David Paiva Martins,
Fragmentos de Vida. A Minha Terra. 1ª ed., Aradas, ACAD (Associação
Cultural de Aradas), 2005, 170 pp. |
FONTES
DO MOURINHO – Eram duas, que existiam de cada um dos lados da
estrada nacional, quase ao fundo de uma das antigas ladeiras do
Mourinho. Para actualizar a sua localização, digamos que a do lado norte
se situava sensivelmente no local onde hoje existem as oficinas Veigas.
A outra era praticamente em frente, do outro lado da estrada. Eram
fontes implantadas em alvenaria, com bica metálica e tanque bebedouro
para o gado. Há cerca duns 30 anos, com as obras de alargamento da
estrada e seu aterro, para eliminar as pronunciadas ladeiras que tinha,
estas duas fontes foram destruídas.
A do lado norte tem
associada uma história interessante, que a seguir se conta.
Começo por uma das fontes do Mourinho, concretamente a que se situava na
berma norte da estrada nacional. Numa bela tarde de Verão, a tropa,
marchando desde a carreira de tiro na Gafanha, sob um sol dardejante e
abrasador, regressava ao quartel em Aveiro. Era coisa comum nesse tempo
em que na cidade estavam aquartelados dois regimentos, um de infantaria
e outro de cavalaria. Ao passarem no Mourinho, um dos soldados,
afogueado, resolveu beber água na fonte. Em tão má hora o fez que, de
imediato, caiu morto. Não se sabe ao certo de que morreu; apenas que
faleceu logo ali. Em memória desse soldado foram implantadas na fonte
umas "alminhas", com uma imagem de Santo António. Devido às obras de
alargamento e regularização da
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estrada, feitas há cerca duns trinta anos, a fonte foi destruída. Mas as
"alminhas" foram preservadas e ainda lá estão, implantadas agora no muro
de suporte dos terrenos das vivendas que ali existem, escassas dezenas
de metros desviadas do seu lugar original. Contudo, a voz do povo
atribui a castigo divino, pela mudança das "alminhas", os muitos
acidentes de viação que nos últimos anos têm ocorrido no lugar onde
dantes esteve a fonte... É um privilégio nosso estar, assim, a assistir
ao nascimento duma nova lenda!... |