Alvorada de madrugada |
Às três da manhã, foi a alvorada no Alto Zaza para o pessoal que ia partir. A esta hora reinava já uma grande azáfama. Às três e um quarto estava marcado o pequeno-almoço para os que iam sair. Cerca das três e meia, tinha combinado com os furriéis reunirem o pessoal para lhes falar. Segundo os meus cálculos, entre as quatro e a cinco da manhã, devíamos ter as viaturas acabadas de carregar, o pessoal distribuído, tudo pronto para arrancarmos a tempo de, às seis da manhã, estar no local combinado para o encontro com a coluna proveniente de Sanza Pombo. Embora a distância do Alto Zaza ao local previsto para o encontro seja reduzida, marquei tudo com certa antecedência, prevenindo eventuais atrasos. Como às três e meia da madrugada é noite cerrada, aproveitei o momento em que tinha todo o pessoal reunido a tomar o pequeno-almoço, para os pôr ao corrente da situação. — Não teria sido mais fácil teres aproveitado a véspera para, em pleno dia, reunires o pessoal e falar-lhe acerca da missão a desempenhar? A vossa questão não deixa de ter a sua lógica. Seria talvez o que faria, se estivesse aí na Metrópole. Mas não estou na minha casa. Estou em terra estranha. Embora me sinta relativamente seguro, um oficial nunca deve ser demasiado confiante, ao ponto de descurar as normas elementares de segurança e pôr em risco a vida de todos. Se tivesse falado aos meus homens na véspera da acção, seguramente que o tema das conversas iria ser a nossa missão. Em breve, as informações poderiam correr o risco de passar para lá do arame farpado e chegar a outros ouvidos. Nunca iria correr riscos inúteis. Com as informações em cima do acontecimento, não há tempo para as notícias se espalharem. A nossa segurança é muito maior. Mesmo assim, com estas precauções, alguma coisa já deve ter transpirado. A partir do momento em que os homens foram seleccionados e começámos os preparativos, de certeza que o facto já foi suficientemente badalado. Todavia, como, à excepção dos graduados, nunca falei concretamente da missão a ninguém, os riscos são diminutos. Feita esta explicação, retomemos os factos. Foi durante o pequeno-almoço que falei ao meu pessoal, desvendando alguma coisa acerca da missão que nos foi destinada: — Todos nós andávamos, desde há uns dias, entusiasmados com a sobreposição e a rotação para Quimbele. De certeza que todos nós estávamos já a imaginar os três meses agradáveis numa vila, com bares e lojas onde arejar o dinheiro, e com civis com quem conversar. Infelizmente, as coisas nem sempre acontecem como mais desejamos. O grupo escolhido, isto é, vocês, que agora aqui estão a carregar as baterias, vão comigo e com dois dos nossos furriéis, o furriel Rodrigues e o furriel Ramalho, desempenhar uma missão de cerca de um mês. Tal como disse na brincadeira ao nosso furriel Rodrigues, vamos fazer turismo por Angola, vamos ter a oportunidade de ficar a conhecer melhor as pessoas desta terra, com quem vamos ter de conviver. Vai ser uma espécie de turismo pelo Norte de Angola! Mas um turismo em que nunca poderemos descurar a nossa segurança. Vamos ficar a conhecer várias sanzalas e os seus habitantes. Espero que todo o pessoal tenha sempre uma atitude correcta, educada, para com os civis que vamos conhecer. Tenho a certeza de que nunca irei ter de punir ninguém por faltas de respeito para com as outras pessoas, porque somos todos pessoas educadas, pessoas de bem. Por isso, pedi ao furriel Rodrigues que tivesse o máximo cuidado na vossa escolha. Infelizmente, houve muitos elementos do nosso grupo que ficaram de fora, porque nos foi limitado o número de intervenientes. A seguir ao pequeno-almoço, cada um vai integrar a secção a que pertence e tomar lugar nas respectivas viaturas. Claro que, antes disso, será ainda preciso acabar de carregar o que falta e verificar se ninguém se esquece de nada. Há alguma pergunta que me queiram fazer? — Durante quanto tempo vamos andar por fora, alferes? E Por onde? — Ao certo, não posso dizer, porque podem surgir-nos imprevistos. Mas penso que iremos estar fora durante talvez um mês. Vamos ficar a conhecer bastantes sanzalas da região. Daqui a poucas horas já ficam a saber a zona para onde vamos. É uma zona segura, mas, mesmo assim, nunca deveremos descurar a nossa segurança. Mais alguma pergunta? |