Foi em 1996 que
defendi, na Universidade do Minho, em Braga, a tese de mestrado
subordinada ao tema «OS MEIOS AUDIOVISUAIS NA ESCOLA PORTUGUESA»,
após um ano de frequência da parte curricular, em 1993/94, e um
ano de investigação, em 1994/95, durante o qual tive a
oportunidade de conhecer todas as escolas do distrito de Aveiro com
ensino básico (2º e 3º ciclo) e secundário.
Para uma ideia do
conteúdo da tese, apresentamos toda a Introdução. Para aqueles
que pretendam conhecer o trabalho efectuado, facultamos a versão
integral do 1º Volume através da Internet, fornecendo, no final
desta página, a hiperligação para a respectiva pasta.
INTRODUÇÃO
O
desenvolvimento tecnológico no campo da comunicação audiovisual,
num período posterior à segunda guerra mundial, levou os
especialistas a considerar que a humanidade se encontra numa nova
etapa evolutiva, baptizada na década de 1970 como a «terceira geração dos meios audiovisuais[1]»,
uma época em que o homo
communicans, individualmente, se apropria dos diferentes meios
de comunicação para os passar a utilizar, de acordo com as suas
apetências e capacidades criadoras, para os mais diversos fins,
destinando-os não só a si mesmo, mas visando também a comunicação
com os outros. Segundo Cloutier, para quem a história da comunicação
se pode dividir «em quatro
episódios que se sobrepõem», caracterizando-se cada um deles
«pela utilização de novas
formas de comunicação, que transformam a sociedade e constituem um
novo tipo de comunicação» (J. Cloutier, s/d, p. 21) a história
da comunicação vivia, nesta época, o seu quarto episódio. Era, e
ainda não o deixou de ser em muitos aspectos, uma época em que a
acessibilidade da gravação de imagens e sons, com as modernas técnicas,
permite ao Homem manipular os «media» individuais -
os self-media -,
permitindo-lhe entrar na era da comunicação individual.
Volvidos
mais de vinte anos, quase no limiar do terceiro milénio, o homem
estará talvez a passar já para um quinto episódio. Não só os
meios anteriormente existentes se desenvolveram e generalizaram,
como outros surgiram e trouxeram novas potencialidades ao universo
da comunicação humana, com a implementação de sistemas
interactivos multimédia, que permitem a integração harmoniosa de
todos os sistemas existentes e lhes conferem novas possibilidades,
levando mesmo à criação de universos virtuais e de novas formas
de comunicação. O diálogo homem-máquina torna-se possível e o
homem passa de uma situação de espectador passivo a uma posição
de interlocutor activo, dele dependendo a forma de acesso à informação.
Mais recentemente, as novas "auto-estradas" da informação,
com a criação de redes informáticas - caso da Internet -,
abrem ao homem novos horizontes no campo da comunicação e da
procura de informação.
Esta
fantástica revolução no domínio da comunicação audiovisual, em
que a imagem alcançou uma posição de destaque, é hoje encarada
por todos nós como um fenómeno normal. O homem moderno vive cada
vez mais rodeado de sons e de imagens, que o impedem de se isolar e
de se voltar para o seu próprio mundo interior, que o impedem de
reflectir sobre si mesmo. O homem moderno vê-se como um cidadão de
um planeta que se transformou, no dizer de McLuhan[2],
numa enorme aldeia global, vivendo, quase no próprio instante em
que ocorrem, os acontecimentos à escala planetária.
Actualmente,
em casa de cada um, o jovem começa desde muito cedo a alimentar-se
de imagens as mais variadas e desencontradas, começando desde logo
a adquirir uma visão multifacetada e fugaz de um mundo que o
rodeia, fornecendo-lhe uma nova forma de cultura
e constituindo uma escola paralela, cuja fortíssima motivação
o prende e modela, fazendo não raramente com que a escola, onde
mais tarde é inserido, lhe pareça obsoleta e enfadonha.
A
nível do ensino, os meios audiovisuais começaram já a ser
encarados pelas entidades responsáveis e pela comunidade escolar
como meios normais de acesso à informação e ao construir do
saber. A sua inserção no acto pedagógico constitui um
prolongamento e reforço dos conhecimentos adquiridos de maneira
fragmentária na escola paralela e uma forma de reduzir o
desfasamento habitual entre a escola e a realidade envolvente.
