Acesso à hierarquia superior.

Muié – Relatos e Sentimentos

Serenata e fogo real

Mesmo dentro desta agressiva luta, há momentos de alegre confraternização entre as duas frentes de combate.

Sendo o inimigo sabedor da nossa crescente e triste situação de isolamento, quiseram-nos presentear com uma noite de boa disposição.

No dia 7 de Setembro de 1971, à uma hora da madrugada, fomos despertados pelo som de um coro melodioso, que nascia na escuridão arborizada da mata e se espalhava pelo céu.

Enternecidos pela música (que por acaso era bem afinada) e poemas pouco elogiosos a nosso respeito, fomos escutando durante duas horas enquanto o GE se preparava para, de surpresa, lhes oferecerem o cachê em forma de granadas de morteiro e chumbo quente.

Depois de os primeiros presentes os terem feito tremer de medo, abandonaram o teatro com a rapidez de felinos, deixando-nos desolados, sem a oportunidade de os podermos ouvir novamente a cantar, tendo como microfone um tapa-chamas de uma G3.

No dia seguinte, o GE e dois grupos de combate, saíram para um reconhecimento numa zona duvidosa.

A determinado momento foi detetado um elemento inimigo desarmado, sendo em seguida aprisionado. Depois de interrogado, informou o local de um próximo acampamento de maus.

Planeado o assalto, ficaram os nossos grupos a fazer proteção, enquanto o GE se lançava ao encontro do inimigo. A luta foi breve. O inimigo abandonou precipitadamente o acampamento, deixando abandonadas três armas, duas granadas, munições variadas e alguma literatura usada na sua formação patriótica.

Neste assalto, três maus caíram mortos sobre a terra.

A literatura encontrada eram extratos do livro da segunda classe das crianças e com certeza leitura de alguns adultos controlados pelo MPLA.

 

 

Página anterior Índice Página seguinte

50-51