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        Tivemos o prazer de conhecer pessoalmente Ângelo Ribau em meados de 
        2010. Anteriormente, já havíamos trocado um razoável número de e-mails, 
        graças à colaboração deste amigo no «Arquivo Digital».  Foi graças a ele 
        que surgiram as páginas relativas a Pangala, uma vez que outras 
        localidades por onde ele foi obrigado a passar, na década de 1960, já se 
        encontravam disponibilizadas na Net. 
        
        
        
        Numa das trocas de palavras através do correio electrónico, falou-me de 
        um romance que eu começara a escrever na década de 1990 e que, a partir 
        de 2001, ficou encalhado a meio do 4º volume. Disse-me que também ele 
        começara a registar as suas memórias a pensar nos netos e nos vindouros 
        e mandou-me, terminado o trabalho, uma versão completa em Word, para eu 
        ler e ver o que poderia fazer. 
        
        
        
        Em Outubro desse mesmo ano (2010), convidou-me a ir a sua casa, à 
        Gafanha da Nazaré, para efectivamente nos podermos conhecer. Ainda 
        guardo a mensagem dele, com todas as indicações para não me perder no 
        percurso entre Aveiro e a Gafanha da Nazaré: «Moro 
        na Gafanha da Nazaré, na Rua Camilo Castelo Branco, nº 20. Vindo pela 
        A25 é a terceira saída, a que dá para o porto de pesca costeiro. Passa 
        uma rotunda e na 2ª vira à direita para dentro da Gafanha. Passa o Café 
        da Palmeira e segue sempre em frente. Não vire ligeiramente à direita. 
        100 metros à frente, junto a um armazém de vinhos está o nº 20, a minha 
        casa. Telef. 234361875 Telem. 914259109. Convém telefonar antes de vir 
        pois posso não estar em casa. Obrigado por tudo.» 
        
        
        
        Por todas estas indicações fornecidas, depreendi que este amigo não 
        deveria saber que eu estava a menos de 10 quilómetros de distância. E, 
        curiosamente, a rua indicada era uma das que eu costumava escolher nos 
        meus percursos ciclísticos pela zona, efectuando frequentemente um 
        triângulo que ligava Aveiro, Barra e Costa Nova, com paragem habitual no 
        Café Palmeira, para abastecimento da máquina, quando não calhava fazer 
        um desvio até ao Forte da Barra para matar saudades dos tempos em que, 
        ainda miúdo, antes de ir para as pescarias com um grupo de pessoas mais 
        velhas, parava na Pensão Germano para nos abastecermos de um «Cavalinho» 
        com gás, um vinho 
        branco em garrafão, para a refeição e hora de pausa, cerca do meio-dia, 
        quando íamos pescar para o molhe norte, ou para a praia em frente a São 
        Jacinto, local hoje desaparecido por ter dado lugar ao porto comercial. 
        
        
        
        Localizei facilmente a casa do amigo Ribau; e passámos uma tarde de amena 
        conversa, em que me mostrou as diferentes impressoras que tinha no seu 
        local de trabalho e descobrimos que partilhávamos os mesmos gostos. Ambos éramos apaixonados pela fotografia, com revelação e provas em 
        papel efectuadas pelos próprios nos nossos laboratórios pessoais. 
        
        
        
        Os tempos mudaram e esses rituais da fotografia já lá vão! E mudaram para melhor, 
        ao contrário de nós, que sempre vamos mudando para pior.  
        
        
        
        Nunca mais, debaixo do nariz, o 
        cheiro característico da revelação das películas e da fixação das 
        imagens. Nunca mais o trabalho quase às escuras, mais ou menos iluminado 
        de acordo com o tipo de tarefa em curso. Nunca mais aquelas actividades 
        já mecanizadas de cortar as folhas de papel fotográfico 18x24 cm, para 
        obtermos as quatro folhas 9x12 para impressão dos negativos com a ajuda do 
        ampliador e das imagens  projectadas sobre o papel. Nunca mais o 
        corte das tirinhas para controlo dos tempos de exposição. Nunca mais a 
        mudança das provas do revelador para o fixador, depois de passadas por 
        uma tina com água limpa. Nunca mais o trabalho de pendurar as provas a 
        secar ou de as colocar nas folhas de metal antes de irem para uma 
        esmaltadeira. Nunca mais o paciente trabalho de aparar o resultado do 
        nosso trabalho nas guilhotinas, ou lisas ou com recortes, para lhes 
        conferir um aspecto final mais uniforme e agradável ao olhar. Tudo isto 
        passou de moda. 
        
