JORNAL N.º 1

ABRIL 1989
25 ALUNOS


ESCOLA SECUNDÁRIA HOMEM CRISTO - AVEIRO
COLABORA NO ENRIQUECIMENTO DO TEU JORNAL

SUMÁRIO

 

Editorial

 

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CULTURA
Conto
Poesia

 

Desporto

 

Passatempos

 

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da 1ª página

 
 
 
 
 











MOMENTO DE POESIA

A POBREZA

Fome, frio, abandono,
e eles sem lar.
As noites frias do Outono
dão vontade de chorar.

Batendo de porta em porta,
eles vão,
descalços no meio da rua,
de Inverno e Verão.

Sem nada para vestir,
eles pensam que o mundo é assim.
Aliás não sabem
qual será o seu fim.

Os ricos não gostam de ajudar.
Preferem ver sofrer
aquelas crianças que ao passar
pedem algo p’ra comer.

Este mundo cheio de miséria
precisa de se transformar.
Senão, entre o Outono e a Primavera,
eles irão acabar...

Patrícia, N.º 24, e Ana Madail, N.º 3.

Ouvi-te chamar...

Ouvi-te chamar....
Mas não sei o que te hei de responder.., porque afinal
não és quem eu queria que fosses.
Só sabes dizer que tudo ou talvez nada,
pois sabes que a nuvem depressa destapará

o sol que te anuncia o teu futuro risonho.
E é triste pensar que nada do que foi e será, 
que nada do que supus existir existirá...
E assim o mundo reveste-se de uma compreensão feita do nada,
de um amor que se fica apenas
por uma inalcançável utopia....
Sair de mim e voltar a ser quem fui
seria caminhar pelas trevas
sem me encontrar nunca mais....
Continuar nesta hipócrita e árdua ignorância
é já sofrer pelo sofrimento que me espera...
Ouvi-te chamar...
Necessito de tempo para parar... reflectir... 
e de novo te continuar a amar!

Marta Calisto, 10º D


Em todos os números de A FOLHA publicaremos um conto. Desta vez, o autor escolhido foi Miguel Torga. E o conto extraído da obra BICHOS.

JESUS

Comiam todos o caldo, recolhidos e calados, quando o menino disse:

- Sei um ninho!

A Mãe levantou para ele os olhos negros, a interrogar. O Pai, esse, perdido no alheamento costumado, nem ouviu. Mas o pequeno, ou para responder à Mãe, ou para acordar o Pai, repetiu:

- Sei um ninho!

O velho ergueu finalmente as pálpebras pesadas, e ficou atento, também.

A criança, então, um tudo-nada excitada, contou. Contou que à tarde, na altura em que regressava a casa com a ovelha, vira sair um pintassilgo de dentro dum grande cedro. E tanto olhara, tanto afiara os olhos para a espessura da rama, que descobrira o manhuço negro, lá no alto, numa galha.

A Mãe bebia as palavras do filho, a beijá-lo todo com a luz da alma. O Pai regressou ao caldo.

Mas o menino continuou. Disse que então prendera a cordeira a uma giesta e trepara pela árvore acima.

De novo o Pai levantou as pálpebras cansadas, e ficou tal e qual a Mãe, inquieto, com a respiração suspensa, a ouvir.

E o pequeno ia subindo. O cedro era enorme, muito grosso e muito alto. E o corpito, colado a ele, trepava devagar, metade de cada vez. Firmava primeiro os braços; e só então as pernas avançavam até onde podiam. Aí paravam, fincadas na casca rija.

A subida levou tempo. Foi até preciso descansar três vezes pelo caminho, nos tocos duros dos ramos. Por fim, o resto teve de ser a pulso, porque eram já vergônteas as pernadas da ponta.

Transidos, nem o Pai nem a Mãe diziam nada. Deixavam, apavorados, mudos, que o pequeno chegasse ao cimo, à crista, e pusesse os olhos inocentes no ovo pintado. O ninho tinha só um ovo.

Aqui, o menino fez parar o coração dos pais. Inteiramente esquecido da altura a que estava, procedera como se viver ali, perto do céu, fosse viver na terra, sem precisão dos braços cautelosos agarrados a nada. E ambos viram num relance o pe­queno rolar, cair do alto, da ponta do cedro, no chão duro e mortal de Nazaré.

Mas a criança, apesar de mostrar, sem querer, que de todo se alheara do abismo sobre que pairava, não caiu. Acontecera outra coisa. Depois de pegar no ovo, de contente, dera-lhe um beijo. E, ao simples calor da sua boca, a casca estalara ao meio e nascera lá de dentro um pintassilgo depenadinho.

E o menino contava esta maravilha com a sua inocência costumada, como quando repetia a história de José do Egipto, que ouvira ler a um vizinho.

Por fim, pôs amorosamente o passarinho entre a penugem da cama, e desceu. E agora, um nada comprometido, mas cheio da sua felicidade, sabia um ninho.

A ceia acabou num silêncio carregado. Só depois, à volta do lume quente do cepo de oliveira em brasido, é que os pais disseram um ao outro algumas palavras enigmáticas, que o pequeno não entendeu. Mas para que entender palavras assim? Queria era guardar den­tro de si a imagem daquele passarinho depenado e pequenino. Isso, e ao mesmo tempo olhar cheio de deslumbramento os dedos da Mãe, que, alvos de neve, fiavam linho.

E tanto se encheu da imagem do pintassilgo, tanto olhou a roca, o fuso, e aqueles dedos destros e maravilhosos, que daí a pouco deixou cair a cabeça tonta de sono no regaço virgem da Mãe.


SUGESTÕES PARA O JORNAL DA ESCOLA

A turma do 8º H, através na sua delegada, a Maria da Conceição Cristo, entregou-nos uma folha com várias sugestões, que passamos a transcrever:

● Passatempos; —Textos dos alunos (vários géneros: contos, poemas, etc. 
● Documentários/reportagens;
● Desporto;
● Publicidade não comercial;
● Receitas de culinária;
● Programas e actividades da escola;
● Lendas;
● Curiosidades;
● Música
● Comentários; 
● etc.

Todas as vossas sugestões serão tidas em conta. Algumas até já estão concretizadas, pois neste primeiro número encontram-se já incluídas algumas rubricas das indicadas nas vossas sugestões, tais como passatempos, textos de alunos, desporto na Escola e contos. O espaço disponível também não dá para muito mais. Talvez em próximos números A FOLHA possa conter mais folhas e deste modo um pouco de tudo, para todos os gostos.

Já agora, aproveito também para dar a todo o 8º H (e não só!) uma sugestão, — que tal serdes vós a escrever artigos diversos (passatempos, contos, etc.) para o vosso jornal? Só com a colaboração de todos A FOLHA podará ir engrossando e enriquecendo-se com frutos saborosos para os nossos momentos de lazer.

Quando tiverem artigos escritos, enviem-nos para A FOLHA. Poderão fazê-los chegar, quer através dos vossos Professores, quer metendo-os na gaveta do professor Henrique, na Sala de Professores. O que é fundamental é porem a vossa capacidade criadora em marcha e registarem as vossas ideias no papel, para que não se percam e possam ser lidas por todos nós.

Se tiverem dificuldades, estou certo que os vossos pais, os vossos amigos e os vossos professores estarão dispostos a dar uma ajuda... Mãos à obra e bom trabalho!

Cá esperamos a vossa participação. Obrigado pelas vossas sugestões. 

Um amigo, Henrique de Oliveira.


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