De:
Énio
Semedo
Data: 18/01/2007 22:28
Assunto: Sinfonia Inacabada de Franz Schubert
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Uma outra versão da paráfrase «Sapateiro,
quem te manda a ti tocar rabecão?»
Sinfonia Inacabada de Franz Schubert
Um administrador, adepto de primeira hora
da doutrina neoliberal, ganhou um convite para assistir a um
concerto da Sinfonia Inacabada de Franz Schubert. Como estivesse
impossibilitado de comparecer, deu o convite ao gerente de
Organização, Sistemas e Métodos. Na manhã seguinte, o
administrador perguntou-lhe se tinha gostado do concerto. Ao
invés de comentários sobre o que ouvira e vira recebeu o
seguinte relatório:
Circular Interna n.º 13/2007
De: Gerência de Organização, Sistemas e Métodos
Para: Directoria
Refª: Sinfonia Inacabada
1 - Por um período considerável de tempo, os músicos com oboé
não tiveram nada para fazer. O seu número deveria ser reduzido e
o trabalho redistribuído pelos restantes membros da orquestra,
evitando-se assim estes picos de inactividade;
2 - Todos os violinos da primeira secção, doze ao todo, tocavam
notas idênticas. Isso parece ser uma duplicação desnecessária de
esforços e o número de violinos nessa secção deveria ser
drasticamente reduzido. Se for necessário um volume de som alto,
isso poderá ser obtido através do uso de um amplificador;
3 - Muito esforço foi despendido ao tocarem semitons. Isto
parece ser um preciosismo desnecessário e seria recomendável que
as notas fossem executadas no tom mais próximo. Se isso fosse
feito, poder-se-iam utilizar estagiários em vez de
profissionais;
4 - Não há utilidade prática em repetir com os metais a mesma
passagem já tocada pelas cordas. Se toda esta redundância for
eliminada, o concerto poderá ser reduzido de duas horas para
apenas vinte minutos;
5 - Enfim, resumindo as observações dos pontos anteriores,
podemos concluir que se Schubert tivesse dado um pouco de
atenção a estes pontos, talvez tivesse tido tempo para acabar a
sua sinfonia inacabada.
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