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Sérgio Paulo Silva, O Antuã no seu acabar, 1ª ed., Estarreja, 2007, 80 págs., ISBN 978-989-95333-0-1

O Antuã no seu Acabar

Não há muito tempo, fui treinar uma cadela perdigueira para as margens do Antuã. Já lhe tinha ensinado algumas letras do alfabeto, mas queria ensinar-lhe também o destemor e o prazer da água. O bicho andava radiante, atropelando constantemente a própria sombra nas correrias, procurando e trazendo a bola de trapos que, volta e meia, eu lhe lançava para a vegetação. Fomos assim caminhando até que chegámos à margem. Atirei a bolinha para a escassa água com que o rio arrastava o Verão e incitei a cachorra. Brilharam-lhe os olhos, mas o impulso da busca foi travado como que por magia; e de nada valeram palavras de encorajamento ou as pequenas pedrinhas jogadas para o objecto que seguia aguardando na frouxa corrente.

Como decididamente a cadela não entendia o que eu lhe dizia, teria que atender ao meu exemplo. E se bem o pensei mais depressa o fiz. Pus-me em cuecas e aí vai ele pelo rio dentro à cata da bola, enquanto a cadela permanecia na margem num frenesim de medos, que se transformaram em gemidos e uivos quando subi para a outra margem e me escondi nos milhos a chamá-la.

Demorada e difícil foi a lição dessa tarde e, felizmente, não passou ninguém para se divertir com o entremez, porque seria com certeza risível terem-me surpreendido, na minha idade, em cuecas, como a canalha, a chapinhar no rio. / 8 /

No regresso, por todo o caminho do regresso, o episódio serviu-me para acender na minha mente um caleidoscópio de recordações dos anos em que eu não passava dum cachorrinho a deslumbrar-me com o mundo e a atropelar amiúde a minha sombra entre as mesmas margens do Antuã.

Na década de sessenta do século passado, eu era um rapazelho igual a tantos outros e, como os demais, era permeável aos apelos do rio.

Por esses anos, S. João da Madeira, Oliveira de Azeméis e Estarreja não tinham o peso humano que hoje têm, a carga de indústria que hoje têm, e a agricultura não chafurdava ainda na química. O meixão, enguias juvenis ou já formadas e as lampreias subiam o rio, havia cardumes de robacos e os insectos eram também um sinal de vida, sobretudo os alfaiates no seu constante vaivém, aos repelões, na epiderme da água.

Sempre que me abeiro dum curso de água, gosto de ver os insectos, porque são eles, pela sua vulnerabilidade, que me dão os primeiros sinais de vida dum rio. Se não estiverem lá, as águas estarão moribundas ou já mortas.

Então, os confortos da vida moderna, como as máquinas de lavar roupa, ainda não existiam na maior parte dos lares e muitas mulheres iam lavar para o rio / 9 / juntando aos carregos os filhos que depois ficavam por perto na brincadeira.

Uma ocasião, estava eu entretido com uma caninha da índia a pescar robacos com bolinhas de pão e andava uma ninhada de cachopitos na brincadeira no rio. As mães lavavam e iam estendendo, nos ervanços da margem, a roupa a corar. Às tantas, um dos cachopos armou alguma que outro, mais espigadote, deitou atrás dele para lhe aquecer as orelhas. Na correria, galgaram a torto e a direito por cima de toda a folha e da roupa que corava, sujando tudo.

– Filhos da puuuta! Ah meus filhos da puta – gritava, gesticulando, uma mulher – que vos vou rachar de lenha!

No pesqueiro onde me entretinha, tive que me rir. Eu conhecia aquela gente e a mulher desesperada era a mãe dos moços e, seguramente que, no final do dia, daria aos dois a dose costumeira de carícias...

