História do cão Julião, do gato Torcato e do Gui

Dulce Vieira, Contos infantis, 2001


Era uma vez o cão Julião e o gato Torcato. Eram dois bicharocos muito marotos. Ao contrário do que se pode pensar, eram grandes amigos e bons companheiros.

Logo que acordou, o cão Julião saiu da casota, chamou o amigo que ainda ronronava na sua cesta toda forrada e disse:

- Olá, gato Torcato, vou tomar o leite que está na minha taça. E olha que, se demorares muito, bebo também o teu. Podes acreditar!

- Não! Espera aí, vou já contigo.

Saiu do cesto, esticou as pernas, ergueu o rabo e correu até à taça;

- Humm... que delicioso leitinho! - pensava enquanto o lambia.

Depois, ficaram os dois a espreitar para dentro da casa.

- E se entrássemos agora? - aventurou o cão Julião.

«Não, não! Porque iam levar uma grande corrida... iam, iam!» É que, por serem marotos, a dona não deixava que se aproximassem do bercinho branco, onde dormia o bebé Guilherme, que tinha nascido há poucos dias.

E como eles queriam tomar conta dele! Se chorasse, o gato Torcato cantava baixinho:

- Miaaau... miaauu.

E o cão Julião, cantava logo a seguir:

- Beeeuuu... beeeeeuu

E outra vez o gato Torcato:

- Miaaaaauau miiiau

E outra vez o cão Julião:

- Beeeeuuu Beeueuu...

 

O que quer dizer, em linguagem que se possa entender:

Oh bebé, meu bebezinho,
Podes tranquilo nanar;
Não estás aqui sozinho,
Nós estamos a vigiar.

 

E estavam com tanta vontade de assim cantar ao bebé, que foram caminhando com patinhas de lã, que quer dizer, muito leve, levemente, sem fazerem nenhum barulho, até junto do bercinho.

- Chiu, chiu! Saiam daqui, já! Ai, Ai! - Dizia a mamã, pensando que eles queriam fazer alguma maroteira ao seu menino.

Torcato e Julião ficaram tristes. A sua dona, sempre tão amiga, não compreendia que eles gostavam muito, mesmo muito, do Guilherme.

Mas... Enfim, lá saíram dali, com o rabito entre as pernas, porque iam tristes.

«Melhores dias hão-de vir» – pensaram. E é que vieram mesmo!

 

Uns tempos depois, reinava grande confusão naquela casa. Tinham chegada visitas. A dona andava muito ocupada, tão ocupada a recebê-las que nem ouviu o Guilhermito chorar.

«Ah! É o nosso dia de sorte!» – pensaram, ao mesmo tempo, o cão Julião e o gato Torcato. E não esperaram mais. Correram como flechas em direcção ao quarto dele. E pensava Julião: «Porque é que ele está a chorar? Se calhar tem sede... Está ali o biberão da água... Vou dar um salto, pegar nele – com a minha boca, já se sabe – e vou pôr a chupeta do biberão na boquinha dele”.

E assim fez. O bebé chupou, chupou; e sorriu para aqueles novos e simpáticos amigos. Depois deixou cair o biberão e ficou muito sossegado a ouvir aquela canção, que o gato Torcato e o cão Julião tinham feito para ele e que agora podiam cantar-lhe:

- Miaau miiaaau

- Beeeuuu…

Oh bebé, meu bebezinho,
Podes tranquilo nanar;
Não estás aqui sozinho,
Nós estamos a vigiar.


A mamã, que entretanto fora espreitar o seu menino, ficou ali muito comovida a observar aquela cena:

- Ai que maravilha! - Exclamou ela. Debruçou-se sobre o berço, beijou suavemente o seu filhinho, fez umas carícias nos pescoços dos bichinhos e disse-lhes assim:

- Quero pedir-vos desculpa por ter sido um pouquito – só um pouquito - má para convosco, quando vos mandei embora daqui. Desculpas-me, gato Torcato? E tu, cão Julião, também me desculpas?

Eles responderam que “sim” com as cabeças, um pouco envergonhados; e depois, quando a dona pediu para eles ficarem sempre junto da caminha do pequenito, tomando conta dele, foi uma alegria imensa! Saltavam, saltavam, saltavam! Como estavam tão contentes! Mas saltavam de mansinho, para não assustar o menino.

 

F I M

 

(Haverá mais? Talvez!)

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