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Cruzo-me
contigo na rua,
Tantas vezes quantas
A vida nos faz girar.
Vejo-te acabrunhada,
Cansada,
E penso que volta a tua vida Irá dar.
Foste sempre boa esposa dedicada,
Por todos sacrificada. – É crime?
Foste mãe extremosa
E nunca por um momento puseste
O ''Eu'' à frente do ''Eles'' – É crime?
Foste poupada, vida económica
Preferindo uma poupança avultada
A um vestido, um passeio,
Uma pequena extravagância – É crime?
A tua casa parecia um museu.
Tudo estava no lugar que lhe era conveniente.
Parecia que nela não morava gente. – É crime?
Porque cometeste crime, foste castigada!
Vives só, abandonada porque cometeste
Um crime contra ti própria.
Ensinaram-te, e bem, os teus deveres,
Mas não te mostraram os teus direitos.
Talvez... se tivesses posto acima de tudo
A convivência com a tua família.
Talvez... se soubesses que não nasceste
Só para procriar mas também para viver
A tua condição de mulher...
Talvez... se dedicasses algum tempo
A ti própria, procurando
A tua independência...
Talvez... se te esquecesses um pouco
Da casa e pensasses
Nos teus prazeres legítimos.
Talvez fosses mais amada, respeitada...
Não sei!...
Novembro de 2001
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