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O
Campo de S. João. Clicar na imagem. |
O Rossio foi, durante anos, palco de feiras e ajuntamentos. Aqui se
realizou a tão conhecida Feira de Março, que trazia a Aveiro gentes das
aldeias e concelhos circunvizinhos.
No final do
século XV, a antiga freguesia de Nossa Senhora da Apresentação era a que
menos população tinha, devido à sua localização geográfica. A área entre
o Canal de S. Roque, o Largo do Rossio e o Cais dos Mercantéis era uma
zona alagadiça e dedicada à exploração do sal – "Marinha Rossia".
Ladeado pelas ruas de
Barbosa de Magalhães e de João Afonso, deparamo-nos com o Largo do
Rossio, anteriormente designado Campo de S. João, por, naquela altura,
existir, durante muitos anos, a famosa Capela de S. João. A sua
demolição, em 1911, permitiu a perspectiva de um amplo espaço para a
realização de feiras e ajuntamentos. É de realçar a dos "28" e a tão
conhecida Feira de Março.
Instituída por el-rei D.
Duarte, em 1434, começou a realizar-se na primeira semana de Maio,
sendo, mais tarde, transferida para Março. No início do século XX, a
feira tinha a duração de 15 dias: começava a 25 de Março, prolongando-se
até 9 de Abril.
O dia de abertura da feira,
que coincidia com a realização da Feira dos Barcos, trazia a Aveiro
gentes das aldeias limítrofes, que animavam a cidade com os seus
garridos e esbeltos barcos moliceiros, atracados no canal central. Um
cenário digno de se contemplar.
A Feira de Março era bem
diferente. Vendiam-se muitos produtos que não se encontravam nos
estabelecimentos usuais. Podia-se adquirir uma vasta gama de utensílios:
mobiliário, roupas, fazendas, calçado, panelas, quinquilharias,
brinquedos feitos de madeira e até mesmo ourivesaria – na feira vendiam
todos os ourives da cidade. A população regateava e tentava, de forma
convincente, ajustar o preço do que pretendia adquirir.
Vedada com barracas de
madeira, quase todos os anos era feito um frontal novo e diferente,
conforme o arquitecto responsável, que marcava a entrada do recinto.
As primeiras
barracas foram construídas com a madeira da antiga Praça de Touros, que
no largo existiu, fazendo as delícias dos aficionados locais. Era praça
desmontável, que só se armava na época das touradas. (Convirá referir
que, antes desta praça desmontável, ergueu-se no Rossio uma de pedra e
cal, segundo nos atestam fotografias da época que chegaram até nós. -
HJCO)
Guardadas em armazéns
situados por toda a Rua de Barbosa de Magalhães, as barracas eram
retiradas apenas em Janeiro – altura em que recomeçava a construção da
feira seguinte.
Em 1979, a Feira de Março
foi transferida para um local mais amplo e seguro: o Parque de Feiras e
Exposições.
Ladeando o Rossio, a Rua de
Barbosa de Magalhães não tinha quase comércio. Repleta de armazéns, na
rua apenas existiam uma sapataria e uma oficina de calçado. Hoje, há
estabelecimentos comerciais de restauração e de hotelaria, como, por
exemplo, o Hotel Moliceiro, recentemente inaugurado.
Não podemos ficar
indiferentes à imponente casa do major Mário Belmonte Pessoa. Apresenta
um avançado estado de degradação. É um edifício do início do Século XX
(obra terminada em 1909), com fachada "arte nova" e de requintada
execução arquitectónica, classificado como imóvel de interesse público,
e que merece por parte da autarquia e da população aveirense uma atenção
e carinho especiais. Ao lado do prédio, uma lápide, fixada numa pequena
casa, dos meados do século XVII, evoca o grande mestre Barbosa de
Magalhães.
Nos primeiros anos da década
de 1980, o Largo do Rossio tornou-se um espaço verde, de convívio e
lazer, onde famílias, crianças, pares de namorados e idosos podem
usufruir de uma paisagem espraiada em horizontes de luminosidade e cor,
transmitindo uma tranquilidade que nos faz sonhar.
Hoje...
Alguns problemas
Moradores, comerciantes e
transeuntes apontam como principal problema as inundações que
frequentemente ocorrem nesta zona baixa da cidade. As moradias e
estabelecimentos comerciais "visitados" pelas cheias vão sofrendo grande
desgaste.
Problema antigo que urge
resolver!
Para quem reside na zona e
por ali passa durante a noite, o pouco policiamento, alguma prostituição
e o tão polémico barulho, provocado pela grande afluência de gente nova
à Praça do Peixe – centro nocturno de animação e convívio.
Com o intuito de minorar
alguns dos problemas inerentes a um espaço verde subaproveitado, a
promoção de feiras do livro, espectáculos e outras iniciativas culturais
decerto trariam mais vida e movimento ao Rossio, à Ria e a Aveiro.
O Largo do Rossio é um
espaço amplo, bonito e agradável, que merece ser respeitado, animado,
vivido. |