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        Informação sobre 
        
        
        o 
        
        
        Valor 
        económico do porto de Aveiro 
        
        _______________ 
        
        
        
        Considerações gerais 
        
        
        Iniciaremos esta justificação económica do porto de Aveiro com a 
        transcrição de autorizadas opiniões que, sobre este porto, por 
        esclarecidas individualidades foram dadas. 
        
        
        No relatório, que precede o Decreto n.º 7.880 frisa-se: 
        
        
        «Condição primária de toda a economia regional, a barra de Aveiro − que 
        muito tempo um rasgão apenas, errante de Norte a Sul na cortina litoral 
        das dunas, da Torreira até Mira − determinou nas suas vicissitudes, umas 
        vezes a miséria e outras a abundância, ao capricho das forças 
        geodinâmicas, que ora a alargavam e aprofundavam, a permitir o movimento 
        e a riqueza, ora a reduziam e de todo a obstruíam, causando a inundação 
        das terras marginais, a epidemia, o despovoamento e a ruína.» 
        
        
        Na conferência do Sr. Engenheiro Francisco Ramos Coelho, feita: na 
        Associação Industrial Portuguesa, em 1928, sobre Portos Marítimos do 
        Continente, focava-se o caso especial de Aveiro com as seguintes 
        palavras: 
        
        
        «O grande problema em Aveiro é conseguir-se que a barra se conserve 
        livre e desobstruída e em condições de se manter um bom regime das águas 
        das marés e das fluviais, de modo que se garanta o esgoto das terras, a 
        vazão das cheias, o fornecimento das águas para irrigação, bem como o 
        das águas salgadas necessárias ao fabrico do sal. 
        
        
        É importantíssima a indústria salineira, que actualmente tem uma 
        produção de cerca de 50.000 toneladas, a qual poderá aumentar talvez até 
        ao dobro. Fica-lhe perto a importante região vinhateira da Bairrada. 
        Está desenvolvidíssima na região a indústria cerâmica, sendo de todos 
        conhecidos os belos produtos da fábrica da Vista Alegre, o mais 
        importante centro desta indústria. É valiosíssima a indústria da pesca, 
        não só a costeira, que em 1927 rendeu 7.800 contos, como a lagunar, que 
        rendeu 1.772 contos e, até mesmo, a longínqua, pois que do porto de 
        Aveiro saíram, em 1927, 14 navios para os bancos da Terra Nova, donde 
        trouxeram 2.176.000 quilos de bacalhau, no valor de 9.000 contos, 
        movimento este com tendência para aumentar. 
        
        
        Deve ainda contar-se com o concurso da indústria mineira, pois que, por 
        Aveiro, devem ter saída os minérios das minas do Vale do Vouga, das do 
        Pintor, do Braçal e outras. 
        
        
        Por todas estas razões; ligado, como está, o litoral com as regiões 
        vizinhas por um complexo sistema de vias aquáticas; servido por duas 
        vias férreas; no centro de uma região riquíssima e fertilíssima, o porto 
        de Aveiro, cujo movimento em 1925 foi de 149 navios medindo 15.539 
        toneladas brutas − pode encarar com confiança o futuro, se não faltarem 
        os elementos para manter a sua barra no regime conveniente e para se 
        levar a efeito a construção das respectivas obras, entre as quais se 
        destacam, com é natural, as destinadas a proporcionar à indústria da 
        pesca as necessárias instalações.» 
        
        
        No Relatório da Comissão de Classificação de Portos do Continente, 
        diz-se: 
        
        
        «O movimento marítimo e comercial já hoje existente e as largas 
        possibilidades do seu considerável desenvolvimento futuro, bem como a 
        circunstância do grande valor que, no porto de Aveiro, atinge a 
        indústria da pesca nas três modalidades em que ela aqui se exerce, 
        justificam plenamente a construção do porto interior. Convirá, porém, 
        examinar bem se as dimensões atribuídas a este serão suficientes para o 
        movimento a prever, ou se ele deverá ser delineado com mais alguma 
        largueza − ainda que a sua construção não seja feita logo duma vez, 
        tanto mais que a ocupação dos terrenos adjacentes, que é natural se dê, 
        poderia de futuro trazer graves embaraços à ampliação que mais tarde 
        viesse a reconhecer-se como necessária.» 
        
