Série II - N.º 4 - Julho 2008

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História de uma paixão

Macedo Pita *

Reservei a última página do nosso Boletim para a publicação de textos e informação fornecida pelos nossos associados, se assim o desejarem. Referi, no anterior número, que esperava que o Boletim se transformasse na "revista do Clube" e esperava também que os números seguintes "fossem mais elaborados e mais enriquecedores". Isso só será possível se os sócios do CAAA nele participarem. Participação que pode ser feita através do envio de histórias relacionadas com a nossa paixão ou através da informação sobre assuntos de interesse geral para o Clube e seus associados. Deixo assim o apelo a essa participação, numa tentativa de aumentar o interesse dos nossos sócios pelo Clube. É nesse âmbito que aqui deixo a primeira história, esta relacionada com o meu "menino".

Já lá vão 47 anos, mas as imagens continuam na minha memória visual como se tivesse sido ontem. Tinha eu sete anitos quando me apercebi que meus pais andavam a juntar algum dinheirito para algo que eu ainda não percebia. Diziam-me que era uma surpresa.

Depois de quase um ano a poupar lá veio o dia em que os ouvi dizer que já tinham os 51 contos de que necessitavam. Para quê? perguntava eu entusiasmado. A resposta lá vinha: é surpresa. E a surpresa chegou um dia. O meu pai dava aulas na antiga Escola Comercial e Industrial de Aveiro, hoje Escola Secundária Mário Sacramento, e nós vivíamos em Sangalhos, a 25 quilómetros de Aveiro. O comboio era o meio  normal de transporte para o meu pai. Mas esse hábito alterou-se de repente e meu pai, nesse dia, não chegou à hora habitual a que chegaria se viesse de comboio.

Decorria o mês de Março de 1961, mais concretamente o dia 16, e estava eu a brincar com uma galinha o meu animal de estimação a que dei o nome de Poulli Poullete, em homenagem a uma personagem da banda desenhada de então, quando ouvi minha mãe chamando-me, pois, dizia, "vem aí o pai". De facto o pai vinha lá. Só que em vez de vir a pé da estação da CP, que se situava no Paraimo, a cerca de 3 quilómetros de casa, vinha de... carro... um brilhante Volkswagen 1200 azul estava parado à porta de casa.

Um modelo "De Luxo", segundo a designação do livrete. E, por isso mesmo, apresentava as borrachas dos estribos e os frisos dos guarda-lamas da mesma cor do carro. Um extra que fez com que os meus pais tivessem que vender as árvores de um pinhal para arranjar mais mil escudos para pagar a viatura. É que o preço original era de 50 contos, mas o tal "extra" encareceu-o em mil escudos.

Um carro novo que ainda existe. É hoje o meu "menino", tratado com todo o carinho e nada lhe faltando para que se sinta bem. Até a garagem tem desumidificador..

* Editor