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O moliceiro, o amante da ria

 

O moliceiro, o amante da ria,

Flutua leve, silencioso,

Rompendo a madrugada,

Rasgando o manto misterioso

Da neblina que o veste;

E com a ajuda do sol nascente

Aparece imponente à luz do dia.

 

Com a sua proa pintada,

A sua vela içada

Prenhe de vento, de maresia

Vai lavrando

As salsas águas da ria.

 

O moliceiro, o amante da ria,

Carrega no seu ventre

O húmus, a semente,

Que fecunda a terra

Terra que abraça a ria,

Rotunda de seiva, de alegria.

 

Corta as águas, ora calmo, gracioso,

Porque Eolo, no Olimpo, está alegre

Ora quase naufraga

Porque o deus está zangado, furioso.

 

E ria acima, ria abaixo

Ao som da concertina,

Espalha a cor, a alegria,

Ao levar os mancebos e as moçoilas,

A S. Paio em dia de romaria.

 

O moliceiro, o amante da ria,

Abraça-a nos seus braços esverdeados,

Trocando ósculos entusiasmados,

Que são as marolas da ria

Marulhando no casco do moliceiro.

 

Assim desliza o moliceiro

Pelas águas esverdeadas da ria

Ora lisas, ora ondeantes

Trocando juras de amor eterno

O moliceiro e a sua amante,

A ria!

 

1º Prémio de Poesia livre dos VII Jogos Florais da Câmara Municipal da Murtosa em 25/03/2006. Tema: O Moliceiro

 

 

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10-04-2014