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4A torrada do meio é a que fica sempre para o fim
4BTT (Bicicletas todo-o-terreno)
4Qual o significado da vida? Para que é que vivemos?
A Torrada do meio é a que fica sempre para o fim Ana Mendes - 12º H |
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Ontem fui lanchar sozinha à pastelaria. Não tenho muito o hábito de o fazer, mas fui. E, se era para lanchar, pedi o que eu chamo de ‘’lanche de avozinha’’, que é uma meia de leite e uma torrada. É tão bom... A meia de leite quentinha e doce e a torrada acabadinha de fazer! Desde pequena que me lembro de lanchar assim com a minha avó, sempre que íamos ao café. Lambuzava-me sempre toda com um sorriso de gulodice e prazer de torrada na mão. Era bastante irrequieta (Ainda sou! Mas agora consigo-me controlar mais!). Até já me aconteceu, por mais de que uma vez, um empregado que está a servir à mesa, vir à minha mesa dizer ‘’Ainda parece que foi ontem que andava por aqui a rir e a fazer ‘’flores de papel de guardanapo’’ que dava aos clientes, que, surpreendidos e enternecidos, aceitavam com um sorriso’’. Sorrio. É engraçado. Sim, lembro-me. Era um dos meus passatempos enquanto ‘’os grandes’’ falavam de coisas incompreensíveis para mim. Dou comigo a tentar ceder à tentação de não pegar num guardanapo e fazer uma das minhas ‘’flores de papel’’. Não resisto. Sem ninguém ver, começo a torcer o papel e...já está! Não ficou muito bem feita, mas já há muito tempo que não fazia uma ‘’flor’’ destas! Rodo a minha ‘’flor’’ com os dedos, como se fosse uma preciosidade, retocando e reafirmando cada ‘’pétala’’... ai, como o tempo passa! Já sinto o cheiro agradável da torrada a fazer. Qualquer dia hei-de perguntar se há algum ingrediente especial que põem nas torradas porque, as que faço em casa, nunca se conseguem parecer com estas! (Provavelmente falta-lhes o ritual do ‘’lanche de avozinha’’!) Uma empregada de saia às riscas, e com um olhar-de-quem-já-devia-ter-saído- porque-tenho-autocarro-para-ir-apanhar, pousa a minha torrada e a meia de leite à minha frente e, com um sorriso postiço, estende-me o papel da conta (podem-se enganar ou esquecerem-se de trazer o que pedimos, mas a conta vem sempre bem impressa). Pago instintivamente e peço o troco em pastilhas elásticas (sim é uma mania!). A empregada olha-me com cara de está-a-gozar-comigo e eu desvio o olhar e começo a pôr o açúcar na fumegante meia de leite, enquanto ela se volta e vai a resmungar entre dentes que tem um autocarro para apanhar e já devia ter saído, etc., etc... O prato das torradas. Lá está. Um hábito que as pessoas têm tanto: deixarem a última torrada para o fim. É engraçadíssimo reparar que, nas mais variadas situações a torrada do meio é a mais apreciada e a que é deixada para o fim. Eu, pessoalmente, acho que, sem darmos por isso, nos seguimos pela frase ‘’o melhor vem sempre no fim’’. Ouvi, não sei onde, que os Chineses fazem exactamente o contrário, mas isso deve acontecer porque lá não há destas saborosas torradas acompanhadas de uma meia de leite extraordinária como esta. Bem, já é tarde. Levanto-me pego nas minhas coisas. Caminho em passo certo para casa. Pouso a mala em cima da cama, tiro o livro que ando a ler e, no meio das tralhas, encontro a minha ‘’flor’’. Pego-lhe e ponho-a na mesinha de cabeceira. Talvez para, quando para lá olhar, me lembrar dos ‘’lanches de avozinha’’ com a torradinha dourada e a meia de leite deliciosa... simplesmente deliciosa!n |