O poder das Imagens na televisão

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 (Tradução de Jorge e Margrit Günther)

Poucas horas eram passadas após os atentados em Nova Iorque e Washington, e já as cadeias de televisão mostravam ao mundo inteiro imagens de Palestinianos a celebrar o tenebroso atentado. Agora, parece que uma parte destas imagens terão sido resultado de uma montagem, e outras seriam já antigas.

Crianças em regozijo, uma mulher de lenço preto à cabeça e óculos levanta os braços alegremente, um homem aplaude e chama outros transeuntes: é uma cena de rua, filmada em Jerusalém no dia 11 de Setembro, o dia dos atentados a Nova Iorque e Washington.

Imagens que deram a volta ao mundo. Imagens que escandalizaram muitas pessoas. Naquele dia, a necessidade de informação e de material vídeo era insaciável. Por isso, estas imagens foram transmitidas pelas televisões uma e outra vez. Mas agora, 10 dias depois dos atentados, o programa de política "Panorama", da televisão pública alemã ARD indica que possivelmente exista uma outra verdade sobre estas imagens e que estas cenas poderiam ter sido objecto de montagem.

Os Palestinianos em regozijo foram filmados por duas agências noticiosas, a Reuters e a Associated Press, tendo sido vistos apenas poucos segundos dos aproximadamente 4 minutos de vídeo. A jornalista do programa Panorama, Annette Krueger-Splitta, examinou todo o material, tendo considerado que "Na realidade, o material era muito importante" e continha algumas contradições.

As cenas mostradas na semana anterior davam a sensação de haver muita gente a regozijar-se na rua, mas não incluíam planos gerais, apenas grupos muitos pequenos de pessoas. Porém, o material original das agências incluía também planos de toda a rua. Aí mostrava-se que somente alguns Palestinianos estariam a celebrar, enquanto muitos outros se limitavam a passar sem participar no acontecimento. "A mulher de lenço preto disse mais tarde que tinha mostrado alegria frente à máquina de filmar, unicamente porque lhe tinham prometido um bolo.", disse Krueger-Splitta e, mais tarde, ficara aterrada quando se apercebeu do contexto em que tinha manifestado a sua alegria, pois condenava aqueles atentados.

Qual é a verdade?

Já na semana anterior tinha havido alguma agitação nos correios electrónicos, pois dizia-se que a CNN tinha utilizado umas imagens de há uns 10 anos para documentar a suposta alegria dos Palestinianos. Um estudante brasileiro, Márcio, publicara uma carta numa página independente da rede, Indymedia (http://www.indymedia.org/).

Nela afirmava que as imagens de 11 de Setembro apresentadas pela CNN eram falsificadas. O material era de 1991 e mostrava jovens a regozijar-se pela invasão do Kuwait pelo Iraque. Um seu professor tinha comprado vídeos daquela altura que continham imagens idênticas às apresentadas pela CNN. Esta agência estaria a fazer propaganda contra os Palestinianos. Somente dois dias depois, Márcio desmentiria o que dissera. Tinha sido apenas uma suposição e o professor não a podia provar. Tarde de mais, contudo. Mesmo hoje ainda circula esta informação falsa, acumulando-se nas redacções das agências noticiosas mensagens de pessoas preocupadas.

A CNN desmentiu energicamente estas acusações junto de Der Spiegel. A agência Reuters, que fornecera o material à CNN, também as negou. E na própria página Indymedias surgiram dúvidas.

Um leitor referiu que as imagens não se poderiam reportar a 1991 porque nelas era visível a presença de um automóvel Ford de 1995..n

 

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