O rio é a infância da água, escrevia Ruy Belo num belíssimo poema a que voltarei. Neste caso, era também a água da infância. Em sendo os dias maiores e mais quentes – todos nós tínhamos medo das sezões e nenhum se atrevia a antecipar a estação – íamos para lá, por vezes faltando à escola, e todos aprendíamos a nadar desafiando os fundões que a corrente criava. / 10 /

Em algumas tardes, o entretimento maior era apanhar robacos nas tocas, enfiando o braço pelos buracos das margens onde eles se refugiavam. O pior era que, às vezes, em lugar de robacos apareciam ratas ou, pior ainda, cobras-de-água; e bem melhor era andar com a palma à cata de enguias ou a armar galrichos, camuflando-os na vegetação com a boca voltada para a foz.

As águas continuaram a correr e arrastaram para a imensidão essas brincadeiras de juventude. Uma após outra, as mulheres foram deixando de lavar no rio, o crescimento dos pequenos burgos, a montante, e o incremento de novas indústrias, algumas com efeitos devastadores como a de lacticínios de Oliveira de Azeméis ou as descargas de cisternas de hipoclorito, foram matando os insectos...

E o rio recebeu a mais cruel das recompensas.

A água é indispensável e criadora de vida. Ao longo dos tempos, os indivíduos, as famílias, os grupos, foram-se fixando na proximidade da água. O correr dos séculos trouxe-nos notícias das grandes civilizações fluviais: dos egípcios, sobretudo, talvez por ser a mais fascinante, mas também doutras civilizações doutros pontos do grande Nilo, do Tibre e do Eufrates, do Ganges ou do Amazonas.

Por todo o curso do Antuã e seus afluentes também se foram fixando / 11 / pessoas, pela água e pela qualidade dos terrenos, pela sua fertilidade e facilidade de manuseamento.

Há na freguesia de Salreu, na margem Sul do rio, um lugar cimeiro chamado Crasto. O nome sugere-nos de imediato a existência de um crasto, embora até agora não tenham aparecido evidências da sua existência. Contudo, os nomes das localidades não nasceram por acaso. Se se chama Vale Castanheiro a um lugar, não é por lá terem existido oliveiras e eucaliptos... Penso que a falta de sinais do povoamento terá também a ver com os materiais de construção disponíveis. Por todo o acabar do Antuã, a pedra é praticamente inexistente e, até à divulgação do tijolo, as habitações eram feitas com celão (blocos de lodo compactado), adobes (feitos com areia saibrosa, afamados os de Anadia, e, geralmente, transportados por barcos mercantéis), madeira, ou seja, materiais perecíveis.

Em 2002, no decurso das obras de melhoramento e restauro da Capela de Stº Amaro, lugar cimeiro na margem norte do rio, foi encontrada uma pequena lâmina de sílex, objecto comum da pré-história. Não é pois necessário um grande exercício de imaginação para compreender que a fixação de pessoas nas proximidades do rio é muito anterior à nossa nacionalidade. / 12 /

O rio serviu essencialmente a exploração dos terrenos envolventes aos povos primitivos e às gerações sucessivas. Penso que a riqueza piscícola, mesmo quando o rio tinha outra pureza de águas, se prestava mais a actividades lúdicas que a modos de vida, à criação de riqueza. Um bom ano de lampreias, uma noite feliz às lampreias, não passava dum bodo aos pobres. A riqueza dava-a o rio aos que tinham terras que as águas bafejavam e nelas mourejavam. A riqueza deu-a o rio aos fazedores de arroz, depois de ele próprio ter urdido as marinhas.

 

Voltemos ao poema de Ruy Belo: 

Um dos passeios que mais gosto de dar é ir a Esposende

Ver desaguar o Cávado. Existe lá um bar apropriado para isso.

Um rio é a infância da água. As margens, o leito, tudo a protege.

Na foz é que há a aventura do mar largo. Acabou-se qualquer

Possível árvore genealógica, visível no anel do dedo. Acabou-se

Mesmo qualquer passado. É o convívio com a distância, com o incomensurável.

