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Muié – Relatos e Sentimentos

Elas

Há aquelas que andam
Escondendo os peitos
Pensando no mal

Há aquelas que mandam
Os olhos bem feitos
E boca sensual

Há aquelas do templo
Caminhando descalças
Sobre a escada

Há aquelas que nuas
Cobrem o seu corpo
Com túnica encarnada


Há aquelas na mata
Que de manto branco
Posam sentadas

Há aquelas que nuas
Olham no espelho
Estarem mal penteadas

Há aquelas no quarto
De bikini amarelo
Bem proporcionadas

Há aquelas de chapéu
Com colete curto
E calças apertadas

Há aquelas na praia
Escondendo o rosto
Para estarem sós

Há aquelas deitadas
Que em trajes menores
Sorriem para nós

Há aquelas ingénuas
Que de boca aberta
Olham admiradas

Há aquelas louras
Com os lábios doces
Olhando desconfiadas

Há aquelas que ficam
Sobre chuva densa
E andam molhadas

Há aquelas que depois
De se verem as formas
Ficam abrigadas

Há ainda aquelas
Que somente existem
Na imaginação

Há também aquelas
que crio na tela
Pela minha mão

       (1972)

Este poema foi inspirado nos recortes de mulheres colados nas paredes do nosso quarto pelos meus camaradas, assim como nos desenhos que eu fazia a lápis de carvão e cera e que também colava nas paredes.

 

 

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