A velhinha do cruzeiro

 

De:  Énio Semedo
Data: 14/01/2007 23:10
Assunto: A velhinha do cruzeiro

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Minha esposa e eu viajávamos num cruzeiro pelo Mediterrâneo a bordo de um transatlântico da empresa Princess.

Durante o jantar, reparámos numa senhora velhinha, sentada perto da varanda do restaurante principal. Verificámos também que todo o pessoal, a tripulação do barco, garçons, ajudantes dos garçons, em suma, todo o pessoal estava muito familiarizado com ela.

Perguntei ao rapaz que nos atendia quem era aquela dama. Esperava que me respondesse ser ela a dona da companhia de cruzeiros, mas disse-me que não. Ela estava a bordo apenas desde as últimas 4 viagens, ida e volta.

Uma tarde, quando saíamos do restaurante, cruzámo-nos com ela. Eu aproveitei para a cumprimentar. Conversámos um pouco e, passado uns minutos, disse-lhe:

— Pelo que entendi, a senhora permanece neste barco desde as últimas 4 viagens.

Ela respondeu-me:

— Sim, isso é verdade.

Disse-lhe que não entendia a razão do seu comportamento e ela explicou-me, sem qualquer hesitação:

— É que sai mais barato que um asilo para velhos nos Estados Unidos. Nunca ficarei num asilo. E, de agora em diante, fico até à morte a viajar nestes cruzeiros. E já vai perceber porquê. O custo médio para se cuidar de um velho nos asilos é de 200 dólares por dia. Verifiquei com o departamento de reservas da linha Princess que posso obter um desconto, quando compro os cruzeiros com bastante antecipação. Com mais o desconto para pessoas idosas, a viagem acaba por me ficar nos 65 dólares diários. E tenho muitas vantagens:

1) - Pago só 10 dólares diários de gorjetas.

2) - Tenho mais de 10 refeições diárias, se quiser ir aos restaurantes, ou posso ter o serviço na minha cabine, o que significa que posso ter o café da manhã na cama durante todos os dias da semana.

3) - O barco tem 3 piscinas, um salão de ginástica, lavadoras e secadoras de roupa grátis, biblioteca, bar, Internet, cafés, cinema, show todas as noites e uma paisagem diferente todos os dias.

4) - Pasta de dentes, secador de cabelo, sabonetes e champô grátis.

5) - Tratam-me como cliente e não como paciente. Com uma gorjeta extra de 5 dólares, tenho todo o pessoal de serviço a trabalhar para me ajudar.

6) - Conheço pessoas novas de  7 em 7 ou de 14 em 14 dias.

7) - Se a TV se estragar, não necessito de a arranjar. Se a lâmpada fundir, vêm logo trocá-la. Até me trocam o colchão, se necessário. Nunca há problemas. Eles consertam tudo e ainda pedem desculpas pelos incómodos. Lavam a roupa da cama e as toalhas todos os dias, e não temos que pedir.

9) - Se formos parar a um asilo de velhos e partirmos a bacia ou uma perna, a única saída é o plano médico. Se cairmos e nos magoarmos em algum barco da empresa Princess, acomodam-nos numa suite de luxo pelo resto da vida.

Agora vou contar o melhor das empresas Princess. Se quisermos viajar pela América do Sul, Canal do Panamá, Taiti, Austrália, Mediterrâneo, Nova Zelândia, pelos fiordes, pelo rio Nilo, Rio de Janeiro, Ásia, ou mencionarmos onde queremos ir, a Companhia Princess está pronta para nos levar. Por tudo isto, meu amigo, nunca me venha procurar num asilo para velhos. Viver entre quatro paredes? Num jardim? Como paciente de hospital? Não, muito obrigado. Dispenso isso muito bem. Ah, ia-me esquecendo, se morrermos durante a viagem, atiram-nos ao mar sem nenhum custo adicional.

 

Data de inserção
20-Maio-2007

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Colaboração
Énio Semedo