David Paiva Martins, Aradas. Um olhar sobre a primeira metade do século XX (Da Junta de Parochia à Junta de Freguesia). 1ª ed., Aradas, Junta de Freguesia de Aradas, 2008, 268 pp.

Conclusão

Chegados aqui, parece a altura de o autor expressar algumas impressões que foram ganhando forma no seu espírito à medida que avançava neste trabalho.

 

Embora pareça evidente que, em termos de evolução e progresso, a segunda metade do Século XX, em Aradas, tenha sido mais importante que a primeira, esta é que (com a excepção referida no início) foi tema deste trabalho. Quem futuramente vier a debruçar-se sobre a segunda metade, não deixará certamente de pôr em evidência o papel específico de três figuras: Duarte da Rocha, padre Júlio da Rocha Rodrigues e Manuel Simões Madail.

Manuel Simões Madail, pelo que deu de dedicação a Aradas  e ao seu progresso, ao longo do quarto de século em que serviu como presidente da Junta de Freguesia e o que continua a dar após isso: o seu trabalho, a sua influência e verbas avultadíssimas para a construção de infra-estruturas sociais.

       Major Lebre (Dr. António Tavares Lebre)

 

O padre Júlio da Rocha Rodrigues,  pároco  de Aradas há mais de trinta anos, pela espantosa obra social que tem realizado e está ao serviço do povo.

 

 

Duarte da Rocha, pela sua actuação como presidente da Junta e toda a obra social que vem realizando, nomeadamente através do desporto, por intermédio do Futebol Clube do Bonsucesso.

 

 

 

Mas a primeira metade do Século também teve figuras significativas, cuja actuação importa relevar.

 

 

 

Uma primeira figura, que não pode deixar de ser posta em destaque, é António Lopes dos Santos, o presidente da chamada Junta Militar, cuja biografia e obra já foram evidenciadas neste trabalho, no local adequado. É opinião do autor que ele foi o mais notável presidente da Junta de Freguesia de Aradas na primeira metade do Século XX.

 

 

 

Outra figura a destacar, tanto pela negativa como pela positiva, é a do professor Manuel Estudante. Pela negativa porque, como ao longo do trabalho se denuncia, a sua actuação, parecendo norteada pela procura incessante do interesse próprio, chega a ser chocante. Pela positiva, porque há uma circunstância a seu favor que tem de ser relevada: a excelente qualidade das actas que deixou. Sendo fruto do trabalho dum homem de cultura superior à generalidade do meio envolvente, essas actas descrevem os acontecimentos com uma minúcia que, indo muitas vezes ao pormenor, nos permite ter hoje a visão de como era e funcionava a Freguesia de Aradas nesse tempo. Foi um serviço importante que legou à posteridade.

 

 

 

Foi justamente o detalhe das suas descrições que possibilitou ficar-se negativamente surpreendido com a actuação pública do padre Daniel Correia Rama, o Sr. Vigário. De todas as importantes cerimónias de âmbito civil que ocorreram durante o primeiro quarto de século do seu múnus paroquial, só marcou presença na sessão solene do dia 13 de Setembro de 1931 – certamente porque, entre os diversos melhoramentos que nesse acto foram inaugurados, se incluiu o relógio da torre da Igreja. O elevado estatuto social de Pároco implicaria que a sua presença fosse assinalada em todos os actos oficiais em que estivesse presente. Ora o facto é que nunca mais foi mencionada. Nem mesmo em actos tão significativos como a inauguração das novas Escolas de Verdemilho ou do Cais do Eirô. Custa a entender que se tenha “permitido” tais ausências. O que sugere especular-se que, aparentemente, no seu espírito, a questiúncula havida anos antes com o professor Ramos, então presidente da Junta, se sobrepôs ao “dever”, que a sua qualidade de Pároco “impunha”, de não se alhear de actos que, reconhecidamente,  eram do maior significado para o povo que lhe cabia pastorear.

 

 

 

E chegámos à mais importante figura da Freguesia de Aradas na primeira metade do Século XX: o Dr. António Tavares Lebre - o Sr. Major, como gostava de ser tratado o Major Lebre.

 

No livro “Fragmentos de Vida – A Minha Terra”, em que lhe dedicou o último capítulo, o autor descreveu sucintamente a sua biografia e brincou um pouco, contando como ele era na velhice. Sabendo bem quão importante fora a sua actuação profissional, tanto como oficial do Exército, enquanto médico-veterinário da Arma de Cavalaria, como em Angola, onde organizou os serviços de saúde veterinária, estava longe de imaginar a extrema importância da sua acção também aqui na Freguesia. Não como presidente da Junta; nessa altura era ainda muito novo – tinha só 29 anos. Importante foi a acção que desenvolveu depois de vir de Angola. Ao longo de décadas, esteve sempre na primeira linha de tudo, apoiando a acção da Junta Militar e a de todas as que se lhe seguiram, tomando a iniciativa em tudo o que iria contribuir para o progresso da sua terra e aumento da qualidade de vida dos seus concidadãos, coordenando a acção para atingir esses fins, fosse no progresso material, fosse na instrução ou na cultura; era ele que estava sempre disponível, doando os seus bens, dando o seu dinheiro, usando a sua influência onde quer que pudesse ser útil, dando a sua presença e o seu trabalho – numa palavra, dando-se ele próprio à sua terra e ao seu povo como dificilmente se vê alguém fazer em tão alto grau!

 

O autor, que ainda conviveu com ele na sua velhice, deixa aqui a mais profunda homenagem à sua memória!

 

Verdemilho, 4 de Outubro de 2008.

 

 
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