De:
Ivo
Cardoso
Data: 23/01/2007 11:23
Assunto: Carta de mãe alenteja
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Mê qrido filho,
Ponho-te estas poucas linhas para saberes que estou viva.
Escrevo devagar, porque sei que nã gostas de ler depressa.
Se receberes esta carta, é porque chegou. Se ela nã chegar,
avisa-me que mando-te outra.
Tê pai leu no jornal que a maioria dos acidentes ocorre a 1 km
de casa. Assim, mudámo-nos para mais longe.
Sobre o casaco que querias, o tê tio disse que seria muito caro
mandar-to pelo correio por causa dos botões de ferro que pesam
muito. Assim, arranquei os botões e coloquei-os no bolso. Quando
chegar aí, prega-os de novo.
No outro dia, houve uma explosão na botija de gás aqui da
cozinha. O tê pai e eu fomos atirados pelo ar e caímos fora de
casa. Que emoção! Foi a primeira vez em muitos anos que tê pai e
eu saímos juntos.
Sobre o nosso cão, o Joli, anteontem foi atropelado e tiveram de
lhe cortar o rabo. Por isso toma cuidado quando atravessares a
rua.
Na semana passada, o médico veio visitar-me e colocou na minha
boca um tubo de vidro. Disse para ficar com ele por duas horas
sem falar. O tê pai ofereceu-se para comprar o tubo ao médico.
Tua irmã Maria vai ser mãe, mas ainda não sabemos se é menino ou
menina; portanto, nã sei se vais ser tio ou tia.
O tê irmão António deu-me muito trabalho hoje. Fechou o carro e
deixou as chaves lá dentro. Tive que ir a casa pegar a suplente
para o abrir. Por sorte, cheguei antes de começar a chover,
porque a capota estava em baixo.
Se vires a Dona Esmeralda, diz-lhe que mando lembranças. Se nã a
vires, nã lhe digas nada.
Tua Mãe
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