Enquanto
há alguns anos atrás era relativamente fácil encontrar em
Portugal escolas onde nem um simples aparelho de rádio existia e
onde máquinas de projecção de imagens eram aparelhos raros e
quase desconhecidos, hoje uma situação destas será considerada
como caso raro e de excepção.
A
vulgarização e acessibilidade dos modernos meios tecnológicos que
privilegiam a imagem, a que recentemente se juntaram os meios informáticos,
geralmente designados pela expressão «Novas Tecnologias da Informação»,
fazem com que a imagem seja considerada como uma poderosa forma de
comunicação, cujas potencialidades são reforçadas quando
associadas à comunicação verbal nas suas duas vertentes -
oral e escrita.
Em
que medida os recursos audiovisuais e as novas tecnologias
conseguiram já a sua inserção na escola portuguesa? E em que
medida procuraram os docentes acompanhar a moderna e célere evolução
tecnológica? Qual o papel que a imagem desempenha actualmente no
ensino? Que recursos são hoje privilegiados pelos docentes?
No
presente trabalho, procuraremos ver não só alguns aspectos
relativos ao conceito de imagem e evolução dos recursos tecnológicos
que dela se servem, mas também obter algumas respostas para as
questões formuladas. Por uma questão metodológica, o trabalho está
dividido em três partes, as duas primeiras de carácter teórico e
a terceira de carácter experimental.
A
componente teórica subdivide-se, por sua vez, em duas partes
distintas: I - Uma abordagem geral ao estudo da imagem; II - Imagem
e educação.
A
primeira parte -
Uma abordagem geral ao estudo
da imagem -
é constituída por quatro capítulos, ao longo dos quais são
abordados o conceito de imagem e a evolução dos recursos
comunicativos de natureza audiovisual que privilegiam a imagem.
No
primeiro capítulo, intitulado «O
conceito de imagem», procuramos dar uma ideia dos diferentes
conceitos de imagem, desde os conceitos correntes, susceptíveis de
serem encontrados em qualquer dicionário ou enciclopédia, até aos
conceitos mais elaborados, passando pela óptica e cinematografia,
filosofia, psicologia, literatura, sociologia, linguística e semiótica,
entre outros aspectos.
No
segundo capítulo, intitulado «Características,
classificações e funções», procuramos apresentar algumas
características da imagem, chamando a atenção para o seu valor
simbólico, presença constante e papel eternizante, e funções
desempenhadas no ensino.
O
terceiro capítulo, intitulado «Evolução
da comunicação através da imagem: das origens ao século XX»,
abrange um período de tempo extremamente dilatado, em que a evolução
tecnológica se processou de uma maneira lenta, ao contrário do
momento presente. Neste capítulo, que começa com os primeiros
quadros murais criados pelo homem num estádio ainda bastante
primitivo, procuramos ver de que modo a imagem foi assumindo um
papel de relevo cada vez maior na comunicação humana, importância
essa que conheceu um momento importante na civilização
greco-romana e que, depois, passou por momentos não menos
importantes, graças a invenções significativas, tais como a invenção
da imprensa, dos sistemas de projecção fixa, do tradicional quadro
negro, da fotografia e do cinema.
O
capítulo IV, intitulado «Evolução
da comunicação através da imagem: século XX», corresponde
ao período de tempo actual, extremamente curto, em que a evolução
tecnológica atingiu uma aceleração extraordinária, em que
recursos comunicativos recentes, em poucos anos ou mesmo meses, se
tornam obsoletos e ultrapassados por outros mais avançados e com
maiores potencialidades. É um período em que surgem os grandes
meios modernos de comunicação e tratamento da informação e em
que a imagem atinge o seu expoente máximo de penetração em todo o
lado, primeiro com a televisão e o vídeo, na primeira metade do século
XX, depois, com os sistemas informáticos, que permitem a criação,
captura e tratamento de imagens digitais e de síntese, e com os
sistemas multimédia, a partir essencialmente dos finais da segunda
metade do nosso século.
A
segunda parte, intitulada «Imagem
e educação» é constituída por três capítulos, ao longo
dos quais são abordados alguns aspectos relacionados com a evolução
das concepções pedagógicas, referindo-se os nomes mais
significativos ligados à pedagogia, não só a nível dos
diferentes países, mas também relativamente a Portugal.
