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I
Servir a Pátria? não é só em
feito
De armas ou versos, ou de leme e arado;
Também a serve ao mundo extasiado
Mostrar que é linda em seu vestido e jeito.
Que vezes eu me exalto e me deleito
Clamando, em mim, seu nome bem-amado:
– Portugal! Portugal! – E, a ouvir meu brado,
O mar, cingindo a terra, a abraça ao peito.
– Portugal! Portugal... – Palavra imensa
Que sobe, invoca: e logo obumbra e adensa
Ou refulgura em temeroso vulto.
Marulha, à volta, um esto de epopeia;
E a Pátria é viva: é corpo, é alma e ideia,
No que já foi e em seu Destino oculto.
II
Erga-se a Pátria à máxima
excelência,
Amando-a em seu espírito imortal.
Mas, nela, não há só um puro ideal
"A refranger-se em misticismo e ausência.
Nela há, também, – para conter-lhe a essência,
A forma bela, esplêndida e carnal:
Rios passando, entre o arvoredo e a cal;
Brônzea montanha em céus de lírio e hortênsia.
Sim! não é só a página da História,
Ou Chefe audaz impondo a trajectória
Do claro Império que há de ser ainda;
Também há nela, – a enfeitiçar os olhos,
A tinta em flor, a pedra em renda e aos folhos:
Estilos de arte em que se fez mais linda.
III
Assim, mostrar a Pátria se
compara
Aos vários lances de íntima visita
A um templo que nos chama e Deus habita
À luz do sol, sob a rosácea clara.
Primeiro, se ajoelhe onde ajoelhara
A estirpe dos heróis, e onde medita
A geração que passa na infinita
Ânsia do eterno e preparando a seara.
Depois, iremos ver o seu «Tesoiro»:
Cálix; painéis; asperges; rubros e oiro
Que lembram as paisagens outonais.
Por fim, ao cosmorama do zimbório:
A serra, o vale, os céus, o mar, o empório...
– Senhor! as maravilhas que nos dais!
António Corrêa d'Oliveira
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