O poder dos Meios Prof. Sérgio Ramos |
O barbarismo é um defeito constituído por: 1) emprego de palavras ou frases estrangeiras; 2) emprego de arcaísmos; 3) emprego de neologismos; 4) incorrecta pronúncia, escrita formação ou flexão dos vocábulos. Isto salientam M. Bergström e N. Reis, no seu Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa (s/ data, Ed. Notícias, 14.ª Ed.). Os amantes da Língua Portuguesa seguem um bom princípio: não adoptam termos estrangeiros sempre que já existam vocábulos portugueses que lhes possam corresponder. Neste capítulo, é notória a ausência, ou pelo menos a insuficiência, de uma entidade oficial que emita, com oportunidade e com verdadeiro sentido da defesa da nossa Língua, as directivas necessárias a uma prática generalizada segundo o bom princípio referido. O caso que hoje analisamos é o que decorre da expressão inglesa mass media , que se traduz literalmente por meios de massas. Nos anos 50 e 60, com a acentuada expansão dos meios de comunicação social, constituiu-se uma nova problemática, objecto de estudo e centro das atenções de muitos académicos e outros analistas, sobretudo nos E.U.A., palco de enorme implantação da televisão, rádio e jornais. Daí ouvir-se falar frequentemente em mass media: quem nunca ouviu, mesmo em círculos académicos, considerados de referência, pronunciar estas palavras à inglesa, por vezes na sua variante mais curta, os media? Entretanto, os brasileiros, com o espírito utilitário que os caracteriza, referem-se, tanto oralmente, como por escrito aos mídia e à mídia (!). Acodem então alguns estudiosos, propondo que falemos antes dos media , notando que se trata do plural de medium , palavra latina. Sendo o Latim uma língua com a qual temos uma significativa afinidade (e que nunca será demais estudar, enquanto elemento das raízes da Cultura Ocidental), apresenta esta opinião um certo carácter de imediata validez. No entanto, há que atentar que se trata de um uso do Latim pelo Inglês, e que para o falante desta última língua o termo medium nada tem de ocorrência excepcional, já que faz parte do seu léxico normal, quotidiano, associado a substância através da qual algo se propaga, entre outros significados. Para traduzir isto, temos nós uma velha e sempre disponível palavra: meio. A idêntica posição chega o linguista J. Neves Henriques, em artigo publicado no jornal Expresso de 8/4/1989, apontando ainda o facto de a expressão meios de massas poder, por vezes, sugerir conotações negativas associadas ao dirigismo e à manipulação, no sentido da degradação e do vulgarismo do povo (mas não é o que tantas vezes acontece?), pelo que aponta meios de comunicação social como melhor tradução para mass media: "É linguagem que todos entendem, óptima para substituirmos o estapafúrdio mass media." Assim, porque não havemos de adoptar meios de massas, meios de comunicação social, ou simplesmente, e sempre que o contexto seja claro, os meios? Posto isto, estão lançadas as bases para acabar com os igualmente estrambólicos multimédia e mediático; alvos de uma próxima discussão?
P.S. Já agora, porque não dizer tela em vez de écran ou ecrã, teia em vez de web, Teia Mundial em vez de Worldwide Web, local ou sítio em vez de site, ligação em vez de link, descarregar ou transferir em vez de download, conversa ou cavaqueira em vez de chat, folheador em vez de browser, correio-E em vez de E-mail "e assim sucessivamente sem cessar"?...
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