Guerra I

 

As pedras suspiram quando o coração
padece de angústia e medo,
a luz da verdade e da justiça
vai esmaecendo,
os tambores da guerra ribombam
sem sinais de cansaço,
o cavalo alado do desamor
desarvora em galope,
e um horizonte brumoso e roxo
ziguezagueia.

Reflorescem a madressilva, o aloendro
e viceja de novo a esperança
quando a desgraça , no acaso
da emergência
encontra a disponibilidade amiga
de um colo fraterno.

A guerra é o veneno, o ácido corrosivo,
a arma da Razão a vasquejar
nos paroxismos, e a transtornar
as consciências:
a de quem imerge no conflito
movido pelas circunstâncias,
e a de quem o promove
faiscando áscuas de rancor
na ânsia de pisar o supedâneo
do templo dos imortais.

Vejamos: nuns e noutros,
a mesma humanidade a descoberto
em fantástica dicotomia:
a unidade que somos, na multiplicidade,
paradoxo de sermos todos diferentes
sendo também todos iguais;
e sendo assim, será pois na diferença
que a verticalidade será capaz
de se ilustrar, abrindo uma réstia
de compreensão ou de compaixão
para encontrar um entendimento
em liberdade, harmonia, alegria, e paz
apagando de vez o fogo do ódio,
alimento do inferno,
sentimento de culpa de quem faz a guerra,
e sofrimento sem cura de quem a sofre.

                          Março de 2022

 

 

15-03-2022