É o anonimato. E a todo o momento há água que  / 13 /

Se lança nessa aventura. Adeus margens verdejantes, adeus pontes,

Adeus peixes conhecidos. Agora é o mar salgado, a aventura sem

Retorno, nem mesmo na maré-cheia. E é em Esposende que eu

Gosto de assistir, durante horas, a troco de uma imperial, à morte

De um rio que envelheceu a romper pedras e plantas, que lutou,

Que torneou obstáculos. Impossível voltar atrás. Agora é a morte. Ou A vida.

«Homem de Palavra (s)» – Pub. D. Quixote, 1970

 

Também eu gostava de ter um rio assim, um rio com uma foz que eu ficasse a adorar com uma imperial esquecida entre os dedos. Mas o Antuã tem agora um desaguar feio, emparedado por balrães de saibro e pedra e por um intrincado matagal de canízia e silvas que esconde o mar de lama onde começa a aventura sem retorno nas águas da laguna de Aveiro. / 14 /

Sabemos que as águas do mar, quando a laguna não existia, vinham mais ou menos até aos terrenos onde hoje se situa a via-férrea. Por aí se situaria naturalmente a foz do Antuã, por aí morreriam as suas águas carregadas de aluviões.

Muito perto, sobre o lado sul, o Vouga (muito antes da abertura do canal que hoje conhecemos por Rio Novo do Príncipe, em 1815, obra dos engenheiros Reinaldo Oudinot e Luís Gomes de Carvalho) fluía pelo seu antigo leito, braço hoje designado por Rio Velho, e estendia os seus tentáculos, também eles carregados de sedimentos, que em anos de grandes cheias se entrelaçavam com as águas de pequenos cursos e com as águas do Antuã. O mar morria cada vez mais longe e o braço humano ia fazendo as marinhas, forçando o curso das águas, trabalhando as terras que se entregavam.

A produção de cereais e a necessidade da sua transformação em farinhas para a confecção do pão e para suporte alimentar dos animais de trabalho, ou de produção de carne, urdiu outra fonte de riqueza, os moinhos de água que tinham enorme importância, sobretudo no curso superior do rio, no concelho de Oliveira de Azeméis, mas também aqui, no local que ficou conhecida por turbina. Ainda hoje, apesar de raras, se cultivam no nosso concelho terras de trigo. Contudo, / 15 / em épocas mais recuadas, o cultivo de cereais como o trigo e o centeio era generalizado e, juntamente, com o milho e o arroz, determinaram e incrementaram as suas construções, que conheceram anos de significativo sucesso, nomeadamente na primeira metade do século passado, sobretudo na fase dos racionamentos e da candonga...

A evolução da sociedade e o desenvolvimento industrial foram tornando obsoletos os velhos moinhos. Os que se situavam a montante da ponte velha (Estarreja), na margem da Quinta da Costa, foram adaptados pelo seu proprietário, Carlos Marques Rodrigues, que neles construiu uma estação hidroeléctrica, que chegou a ter potência instalada de 50 KW. A central, de serviço particular, forneceu, a partir de 1915, energia à Fábrica de Descasque de Arroz. Paralelamente, a Turbina fornecia gratuitamente energia a Estarreja, nomeadamente ao Hospital Visconde de Salreu. E foi o sucesso da moagem eléctrica, adicionado à emigração, que encerrou um ciclo que tinha durado gerações. Gradualmente, os moinhos foram sendo abandonados, estando hoje reduzidos a escombros que os silvados piedosamente encobrem.

Outra fonte de riqueza do rio é a água, que é captada em Santiais, pela CME / 16 / e pelas bombas da Quimigal, já perto da foz, e que são utilizadas pelas principais indústrias do Concelho. Para que se tenha uma ideia da sua importância e significado, refira-se que a Cires consome cerca de 200 m3/hora, a Dow 80 m3, sendo outros grandes consumidores o Ar Líquido, a Nestlé...

