Casas Nobres de Aveiro
II - Casa do Visconde de Santo António

 



Retrato do Visconde de Santo António.

Trata-se de um edifício composto por rés-do-chão, dois andares e águas furtadas (veja-se a gravura na capa), situado na esquina da Rua dos Combatentes da Grande Guerra (Rua Direita) com a Rua do Dr. Nascimento Leitão (antiga Travessa das Laranjeiras) e que foi mandado construir no início do século passado por Manuel de Moura Marinho. Nele funcionou o Governo Civil aquando da criação do distrito (1). Foi comprado pelo então Brigadeiro Pedro António Rebocho Freire de Andrade e Albuquerque, em 10 de Julho de 1842, pela quantia de 1700$000 rs., a Francisco de Assis Marinho e Moura e a seu irmão José António de Moura Marinho, de Viseu, filhos do referido Manuel de Moura Marinho (2).

Na fachada principal, encontra-se o seguinte brasão esquartejado: I e IV de Freire de Andrade; II de Portugal — moderno e III de cinco flores-de-lis, ambos por Albuquerque. Sobre o escudo, um elmo e, sobre este, uma serpe e um castelo encimado por uma flor-de-lis, timbres respectivamente dos Freires de Andrade e dos AIbuquerques.

Ladeando o escudo, um troféu composto de bandeiras e baionetas indicando a qualidade de militar do seu possuidor — o Visconde de Santo António.

Na fachada da Rua Nascimento Leitão, encontra-se uma réplica deste brasão, mandada fazer por Jacinto Agapito Rebocho, aquando da construção dos terraços e respectivas balaustradas.

Ainda no muro da mesma rua se encontram umas alminhas, interessante exemplar da barrística aveirense, mandado colocar pelo Dr. António Christo.

Aspecto da casa do Visconde de Santo António.

No interior do edifício, encontra-se uma capela, que chegou a ser considerada o mais importante oratório existente na cidade (3).

Foi o 1.º Visconde e 1.º Barão de Santo António Pedro António Rebocho Freire de Andrade e Albuquerque, General de Divisão, Par do Reino, Vogal do Supremo Conselho de Justiça Militar, Grã-Cruz da Ordem de Avis, Cavaleiro da Conceição e da Torre e Espada, condecorado com a Medalha das 5 Campanhas da Guerra Peninsular, com as de Honra das batalhas de Albuera, Victoria e Ortiz, com a de Ouro de Montevideu e a das Campanhas de 1834. Nasceu em Almeida a 1 de Março de 1791, morreu a 24 de Fevereiro de 1868, tendo casado a 4 de Junho de 1826 com D. Ana Izequilina de Oliveira, irmã da 1.ª Baronesa de Palme (4).

A carreira militar do Visconde de Santo António é a todos os títulos notável. Do seu valor atestam as condecorações que lhe foram conferidas e as batalhas em que participou, bem como os ferimentos nelas recebidos. Para além das batalhas anteriormente referidas, convém realçar a sua participação na revolução liberal de 1828, que lhe valeu a condenação à morte. Salvou-o desta sentença a facto de haver emigrado para a Inglaterra (5).

Era o Visconde de Santo António filho de José Pedro Rebocho, Tenente-coronel de infantaria, natural de Elvas, e de D. Maria Delfina Freire de Andrade de Albuquerque, natural de Viseu, neto materno do Doutor Nuno Manuel Freire de Andrade e Albuquerque, natural de Gradiz, bispado de Lamego, e de D. Maria Leonor Teixeira de Carvalho, neto paterno de João António Rebocho, natural do Vimeiro, bispado de Elvas, e de D. Maria Madalena (6). Do seu casamento teve vários filhos, entre eles Pedro Augusto Rebocho Freire de Andrade e Albuquerque, nascido a 21 de Março de 1828, Juiz de Direito e Deputado nas legilaturas de 1858 a 1859, tendo morrido em Aveiro a 15 de Janeiro de 1880 (7), e D. Raquel Augusta Rebocho Freire de Andrade e Albuquerque, nascida a 26 de Março da 1827 e falecida a 20 de Julho de 1879, a qual casou com Rufino César de Sousa Monteiro, que foi presidente da Câmara Municipal de Aveiro, tendo deste casamento uma filha de nome D. Maria Clementina de Sousa Monteiro Rebocho.

Réplica do brasão, na fachada da Rua Nascimento Leitão.

D. Maria Clementina casou em 7 de Dezembro de 1876, aos catorze anos, na capela de sua casa, com Alfredo Rangel de Quadros da Costa Monteiro, oitavo administrador da capela dos Santos Mártires e dos vínculos que lhe estavam anexos (8). Deste casamento nasceram oito filhos, entre os quais D. Maria Luísa Rangel de Quadros da Costa Monteiro, que casou, em Agosto de 1903, com Dom Francisco Carlos Alberto de Almada Saldanha e Quadros, filho primogénito dos 3.ºs Condes de Tavarede, de quem houve geração (9),

Com a morte de Alfredo Rangel de Quadros, passou D. Maria Clementina a segundas núpcias com seu primo, Jacinto Agapito Rebocho, natural de Frechão, concelho de Trancoso, filho de António Leopoldo Rebocho e de D. Carlota Joaquina Sousa Blanco. Deste segundo casamento nasceram outros oito filhos, entre eles D. Maria Madalena Monteiro Rebocho, actual propritária da casa, nascida a 1 de Dezembro de 1906.

D. Maria Madalena casou a 12 de Outubro de 1933 com o Dr. António Christo, de quem houve geração (10)

ARTUR JORGE ALMEIDA

——————————————————

NOTAS:

(1) — Arquivo do Distrito de Aveiro», Aveiro, 1940, vol. VI, p. 199.

(2) — Jornal "O Correio Portuguêz", Lisboa, 9 de Agosto de 1842, anúncio 330. — 

(3) — ANTÓNIO CHRISTO, Efemérides Aveirenses. Câmara Municipal de Aveiro, 1959, vol. 1, p. 34.

(4) — ALBANO DA SILVEIRA PINTO e VISCONDE DE SANCHES DE BAENA, Resenha das Famílias Titulares e Grandes de Portuqal, Lisboa, Editora de Francisco Artur da Silva, 1890, vol. II, p. 539.

(5) — MARQUES GOMES, Aveiro —Berço da Liberdade — A Revolução de 16 de Maio de 1828, Aveiro, 1928, pp. 72 a 75.

(6) — Manuscrito de família.

(7) — Para mais dados biográficos ver RANGEL DE QUADROS, Avelrenses Notáveis, voI. II, p. 79 (fotocópia de recortes existente na Biblioteca Municipal de Aveiro).

(8) — RANGEL DE QUADROS, Aveiro (Apontamentos Históricos), vol. III, p. 38 (fotocópia de recortes existente na Biblioteca Municipal de Aveiro).

(9) — «Arquivo do Distrito de Aveiro», Aveiro, 1944, vol. X, p. 205.

(10) — Relativamente a António Christo vd. Boletim da ADERAV, N.º 1, Ano 1, Jan. 1980, pp. 5-6.


Página anterior   Página inicial   Página seguinte