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Recordando...

 
           
 

 

 

ão irei escrever – outros, por certo, o farão – acerca da formação da Companhia Voluntária de Salvação Pública "Guilherme Gomes Fernandes", nem irei contar algum, ou aIguns actos de valor e sacrifícios obrados pelos componentes da mesma, a qual foi fundada em 1908, pouco tempo depois do Clube dos Galitos (em 1905) se ter organizado, por cisão da Sociedade de Recreio Artístico.

Possivelmente, os seus organizadores, fiados no êxito obtido pela rapaziada dos Galitos (que insuflavam, com a sua rivalidade, nova vida no Recreio) pensaram, com a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Aveiro, obter êxito a qual pondo ao serviço da nossa terra, a de todos os concidadãos, a sua mocidade ardente e generosa.


E, porque Aveiro já tinha duas freguesias, duas confrarias do Senhor dos Passos, duas músicas e dois clubes, porque não ter também duas companhias de bombeiros?

Como se pretende, da minha colaboração neste opúsculo comemorativo do 75.º Aniversário, que se faça uma abordagem histórica da Companhia, suponho vir a propósito, a transcrição das achegas LXXVI e LXXVII que publiquei no “LITORAL”, em 1981, que contam um facto que eu reputo de muito importante para a época e que demonstra a dedicação do seu Corpo Activo e dos seus dirigentes pelo interesse e o bom nome dos Bombeiros Novos.

E... Como já estava escrito...

 

ACHEGAS PARA A HISTORIOGRAFIA AVEIRENSE

LXXVI. Em 1930, um grupo de Carolas dos "Bombeiros Novos", com o intuito de obter receitas para aquela corporação, lembrou-se de aproveitar o enorme entusiasmo que, nessa altura, havia pelas corridas de motos, organizando em Aveiro uma competição daquele género, convictos, como estavam, de conseguirem bons resultados financeiros, pois, para verem as corridas de motos, deslocavam-se, de longes terras, multidões de pessoas.

Estudaram qual seria o melhor local para a pista (em Aveiro ou nos arredores) e concluíram, com a ajuda de corredores profissionais que consultaram, que o triângulo formado pelas estradas saídas da Ponte da Barra para o Farol, e para a Costa Nova, pela marginal da Ria (linda estrada que os temporais estragaram e as autoridades não repararam a tempo e horas), até ao encontro da que, do Farol vai até à Costa Nova, seria a pista ideal, visto ter um percurso de 5 Kms, ser fácil de fechar ao trânsito (sem causar grande transtorno ao público) e a brisa marítima refrescar os motores das motos, mantendo-as em boa carburação. Além disso, as areias que bordam as estradas serviam, não só para os mirones observarem, sem perigo de maior, as provas, como, ainda, para amortecer os choques de quaisquer trambolhões que viessem a dar-se.

Houve quem entendesse (há-os sempre!) ser atrevimento tal organização e receasse o insucesso financeiro deste empreendimento, não só pela pista ficar afastada da cidade, como, também, por ser a sua área de difícil fiscalização, quer ao longo da Ria, quer ao longo do mar.

Com o entusiasmo dos organizadores e a boa vontade de todos os que aceitaram colaborar com eles, incluindo todas as autoridades, conseguiram levar a bom termo a tarefa a que se propuseram e / p. 30 / obter alguns resultados financeiros: foi uma boa experiência.

A Direcção das Estradas tomou ao seu encargo ter em boas condições o piso da pista, de forma a que os concorrentes não tivessem motivo para fazer reclamações. O Regimento de Cavalaria destacou soldados a cavalo para vigiar a estrada paralela ao mar; os Bombeiros encarregaram-se de vender os bilhetes em bilheteiras montadas em Aveiro, à entrada da Ponte da Barra e na estrada da Costa Nova; a Polícia de Segurança Pública determinou o encerramento, com a devida antecedência, do trânsito para a Costa Nova e para a Barra, estabelecendo que, quem tivesse necessidade de ir para aquela praia, se servisse da estrada de Ílhavo, devendo, para a Barra, os peões seguirem pelo paredão; e a Polícia também ajudou os Bombeiros nos problemas que surgiram com a missão de que estes estavam encarregados.

A organização – sem que ninguém, alguma vez, tivesse andado metido mesmas andanças – teve de montar a parte técnica da corrida: partidas e chegadas dos corredores; tempos gastos por cada um dos concorrentes; velocidades médias de cada volta; fiscalização da pista, etc., etc.

Disto se encarregou o meu saudoso amigo José Duarte Simão que, dotado de grande capacidade de organização e grande dinamismo, formou várias equipas com as quais discutiu o plano que idealizou e estudou e por quem distribuiu as missões que entendeu serem indispensáveis para se atingirem os fins em vista.

Para uma dessas equipas, também eu fui caçado – eu, que era todo dos "Bombeiros Velhos" –, não só pela amizade que havia entre mim e o Simão, mas, também, e principalmente, pelo facto de ter prática de cronometrar provas atléticas, e, apesar de não termos a aparelhagem que hoje há para este efeito, lá nos safámos, sem motivo para reclamações, daquela missão que, de entrada, nos pareceu um bicho de sete cabeças. E fomos ao pormenor de indicar os quintos de segundo, e o Simão, a indicar, de imediato, o tempo gasto em cada volta e a média horária a que este tempo correspondia.

