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1. É a 7 de Setembro que se realiza a sua festa na Torreira.
2. Diz o Jornal de Estarreja, de 7 de Setembro de 1924, que
no dia da festa "lá irão os barcos à vela Vouga abaixo, todos
bandeirados e em meio do estralejar de foguetes, até à linda Praia, onde
as danças populares darão a melhor nota da festa... E lá iremos também,
cantando e dançando:
Ó milagroso S. Paio,
Ó milagroso santinho;
Pró ano eu cá voltarei
Lavar-vos todo em vinho
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Elementos do antigo Rancho Folclórico de Salreu em romagem. |
3. Trecho de “O Século”, edição da noite, de 26 de Junho de
1915, artigo de Nobre Martins: «A multidão curva-se à sua passagem; as
mulheres entoam-lhe hinos em que vai toda a sua fé e toda a sua
esperança no milagre que esperam dele, enquanto os homens, de cabeça
descoberta, pondo termo à mastigação de grandes abadas de tremoços –
aperitivo para o muito vinho que hão-de beber mais tarde se sorriem,
enviando-lhe saudações e cumprimentos. Por fim, a procissão
desmantela-se e desfaz-se. A porta da igreja escancara-se e o povoléu
imenso, quase à pancada, aproxima-se da capela, numa ânsia feroz,
indomável, de ver de perto o santo querido. Cercado de palmitos e de
velas, S. Paio repousa agora de novo no seu altar. Mas, tu, leitor a
quem me dirijo, já deves ter notado que toda aquela gente vai ajoujada,
que de cada braço direito de romeiro pende um cântaro de barro. Vai
atrás deles, entra também na capela, quando te chegar a vez, e repara.
Após uma reza breve, a multidão, em fila, caminha para a sacristia. Ao
meio desta, sobre um tanque de pedra, assenta outro S. Paio, de madeira,
mais pequeno e mais feio. Erguem-se os cântaros, elevam-se até à altura
da cabeça do santo e, rapidamente, dum jacto, despeja-se sobre o
desgraçado o conteúdo da vasilha. O líquido cai em baixo. Um cheiro capitoso, embriagante, ondeia pelo ambiente. E em baixo, no tanque,
espumam, refervem, cachoam, canadas e almudes de vinho. O pobre S. Paio
recebe as promessas dos romeiros naquela hora. Por sobre a sua cabeça,
escorregando-lhe ao longo do corpo, passam, naquele dia, rios de vinho.
Mas a promessa não está ainda inteiramente cumprida. Os devotos voltam a
encher os cântaros do mesmo vinho, agora santificado e marcham céleres,
a gritar, a impingi-lo a toda a gente: – Quem quer vinho santo!... Quem
quer vinho santo!...
A caminho do S. Paio, com
despiques e cantares. Marques Sardinha e Guida Rei animam a viagem.
(Foto Prof. Dr. Egas Moniz)
E os outros, aqueles que foram à romaria sem serem
impulsionados pela devoção, ou por uma promessa, quer queiram quer não,
embora o vinho lhes cante já na guela, tiram os chapéus e,
reverentemente, bebem da vasilha até o dono dizer: basta.»
4. O costume de beber o vinho em que se lava o S. Paio, na
Torreira, relaciona-se com o de beber pós extraídos de uma imagem de
pedra: aqui, não se pode raspar o santo, que é de pedra mas pequeno:
bebe-se o líquido, em que molham a imagem de madeira
Prof. José Leite de Vasconcelos in Etnografia Portuguesa |