha natureza
Como também não conheces a dos outros
Os que enxameiam a tua espécie
Com vidas arrogantes tão iguais à tua
Porque também não se auto conhecem
Enquanto eu, sempre igual: abomino, firo
E seduzo vagabundos ou nómadas como tu.»

                          Dezembro de 2024

 

 

05-12-2024