        
        
        A única coisa que para mim se manteve e nunca passou de moda foi o gosto pela fotografia. 
        
        
        
        Agora, em vez de laboratório fotográfico quase às escuras, é um trabalho 
        completamente às claras, em que o tratamento das imagens se faz 
        comodamente com o auxílio do computador e de boas ferramentas de edição 
        e tratamento digital.  
        
        
        
        Mas voltemos ao Ribau.
        A tarde de convívio em casa deste amigo passou num instante. 
        Despedimo-nos com a promessa de outros encontros que nunca chegaram a 
        realizar-se. 
        
        
        
        Em 5 de Novembro desse mesmo ano de 2010, pensei e estruturei um 
        conjunto de páginas, que dei a conhecer ao amigo Ângelo Ribau, destinada 
        exclusivamente ao alojamento de tudo quanto ele quisesse colocar na Net, 
        sendo ele o coordenador e organizador. No mesmo dia, coloquei no 
        servidor do Projecto Prof2000 as páginas com uma possível estrutura, na 
        qual o seu responsável poderia colocar não apenas as suas memórias, mas 
        também criar um espaço de cultura dedicado à sua terra, a Gafanha da 
        Nazaré. O futuro responsável consultou as páginas, gostou, mas... 
        Considerou que era demasiada areia para a sua camioneta, tanto mais que, 
        segundo ele, já existiam muitas páginas dedicadas ao tema. 
        
        
        
        E a verdade é que este bloco de páginas, devidamente estruturadas, 
        acabou por ficar esquecido no servidor até que, certo dia, recebo a 
        informação de um companheiro de armas, o amigo e colaborador Horácio 
        Tavares Marcelino, que me pedia para acrescentar no final das imagens de Pangala:  «Ângelo Ribau 
        (Pangala 1962-1963), grande artífice na construção deste aquartelamento 
        e autor, nomeadamente, de "Retalhos das Memórias de um ex-Combatente – 
        Angola 1962/1964", responsável pelo envio das imagens editadas neste 
        espaço comunitário, deixou de estar fisicamente entre nós em 11-08-2012. 
        É merecedor das nossas homenagens.» 
        
        
        
        Esta mensagem teve o condão de me recordar que, em tempos, tinha 
        colocado o material de Ângelo Ribau numa pasta, para posterior 
        tratamento e inclusão na Net. Prometi ao autor da mensagem que iria 
        procurá-lo e dar-lhe o devido tratamento. Uma breve pesquisa permitiu-me 
        localizar toda a documentação que Ângelo Ribau me havia confiado em 
        tempos. 
        
        
        
        E agora, volvido quase um ano após o falecimento de um amigo, e três 
        após a estruturação de um projecto que tinha ficado em banho-maria,  
        ei-lo que ressurge para memória dos vindouros. O texto das suas memórias 
        está rigorosamente de acordo com aquilo que me forneceu. A única 
        alteração verifica-se nas imagens. A sua maioria foi substituída por 
        outras com mais qualidade, há muito disponibilizadas nas páginas do 
        espaço «Aveiro e Cultura». 
        
        
        As imagens de Cambamba e 
        Pangala continuam nos mesmos locais originais, mas passaram também para 
        a página específica do autor, com uma versão em grande formato, na 
        dimensão de 700 pixels de largura. Outras poderão ser 
        acrescentadas, se houver quem as possua e as queira disponibilizar. 
        
        
        
        Na página principal deixamos intencionalmente um «Espaço para futura 
        rubrica?». Muito provavelmente nunca irá passar de uma mera hipótese. 
        Mas... Há companheiros e amigos de Ângelo Ribau que ainda por cá andarão 
        durante mais alguns anos. É para aqueles que disponham de elementos ou 
        de recordações e os queiram disponibilizar, antes que a nossa amiga da 
        foice acabe definitivamente com eles. 
        
        
        
        Esta é também a nossa homenagem a um amigo que, esperamos, continue vivo nas 
        nossas recordações por mais alguns anos. 
        
        Aveiro, 6 de Agosto de 2013 
        Henrique J. C. de Oliveira 
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