E não havia as calculadoras electrónicas para fazer essas contas...

Continuarei.

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LXXVII. O José Simão (e a sua gente) instalou-se numa tribuna que, para aquele efeito, foi montada a meio da recta da estrada que do Farol vai até à Costa; e, dali e através de aparelhagem sonora, eram fornecidas ao público informações à medida que a prova se ta desenrolando.

Esta primeira corrida (denominada I CIRCUITO DO CENTRO DE PORTUGAL) foi realizada em 31 de Agosto de 1930, patrocinada pela Comissão Desportiva do Moto Clube de Portugal e constou de 40 voltas ao triângulo, ou seja 200 Kms, nela tomando parte motos de 500 C.c. e de 350 C.C., com os seguintes corredores: Manuel Machado em Triumph; Augusto Reis em Monet Gayon; Ângelo Bastos em New Hudson; Mário Teixeira em Rudg Withon; Rodrigues da Silva em New Hudson; Enrique Emiliano em Monet Gayon; Fernando Sousa em B.S.A.; e J. M. S. em New Hudson.

A melhor média obtida foi a de 81,874 Kms, por Mário Teixeira, seguindo-se-lhe a de 79,426, por Ângelo Bastos e a de 76,120, por Fernando de Sousa.

Os prémios distribuídos foram: 300$00 (trezentos escudos) em dinheiro, oferecidos pela Comissão Municipal de Turismo, uma taça de prata, oferta dos "Bombeiros Novos" e, ainda, medalhas de ouro e diversos objectos artísticos oferecidos por várias firmas da cidade.

Houve, apenas, um desastre, por choque, logo à primeira volta, com ferimentos sem muita gravidade, que foram tratados no Hospital.

Esta corrida trouxe a Aveiro – como se esperava – enorme multidão de entusiastas e o seu êxito foi tal que entusiasmou os "Bombeiros Novos" / p. 31 / a organizar, no ano seguinte, propriamente em 30 de Agosto, nova corrida (II CIRCUITO DO CENTRO DE PORTUGAL), esta já com o concurso da Comissão Desportiva do Moto Clube de Portugal, tendo a Comissão Organizadora ido a Vila do Conde – onde havia corridas deste género – ver uma prova e observar a organização da mesma.

Nesta segunda corrida já houve um Júri da Prova, composto pelo Presidente da Comissão Desportiva do Moto Clube de Portugal e pelos senhores Dr. Alberto Souto e Alberto Ruela. Vieram do Porto quatro cronomestristas oficiais; houve um Director de Corrida, o Engenheiro José Bernardes (das Obras Públicas) e foram Comissários Desportivos Manuel dos Santos Ivo, José Teles de Meneses, Humberto Trindade, António Osório e Herculano Graça.

Nova corrida se realizou (III CIRCUITO) em 28 de Agosto de 1932 e, nela, tomaram parte – e foram classificados – dois amadores aveirenses: José da Costa Canal, marujo do Centro de Aviação Naval, que correu em B.S.A. de 350 c.c. na categoria de "sport" (100 Kms) e Armando Pereira Campos, em Paroleia de 500 c.c., também na categoria de "sport" (125 Kms), os quais competiram, o primeiro, com António de Figueiredo, em New Imperial, e o segundo com Ângelo Bastos em Rudg e Jaime Correia Campos em Royal Enfield.

Na categoria de corridas (150 Kms) tomaram parte: Alexandre Black, Ângelo Bastos e Inocêncio Pinto, em Rudg; Mário Teixeira, em Norton e Ernesto Von Haff, em D K W.

Passou o grande entusiasmo das corridas de motos e aos carolas dos “Bombeiros Novos" passou também o interesse de repetir a prova que, para ser organizada, exigia muito trabalho, dispêndio de energias e de tempo e, ainda, a colaboração de pessoas estranhas aos Bombeiros.

Tenho pena de não prestar a minha homenagem a muitos dos que colaboraram nestas provas (que trouxeram a Aveiro muita gente e que deram origem a que, por todo o País, o nome da nossa terra fosse falado) trazendo para estas achegas os seus nomes.

Porém – e apesar de toda a minha boa vontade e das diligências que fiz –, não tive possibilidade de chegar até aos arquivos dos "Bombeiros Novos" porque estes – segundo me informaram devem estar para o sótão, juntamente com outra papelada, devido à falta de espaço – se é que lá estão.

Não estranhei este facto porque, na altura em que os "Bombeiros Velhos” fizeram cinquenta anos, foi resolvido editar um número comemorativo – que se fez, e a que chamamos HUMANITÁRIA –, e o ilustre aveirense Dr. Alberto Souto, então Presidente da Assembleia Geral, tentou consultar o artigo para elaborar uma monografia, e nada encontrou.

Ele e eu procedemos a averiguações e soubemos que o referido artigo foi, pelos comandantes Isaías e Firmino, ou queimado, ou vendido à farrapeira, por estar a ocupar espaço!

O mesmo aconteceu – soubemo-lo depois aos das duas Confrarias do Senhor dos Passos, em que ambos pontificavam!

Há quem – mesmo hoje – tenha a fobia dos papéis!

 
 

J. Evangelista de Campos

 
 

págs. 29 a 31

   

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