Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996. |
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Nome também importante no
campo da educação pelas teorias da aprendizagem que formulou é o de
John Dewey
(1859-1952), tendo exercido,
tal como Thorndike, enorme influência no continente americano e na Europa.
Discordando das teorias de Thorndike, considera que no processo da aprendizagem
deverá existir uma interacção recíproca entre o meio ambiente e o educando.
O meio ambiente fornece os estímulos e problemas que o sistema nervoso humano
recebe e interpreta, de tal modo que os problemas poderão ser avaliados e
encontradas as soluções satisfatórias para os resolver. Além disso, Dewey
explicou que as experiências pelas quais os alunos passam no meio envolvente
fornecem os próprios materiais sobre os quais constróem significados e sobre
os quais baseiam os seus objectivos e acções. As concepções fundamentais
de Dewey assentam sobre o carácter insubstituível da experiência, cuja
palavra de ordem é «aprender fazendo»
(learning by doing), pois é pela acção,
é fazendo, que se adquire o verdadeiro conhecimento. Dewey deu à disciplina um
significado novo, pondo a ênfase em dois pontos importantes: a espontaneidade e
a livre vontade do aluno. À volta destes dois aspectos, opondo-se às
pedagogias tradicionais, elaborou uma organização do ensino, conferindo-lhe um
valor educativo e social e empregando um método activo, que partia das
actividades primitivas da criança, pelo que os conhecimentos não são
aprendidos por acaso, mas pela acção e desejo que a própria criança tem de
os adquirir.
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O método social e activo
preconizado por Dewey só pode ser aplicado através da comunidade de vida
instituída na escola, devendo a aprendizagem efectuar-se «a
partir da experiência pela experiência, para a experiência», havendo «uma
relação íntima e necessária entre os processos de experiência e de educação.»
A escola não deve estar isolada do mundo, da vida social, mas constituir um
espelho da própria sociedade, como que uma sociedade em miniatura, pelo que os
educadores deverão ordenar os conteúdos a ensinar de tal modo que venham a
inserir-se nas necessidades, desejos e interesses dos próprios alunos. A
organização da escola deve ser activa e as responsabilidades partilhadas entre
todos, alunos e professores. A doutrina pragmática e
instrumentalista do conhecimento proposta por Dewey representa um dos primeiros
ensaios de colaboração reciprocamente benéfica entre teoria e prática.
Menos conhecido que os dois
nomes anteriormente referidos, mas com uma certa importância, é o de E. Séguin
. Educador e psicopedagogo
francês e autor de diversos trabalhos, Séguin[1] ocupou-se essencialmente dos
problemas do tratamento e ensino das crianças dementes e atrasadas mentais,
sendo as suas obras consideradas como das mais importantes na história da educação.
Embora o seu nome tenha praticamente passado despercebido em França, exerceu
elevada influência nos Estados Unidos, para onde se exilou em 1846 por questões
políticas. Exerceu influência sobre vários pedagogos, entre os quais Maria
Montessori. Retomando as primeiras
teorias de Itard, analisou a distinção fundamental que é necessário fazer
entre noção e ideia, tendo considerado que os sentidos são os meios de acesso
imediato às noções, aos conceitos, enquanto a inteligência é o agente
imediato das ideias: «Os
sentidos são os agentes imediatos das noções, a inteligência é o agente
imediato das ideias. Mas a diferença capital entre uma noção e uma ideia, é
que a primeira aprecia as propriedades físicas das coisas, e a segunda as suas
relações. (...) Uma criança ou um idiota, não importa, adquirirá muito bem
a noção duma chave, o que significa que distinguirá este objecto de qualquer
outro, (...) mas não terá a ideia de uma chave enquanto não conhecer as relações
da chave com a fechadura. (...) A noção é uma operação passiva ou de percepção,
e a ideia uma operação activa ou de dedução.» Séguin elaborou abundante
material pedagógico destinado a possibilitar o desenvolvimento da imaginação
das crianças, para as quais esta é uma faculdade primordial. Completou o
material de educação dos sentidos desenvolvendo certos aspectos destinados a
multiplicar os exercícios sobre as cores, as formas, as dimensões, as
configurações, os elementos planos e espaciais, de molde a permitirem chegar
às imagens e às associações entre os objectos e a sua representação simbólica
sob a forma gráfica. O objectivo final do método de Séguin era levar as crianças
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adquirirem uma elevada quantidade de recordações de experiências pessoais,
constituindo como que uma espécie de armazém intelectual para utilização da
imaginação e inteligência de uma maneira utilitária. Este princípio acabou
por ser utilizado pela maior parte dos educadores posteriores. Montessori,
Claparède e Dewey encontraram grande parte da inspiração nos trabalhos de Séguin,
os quais estão na base da pedagogia aplicada não apenas às crianças
deficientes, mas também às crianças normais. O grande conselho pedagógico de Séguin é o de que «não se deve ensinar nada no interior que possa ser ensinado no exterior. Não ensinar nada com a natureza morta, quando se pode fazê-lo com a natureza viva.»
[1] - Édouard Séguin (20/1/1812-28/10/1880), educador e psicopedagogo francês, é autor de vários trabalhos que o tornaram conhecido, sobretudo nos Estados Unidos, onde se exilou em 1846, e que exerceram grande influência em Maria Montessori, tais como: Tratamento moral, higiene e educação dos idiotas e outras crianças atrasadas mentais (1846), Tratado sobre a idiotia e tratamento pelo método fisiológico (1864), Relatórios e memórias sobre a educação das crianças normais e anormais (1880). |
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