«Tejo que levas as águas / correndo de par em par / lava a cidade de mágoas / leva as mágoas para o mar», escrevia num poema Manuel da Fonseca (de que Adriano Correia de Oliveira faria uma agradável canção). Também o Antuã vai penosamente lavando algumas mágoas, levando-as mudamente para o mar. Algumas, porém, permanecem, como os montes de entulho no lugar da Canhota, em Salreu, precisamente a povoação que o rio mais bafejou e que nele continua a lançar cisternas de fossas domésticas e de vacarias... «Ribeiras limpas / acudi-me» (Fernando Assis Pacheco – o garrote): também podia ser esse o grito do nosso rio. Ribeiras limpas, ribeiras lindas!

Aí por 1956 ou 57, nos meus 6 ou 7 anos de idade, acordei uma noite sobressaltado: o meu avô Raul não estava na cama onde ambos dormíamos, na sua casa próxima da Escola Conde de Ferreira. Há imagens de infância que perduram pela vida e lembro-me de ter ido, às escuras, pela casa fora, à procura dele. Fui / 17 / encontrar o meu velho avô na cozinha, onde também havia uma grande masseira e o forno, onde se cozia o célebre pão de oito dias e as padas (oitenta e oito) de muita fama. O meu avô estava no meio da cozinha, um leitão metido num ferro (ainda conservo esse ferro facetado) sobre uns cavaletes de madeira, a esfregar a pele já dourada do bicho com um naco enorme de toucinho.

O leitão voltou docilmente para o forno, mas eu só muito a custo é que voltei para a cama! Na manhã seguinte, fomos para a festa da Senhora da Ribeira, na Minhoteira, já no Pinheiro da Bemposta. Não sei como fomos. Meu avô não tinha carro e já nem a velha carroça de vacas teria. Disso não me recordo. O que sei é que da sua casa até à ponte, na Minhoteira, são quase sete quilómetros e, da ponte para a capela, são mais uns quinze minutos a pé. Ao colo ninguém me levaria... Fomos!

A festa da Senhora da Ribeira acontece todos os anos, no segundo Domingo de Maio, tempo dos grilos. Recordo-me dos campos, que marginavam o rio, estarem todos cultivados e dos grilos cantarem por todo o lado; e lembro-me de ver muita gente e de me terem deixado brincar na água limpa da ribeira, que também cantava como os maestrinos, na apressada alegria de se juntar ao Antuã. / 18 /

Há pouco voltei lá. A capela, que tem inscrita a data de 1611, já não recebe romeiros como antigamente. Os ex-votos que lá existiam, desapareceram todos, o caminho tem silvados e os campos de ambas as margens estão transformados em matagais. Aqui e além descortina-se o leito do rio que na generalidade apenas se adivinha, tal é a densidade dos silvados e o emaranhado de arbustos que o sufocam. Plásticos diversos, vidros partidos e, no colo da ribeira onde me tinham deixado brincar, dois enormes pneus de camião.

No terceiro volume da interessante obra Guia de Portugal, Raul Proença escrevia em 1940 (cf. edição de 84 da Fundação Calouste Gulbenkian): «De St.º Amaro em direcção à Estrada Nacional e a Oliveira de Azeméis encontra-se a chamada encosta da Minhoteira, lindíssimo vale por onde desce o Antuã. É uma das Formosas paisagens da região». As ribeiras que naquele ponto o Antuã recebe são também pequenos caudais de mágoa, também elas clamando. Mas a beleza do sítio é como a de algumas mulheres que perdura desafiando os caprichos dos tempos que passam.

E de ribeiras é o Antuã rico, o Antuã e os seus principais afluentes, o UI.