No
capítulo I, intitulado «Concepções
pedagógicas», efectuamos uma apresentação cronológica de
diferentes concepções e teorizadores pedagógicos, começando pela
primeira grande didáctica da história da educação, da autoria de
Coménio (Didáctica Magna), até ao momento actual, abordando sucessivamente
nomes como Lancaster, Froebel, Pestalozzi, Herbart, Thorndike, etc.
No
capítulo II, intitulado «A
imagem como recurso pedagógico em Portugal - sécs. XVI a XX»,
procuramos apresentar não só alguns dos principais nomes da
pedagogia em Portugal, mas também efectuar a análise de alguns
decretos entre 1863 e 1924, referindo brevemente, entre outras, as
reformas verificadas nos governos de Afonso Costa, Sidónio Pais,
Leonardo Coimbra e António Sérgio.
No
capítulo III, intitulado «Evolução
tecnológica e audiovisuais - séc. XX», procuramos apresentar
alguns problemas decorrentes da evolução tecnológica e educativa
dos nossos dias e a evolução e problemas relacionados com os
conceitos de «audiovisual» e «tecnologia educativa».
A
terceira parte diz respeito à componente
experimental do nosso trabalho e encontra-se subdividida em três
capítulos.
No
capítulo I, intitulado «Objecto
de estudo e metodologia do trabalho», após o enquadramento e
justificação do problema, apresentamos os objectivos e formulamos
a hipótese. Efectuamos também a delimitação do problema e a
caracterização da população e da amostra recolhida,
apresentando, em seguida, a metodologia utilizada, abordando-se as
diferentes fases no desenvolvimento do trabalho, instrumentos
criados para a recolha de informações e os meios utilizados para o
seu tratamento.
No
capítulo II, intitulado «Os
dados da investigação: apresentação e análise», são
fornecidos todos os elementos recolhidos em 71 das 73 escolas do
distrito de Aveiro. Após uma apresentação e primeira análise dos
dados obtidos com o primeiro inquérito, cujos elementos
apresentados em diversos mapas se encontram sintetizados em dois
quadros (quadros 5 e 6), efectuamos uma apresentação e análise não
só dos recursos encontrados nas diferentes escolas do distrito,
como procuramos, simultaneamente, apresentar e analisar os
resultados dos inquéritos aos docentes relativamente a esses mesmos
recursos. Além dos recursos educativos que privilegiam a imagem, não
pudemos deixar de apresentar e analisar todos os elementos relativos
aos recursos sonoros e outros aspectos, que consideramos também
importantes para o ensino, tais como a sala de audiovisuais, a
mediateca, os laboratórios de fotografia e de línguas e o
fotocopiador.
No
capítulo III, intitulado «Conclusões»,
após uma reflexão sobre a hipótese apresentada no 1º capítulo
da 3ª parte e de termos formulado dois conjuntos de questões dela
decorrentes, procuramos sintetizar em dois quadros (46 e 47) os
recursos existentes e respectivas frequências relativas de utilização,
fornecendo as respostas a todas as questões formuladas. O capítulo
termina com uma síntese das principais conclusões.
Ao
longo de todo o trabalho, procurou-se utilizar uma linguagem
simples, concisa e objectiva, recorrendo, para a análise dos dados,
não só a quadros claros e correctamente estruturados, mas
sobretudo a gráficos de fácil leitura.
Este
trabalho encontra-se desdobrado em dois volumes. No primeiro,
apresenta-se toda a exposição referente às componentes teórica e
prática; no segundo, os diferentes tipos de instrumentos criados,
bem como todos os mapas, quadros e gráficos que permitiram a
realização deste trabalho e que poderão, eventualmente, fornecer
alguns contributos para estudos futuros. Deste modo, torna-se mais fácil
uma leitura de toda a parte expositiva, simultaneamente com a
observação dos diferentes mapas e gráficos.
[1]
- In Jacques MOUSSEAU - La
troisième génération des moyens audio-visuels, In:
"L'Audio-Visuel. Les encyclopédies du savoir
moderne", la Bibliothèque du Centre d'Études et de
Promotion de la Lecture, Paris, 1974, pp. 15-22.
[2]
- Marshall MCLUHAN, La Galaxie de Gutenberg, Montréal, H. M. P., Paris, Mame, 1967.
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