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Egas Salgueiro e a Empresa de Pesca de Aveiro – As minhas memórias

Os Três Investimentos

Já no final da minha actividade profissional, terminada em 1993, adivinhava-se a difícil situação financeira da EPA. Sentia-se isso até pela escassez  de meios para trabalhar. Sempre ouvi falar que estes investimentos determinaram a sua venda. Não sei, não é da minha atribuição nem competência, apenas vou relatar os factos:

1º Transformação do navio St.ª Mafalda

Projectada para 8 meses, a remodelação do Santa Mafalda acabou por demorar 4 anos. Para uma unidade destas, foi complicado. A transformação em congelador começou no cais da EPA. Foi depois para os Estaleiros de São Jacinto e voltou à EPA para os acabamentos. Além da central frigorífica, levou duas novas M.P. (Máquinas Principais), dois Grupos Auxiliares Caterpillar, para aumento da potência eléctrica, um novo quadro eléctrico principal, por mim concebido e aprovado pela Lloyd’s, em Londres, dotado de elevada tecnologia. Finalmente, foram transformados os porões em câmaras frigoríficas para congelação do pescado.

Sociedade Tunamar-Pesca e Indústria de Tunídeos

Em 1986, foi constituída a empresa Tunamar-Pesca e Indústria de Tunídeos, que começou a laborar com um navio denominado Tunamar, construído nos estaleiros da Campbell, em San Diego, na Califórnia.

Pouco tempo depois, foi decidida a construção de mais dois navios do mesmo tipo, construções 142/143 para 11200 toneladas, nos estaleiros de São Jacinto, baptizados respectivamente Tunaçores e Tunamadeira.

Estas três unidades para a pesca do cerco do atum eram o que havia de mais moderno naquele tempo. Além de plataforma para helicópteros, estavam dotados com sonar e telecomunicações por satélite. Para colmatar as limitações do sonar, que só captavam a partir de determinada profundidade, os navios possuíam um mastro com cesto da gávea, o que permitia que um elemento pesquisasse com binóculos os cardumes de tunídeos que se deslocavam à superfície. Estruturalmente, foram das primeiras embarcações a ser construídas com dois tipos de metal: casco em ferro e coberta em alumínio. Isto obrigou à utilização de novas técnicas de soldagem, porque, até aqui, não era possível soldar o alumínio ao ferro. Como novidade invulgar, cada barco possuía uma capela.

Fábrica de Processamento de Peixe

Com quatro câmaras frigoríficas, para 10000 toneladas, a fábrica de processamento de peixe foi um importante interposto frigorífico. Para que pudesse funcionar adequadamente, fomos obrigados a aumentar a potência do PT (Posto de Transformação) para mais de 630 KVAs e a construir uma nova central frigorífica, fornecida pela empresa dinamarquesa Sabroe, dotada com um enorme e complexo quadro eléctrico. Este sistema de frio foi apoiado pela firma Silva &Trinca. No solo foram rasgadas valas para passagem dos cabos eléctricos e o poste de média tensão de 15 KV desviado para possibilitar a construção do complexo frigorífico. Esta fábrica começou o seu funcionamento com a supervisão do engenheiro Maia Miguel, coadjuvado por um técnico nórdico, uma vez que se propunha fumar peixe e processá-lo de diversas formas.

A elevada envergadura destas três iniciativas levaram a que a firma não conseguisse aguentar-se do ponto de vista financeiro, determinando a alienação do seu património, que aos poucos foi sendo vendido.

 

E por aqui nos ficamos nestas crónicas, desejando que a actual Empresa de Pesca de Aveiro, agora com outros proprietários e outras formas de estar no mercado, possa continuar a desenvolver o País e a dar o tão necessário emprego às pessoas da região.

As viagens que fiz, as consultas que efectuei, a documentação a que tive acesso, as revisões gramaticais e linguísticas, garantem alguma qualidade, que sempre me preocupou, e até algum rigor científico.

Agradeço ao Diário de Aveiro, por me ter disponibilizado as suas páginas para a divulgação destas crónicas. Agradeço até às pessoas mais anónimas, que me ajudaram a recriar as minhas memórias não vivenciadas.

Agradeço aos meus Amigos por me terem dado a possibilidade de me tornar mais culto. Poderão consultar o site Aveiro e Cultura, onde elas não têm limitações de espaço, o que nos permitiu um maior desenvolvimento, bem como a inserção de diversas fotografias a cores e interactivas.

 

«Tunaçores» adquirido pelo capitão Cristiano da Rosa e rebaptizado com o seu nome. Fotografia obtida em 1998 por Valéry Chérevoz, atracado em Lautoka, nas Fidji, em Março de 1998.

 

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04-04-2016