        
        
         --o-0-o--  
        
        
        «Com relação à ordem de precedência, não há dúvida de que as primeiras 
        obras a executar devem ser as do primeiro grupo, isto é, as tendentes ao 
        melhoramento da barra, ficando para segundo lugar as do porto interior, 
        caso a Junta não possa, com os seus recursos próprios e sem prejudicar 
        aquelas, antecipar a sua execução, o que seria de maior vantagem.» 
        
        
        / 2 / 
        
        
        De todas estas opiniões, lançadas por verdadeiras autoridades no 
        assunto, estranhas ao porto de Aveiro, um facto ressalta verdadeiro: 
        
        
        O porto de Aveiro tem largas possibilidades e recursos; mas, para que se 
        possam utilizar essas possibilidades e recursos, é necessário, primeiro 
        que tudo, garantir o acesso da sua barra. 
        
        
        Pode objectar-se: as possibilidades e recursos do porto de Aveiro podem 
        ser canalizadas para outros grandes portos, que as saberão aproveitar 
        convenientemente. É um erro pensar assim. 
        
        
        A cerâmica, que Aveiro em tão grande quantidade produz e que tem 
        possibilidade de muito maior expansão, porque não lhe falta a 
        matéria-prima e a boa fabricação, está atrofiada e tenta, de vez em 
        quando, aproveitando sotas, correr aos mercados que a pedem, mas o 
        estado da barra corta-lhe essa expansão natural. Nenhum outro porto a 
        pode desenvolver. 
        
        
        O carvão é distribuído na zona de influência do porto de Aveiro a preço 
        elevado. Com o peixe fresco, com os adubos químicos, etc., sucede a 
        mesma coisa. O sal, produto abundante da laguna e que dá riqueza a 
        Aveiro, não tem a produção que poderia ter, se tivesse saída pela barra. 
        A pesca do bacalhau, que tem em Aveiro possibilidades de desenvolvimento 
        quase sem limites, não se desenvolve tanto como seria para desejar, 
        porque os armadores se vêem constrangidos a usar navios de pouco calado, 
        com os quais não tiram os proventos que os armadores doutros países 
        tiram, usando navios mais adequados. A pesca moderna, por vapores de 
        arrasto, sem um bom acesso da barra, não se pode desenvolver. 
        
        
        Mas, além disto, é sabido que os pequenos portos têm considerável 
        influência na economia do país. Deles − ensina-nos a geografia económica 
        − resulta a grande massa do frete mundial, e um dos valiosos concursos, 
        pela cabotagem, do aumento de frete dos grandes portos. 
        
        
        Desta maneira se explica que, havendo em França grandes portos, também 
        exista um elevado número de pequenos portos, sete dos quais se destinam 
        quase só à pesca longínqua. 
        
        
        Esses pequenos portos especializam-se quase sempre; nas suas populações 
        cria-se essa especialização que se radica e forma, através dos séculos, 
        o seu predilecto modo de vida. 
        
        
        É também o que sucede em Aveiro. Nas margens da sua laguna 
        desenvolveu-se uma população que vive para o mar e fornece actualmente o 
        grosso dos capitães de marinha mercante. Nos veleiros da pesca do 
        bacalhau, pode dizer-se que a tripulação responsável é constituída só 
        por homens de Ílhavo, e o pescador é fornecido em grande maioria por 
        habitantes das margens da laguna de Aveiro. 
        
        
        Os pequenos portos criam e fixam populações e fazem concomitantemente 
        criar e desenvolver actividades preciosas para a vida e a riqueza de um 
        país. 
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