Chegados aqui, parece a altura de o autor expressar algumas
impressões que foram ganhando forma no seu espírito à medida que
avançava neste trabalho.
Embora pareça evidente que, em termos de evolução e
progresso, a segunda metade do Século XX, em Aradas, tenha sido mais
importante que a primeira, esta é que (com a excepção referida no
início) foi tema deste trabalho. Quem futuramente vier a debruçar-se
sobre a segunda metade, não deixará certamente de pôr em evidência o
papel específico de três figuras: Duarte da Rocha, padre Júlio da Rocha
Rodrigues e Manuel Simões Madail.
Manuel Simões Madail, pelo que deu de dedicação a Aradas e
ao seu progresso, ao longo do quarto de século em que serviu como
presidente da Junta de Freguesia e o que continua a dar após isso: o seu
trabalho, a sua influência e verbas avultadíssimas para a construção de
infra-estruturas sociais. |
|
Major Lebre (Dr. António Tavares Lebre) |
O padre Júlio da Rocha Rodrigues, pároco de Aradas há mais
de trinta anos, pela espantosa obra social que tem realizado e está ao
serviço do povo.
Duarte da Rocha, pela sua actuação como presidente da Junta e
toda a obra social que vem realizando, nomeadamente através do desporto,
por intermédio do Futebol Clube do Bonsucesso.
Mas a primeira metade do Século também teve figuras
significativas, cuja actuação importa relevar.
Uma primeira figura, que não pode deixar de ser posta em
destaque, é António Lopes dos Santos, o presidente da chamada Junta
Militar, cuja biografia e obra já foram evidenciadas neste trabalho, no
local adequado. É opinião do autor que ele foi o mais notável presidente
da Junta de Freguesia de Aradas na primeira metade do Século XX.
Outra figura a destacar, tanto pela negativa como pela
positiva, é a do professor Manuel Estudante. Pela negativa porque, como
ao longo do trabalho se denuncia, a sua actuação, parecendo norteada
pela procura incessante do interesse próprio, chega a ser chocante. Pela
positiva, porque há uma circunstância a seu favor que tem de ser
relevada: a excelente qualidade das actas que deixou. Sendo fruto do
trabalho dum homem de cultura superior à generalidade do meio
envolvente, essas actas descrevem os acontecimentos com uma minúcia que,
indo muitas vezes ao pormenor, nos permite ter hoje a visão de como era
e funcionava a Freguesia de Aradas nesse tempo. Foi um serviço
importante que legou à posteridade.
Foi justamente o detalhe das suas descrições que
possibilitou ficar-se negativamente surpreendido com a actuação pública
do padre Daniel Correia Rama, o Sr. Vigário. De todas as importantes
cerimónias de âmbito civil que ocorreram durante o primeiro quarto de
século do seu múnus paroquial, só marcou presença na sessão solene do
dia 13 de Setembro de 1931 – certamente porque, entre os diversos
melhoramentos que nesse acto foram inaugurados, se incluiu o relógio da
torre da Igreja. O elevado estatuto social de Pároco implicaria que a
sua presença fosse assinalada em todos os actos oficiais em que
estivesse presente. Ora o facto é que nunca mais foi mencionada. Nem
mesmo em actos tão significativos como a inauguração das novas Escolas
de Verdemilho ou do Cais do Eirô. Custa a entender que se tenha
“permitido” tais ausências. O que sugere especular-se que,
aparentemente, no seu espírito, a questiúncula havida anos antes com o
professor Ramos, então presidente da Junta, se sobrepôs ao “dever”, que
a sua qualidade de Pároco “impunha”, de não se alhear de actos que,
reconhecidamente, eram do maior significado para o povo que lhe cabia
pastorear.
E chegámos à mais importante figura da Freguesia de Aradas na
primeira metade do Século XX: o Dr. António Tavares Lebre - o Sr. Major,
como gostava de ser tratado o Major Lebre.
No livro “Fragmentos de Vida – A Minha Terra”, em que lhe
dedicou o último capítulo, o autor descreveu sucintamente a sua
biografia e brincou um pouco, contando como ele era na velhice. Sabendo
bem quão importante fora a sua actuação profissional, tanto como oficial
do Exército, enquanto médico-veterinário da Arma de Cavalaria, como em
Angola, onde organizou os serviços de saúde veterinária, estava longe de
imaginar a extrema importância da sua acção também aqui na Freguesia.
Não como presidente da Junta; nessa altura era ainda muito novo – tinha
só 29 anos. Importante foi a acção que desenvolveu depois de vir de
Angola. Ao longo de décadas, esteve sempre na primeira linha de tudo,
apoiando a acção da Junta Militar e a de todas as que se lhe seguiram,
tomando a iniciativa em tudo o que iria contribuir para o progresso da
sua terra e aumento da qualidade de vida dos seus concidadãos,
coordenando a acção para atingir esses fins, fosse no progresso
material, fosse na instrução ou na cultura; era ele que estava sempre
disponível, doando os seus bens, dando o seu dinheiro, usando a sua
influência onde quer que pudesse ser útil, dando a sua presença e o seu
trabalho – numa palavra, dando-se ele próprio à sua terra e ao seu povo
como dificilmente se vê alguém fazer em tão alto grau!
O autor, que ainda conviveu com ele na sua velhice, deixa
aqui a mais profunda homenagem à sua memória!
Verdemilho, 4 de Outubro de 2008. |