Com o Comandante de Batalhão |
Eram rigorosamente sete e meia da manhã quando a coluna de Sanza chegou ao entroncamento: berliets com o grupo de engenharia e camiões com máquinas e o grupo com o Comandante de Batalhão. Distingui a cara do comandante, na cabina da Berliet, entre o condutor e um alferes. Dirigi-me rapidamente para a viatura e fiz a devida continência, na mesma altura em que o comandante começava a descer, para me vir cumprimentar. Correspondeu à minha continência e estendeu, logo de imediato, a mão, agarrando na minha com força. — Antes de mais, quero felicitá-lo e agradecer-lhe pelo hino que escreveu para o Batalhão. Fez um excelente trabalho. Todos os dias o ouvimos na rádio. Já ouviu? — A rádio de Quimbele tem pouca potência. Se calhar, é em frequência modulada. Na nossa zona só apanhamos as ondas curtas. E têm de ser potentes. — Fez um excelente trabalho! Ao mesmo tempo que falava, o comandante agitava-me vigorosamente a mão direita e dava-me, para meu espanto, porque costuma ser habitualmente ríspido e pouco expansivo, umas palmadas nas costas. Quase não me deixando falar, prosseguiu: — Tenho acompanhado pelo nosso capelão a sua actividade no Alto Zaza. Tem prestado um bom serviço. Por isso o destaquei para o cumprimento de uma missão de grande responsabilidade. Sei que irá fazer um bom trabalho. — Sim, meu comandante. Agradeço ter-me escolhido para um trabalho que me vai dar certo prazer. Pode crer que irei dar o meu melhor. — Vai fazer um trabalho de grande importância. Mas o nosso capitão e alferes da terceira companhia vão também efectuar um trabalho importante no Alto Zaza, ao longo deste mês. A conversa com o comandante foi breve. Arrancou pouco depois para o Alto Zaza. Antes de tomarmos o caminho rumo ao norte, efectuei uma breve troca de ideias com o alferes que comandava o grupo de engenharia. A missão dele era melhorar a picada entre Quimbele e o Cuango, especialmente na área da Quimabaca. Formámos uma nova coluna, interpondo entre o pessoal armado as viaturas com as pesadas máquinas de terraplanagem. Arrancámos em velocidade relativamente lenta em direcção ao Cuango. Passámos a regedoria de Marimba, sem pararmos para admirar as sepulturas ao lado da picada. Chegámos ao destino às dez e quarenta, debaixo de um sol escaldante. Deixámos as viaturas com as máquinas pesadas na picada ao lado da sanzala e parámos as nossas viaturas, unimogues e berliets, no amplo terreiro, bem no meio da povoação, tendo o cuidado de não atropelar o enxame dos miúdos, que nos rodearam cheios de curiosidade. — Onde é que pretende instalar o acampamento? — perguntou-me o alferes de engenharia. — Estou a pensar fazê-lo aqui mesmo, bem no centro da sanzala. — Então, vamos ao trabalho. — Ainda não. Deixe-me cumprir as formalidades. — Que formalidades? O alferes é a autoridade. Só tem que dar as ordens. — Tenha calma. Deixe-me resolver os problemas à minha maneira. Ó Joaquim, faz-me um favor, pergunta aos miúdos onde está o soba. Eles que o vão chamar, para eu o cumprimentar. Eles que o vão chamar. Digam que o alferes quer cumprimentá-lo e falar com ele. — Estamos a perder tempo, camarada. O acampamento é montado já aqui mesmo no meio, tal como pensou. — Espere um pouco. Temos tempo. E vamos montá-lo mais depressa do que julga, com a ajuda desta juventude que nos rodeia. Quer melhor companhia e ajuda que estas crianças que nos rodeiam? Vão-nos ajudar e vão ser a nossa companhia por uns tempos. Não sei se o meu camarada terá alcançado imediatamente o objectivo das minhas ideias. Certamente, terá pensado como, há tempos, um dos meus furriéis. Deverá ter ficado a julgar que eu sou um lírico, esquecendo-se que a melhor guerra que podemos fazer não é pela força e imposição da nossa vontade, mas pela amizade e confiança recíproca. |