Como o Ínsua também é, ribeiras que se semelham às nervuras de algumas folhas / 19 / ou à raiz duma velha árvore. Duas há que lhe são próximas mas que apenas misturam caudais nas águas largas da laguna: a do Gonde, a norte, que atravessa Avanca e a da Enxurreira, também conhecido por Rio jardim, a sul, que separa Salreu de Canelas. Ambas com caudais suficientes para alimentarem moinhos nas estações mais pluviosas mas que, no Verão, se reduzem a fios ou poceiros. De resto, toda a região cimeira do Distrito, na Freita ou em S. Macário, por Sever do Vouga, todo o ambiente do seu grande vizinho Vouga, é rica de água. Um simples olhar para o mapa revela-nos isso. Tive, de resto, a preocupação de prescindir do pormenor miudinho na transcrição da carta do rio, por o entender sem valia para o que me propus. Mas é deste intrincado novelo de varizes de água que nos vem o rio como o conhecemos no seu acabar. Socorro-me, para o descrever, do elaborado estudo feito por F. Ferreira da Silva: «O rio Antuã tem a sua origem em dois arroios que se juntam em Carregosa de Baixo. Ambos nascem na Freguesia de Escariz, concelho de Arouca. Um deles tem a origem em Alagoas, banha Seixeira, Fajões e entra no lugar de Carregosa de Baixo; o outro nasce nas proximidades da Venda da Serra e junta-se ao primeiro naquele lugar. Corre depois por terras de Carregosa, Pindelo, S. Roque, Oliveira de Azemeis, UI, Estarreja, Salreu e tem a sua foz na Ria de Aveiro. Recebe na margem direita o rio / 21 / Ul que nasce na Freguesia de Fajões, no lugar de S. Mamede. Banha Romariz, Milheirós de Poiares, S.João da Madeira, S. Roque, Cucujães, Santiago de Riba-UI, Madail e UI, onde junta as suas águas às do rio Antuã.

Sob o ponto de vista histórico a importância do rio Antuã data dos princípios do século XII, no tempo dos Pontífices Pascoal II e Calisto II, que estabeleceram definitivamente os limites das Dioceses do Porto e Coimbra. Serviu este rio de linha de demarcação territorial e eclesiástica das duas dioceses (cf. Arquivo Distrito Aveiro, VoI. XIV, nº 53-1948).

Todos estes cursos de água, de maior ou menor dimensão, têm nas suas margens uma flora espontânea diversificada, que lhes dá uma invulgar festa de verdes. Uma grande variedade de ervanços, sabugueiros, amieiras, densos canaviais... Quando visitei a Senhora da Ribeira, encontrei, nas proximidades, sob a protecção do arvoredo, uma planta que julgava desaparecida e que fez as delícias da minha infância: morangueiros silvestres. Tanto bastou para que o passeio levitasse em encanto. Qualquer visita ao Antuã, ao seu vale, às suas margens, pode revelar-se uma festa para os sentidos. Num dia chuvoso de primavera, quando procurava as ruínas dum moinho, surpreendi dois apaixonados, desligados do mundo, com / 22 / os seus minhoqueiros a tentar as enguias na água barrenta pelos enxurros. Um amigo meu foi mais feliz num dia em que foi inspeccionar uns pinhais que herdara.

Quando estava numa vertente a estudar as árvores, ouviu uns barulhos estranhos que subiam das águas. A curiosidade mostrou-lhe uma família de lontras que brincava. Veio-me anunciar o achado com compreensível entusiasmo, mas pedi-lhe o maior segredo: alguns tesouros devem ser bem guardados, como os dos piratas...

Mas outros bichos povoam o ambiente do rio. Javalis, por exemplo, que nas suas margens fazem as suas banhas, a galinha-de-água ou o guarda-rios com os seus fulgurantes voos azul-laranja.

No Inverno, quando a chuva se prolonga por alguns dias, o rio ganha corpo rapidamente e as suas águas barrentas galgam facilmente as margens inundando as terras onde continuará a depositar os seus nateiros. Serão então tristes, mas ainda assim duma tristeza bela, as suas paisagens. Foram, no entanto, as ambiências da Primavera e do Verão que mais apelos semearam na alma dos artistas, fotógrafos e pintores sobretudo. E pelas suas objectivas e paletas se foi preservando a memória do rio e da sua beleza que continua a oferecer-se enquanto as águas se aventuram sempre ávidas do convívio com a distância.

 
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